sábado, 16 de outubro de 2010

Hibakusha

"No momento do flash, senti como se faíscas invadissem os meus olhos. Num ápice, a casa desabou. O estrondo atirou-me para o fundo da cozinha, e perdi a consciência. (...) Acordei num abrigo contra bombas e a minha mãe estava a chamar, "Kazuco!" Olhei para ela e vi que a sua cara também estava queimada, o cabelo tinha ardido todo e estava nua. Parecia que o seu corpo estava assado. "Mãe!", respondi, mas sentia demasiado medo para me aproximar dela. (...) Então lembrei-me de que outro irmão meu tinha voltado à escola para buscar algo de que se tinha esquecido. Saí com outro dos meus irmãos para o procurar. O edifício estava em ruínas e tudo o que encontrámos foram caveiras brancas espalhadas. Nenhuns torsos. Nunca saberei o que aconteceu ao meu irmão. A minha mãe morreu no dia seguinte, dia dez. A sua cara estava tão queimada, tenho a certeza que morreu em grande sofrimento." -> Kazuko Nagase, de Nagasaki
(8 anos na altura)


«De repente, um clarão. Uma luz branca azulada que cegava. Por um instante, os carris, as carruagens, a plataforma, tudo desapareceu da minha vista. Depois a explosão. A pele da minha barriga parecia que se ia rasgar e cuspir os meus intestinos. Partículas cor de laranja avançavam lentamente. De repente, aumentaram e transformaram-se numa enorme massa de fogo que caía sobre nós. Colunas de chamas saíam da terra em remoinho soltando setas de luz de todas as cores. Beleza feroz e terror indizível! Comecei a sentir arrepios de frio por todo o corpo e a tremer. Virei-me e pensei: Tenho de fugir! (...) A 9 de Agosto, a minha irmã piorou muito. Suplicando numa voz sumida "Ajuda-me, mãe!", encontrou a morte. Não havia nada que a minha mãe pudesse fazer. A minha irmã tinha dezasseis anos. (...) Vazio de esperanças e sonhos, o meu coração não sentia mais senão ódio pelos EUA, por terem assassinado a minha irmã e os meus amigos. (...) Enquanto estiver cheio de amargura, nunca conhecerei a alegria. A amargura só alimenta ódio. Como seria a estender a mão aos EUA (...) e trabalhar pela paz? Seria a melhor coisa que eu podia fazer pelas vítimas da guerra."» -> Yasuhiko Takeda, Hiroxima
(12 anos na altura)


"... nesse dia a bomba roubou as preciosas vidas da minha família. (...) De repente, ouvimos uma explosão enorme e ficou tudo preto. O prédio estava todo a abanar. Não vi o clarão, atirei-me para debaixo da secretária. Quando a luz voltou, corri lá para fora à procura da minha irmã (...) Os nosso sapatos pegavam fogo. (...) Deparámo-nos com um eléctricopreto que tinha saído da linha. O condutor estava carbonizado. Os corpos pendurados nas janelas estavam queimados num dos lados e parcialmente no outro. Os ossos fora dos corpos. Os meus nervos estavam tão paralizados que nem sentia medo. à volta do rio aglomeravam-se pessosas nuas, tão gravemente queimadas que não se distinguia homem de mulher, criança de adulto. Choravam, gemiam. O rio estava entupido de corpos." -> Fujie Yamada, de Nagasaki
( 22 anos na altura)


"Agora percebo que o flash da bomba atómica me atingiu de um ângulo por cima da minha cabeça. Entrou pelos meus olhos fechados e foi direito ao meu cérebro. Eu estava a 1.6 km do hipocentro onde a temperatura atingiu mais de 1000º C. Contorci-me com dores, como se tivesse sido atirado para um fogo. No instante seguinte, a luz desapareceu. Tudo à minha volta ficou preto, e deixei de sentir dores. Suspeito que todas as camadas de pele estavam tão gravemente queimadas que até os nervos ficaram inactivos. Comecei a pensar que, queimado por uma luz misteriosa, estava a entrar no reino da morte. Na realidade, uma nuvem gigante em forma de cogumelo bloqueava a luz do sol e mergulhava o mundo na escuridão. (...) Fiquei confinado à cama durante muitos anos, com 10 operações pelo meio. Pensei no suicídio. 30 cm do meu intestino grosso foram removidos. Tenho uma anca e uma coza arteficiais. E sinto sempre muitas dores. (...) Eu queria desenhar máquinas. Mas esse sonho perdeu-se com a bomba atómica. As pessoas pensavam que a doença da bomba atómica era contagiosa, por isso havia sempre muita discriminação contra os sobreviventes. (...) O ponto de partida para a paz é um coração que consiga sentir a dor dos outros. Se as pessoas se colocassem na pele umas das outras, não existiria guerra nem terrorismo." -> Akio Sakita, de Nagasaki
(tinha 16 anos na altura)


Estes são ecos históricos, testemunhos em primeira mão, do horror e sofrimento que nenhum de nós excepto eles consegue começar a imaginar, do dia em que o inferno esteve na terra, em pleno Japão. Eles, entre muitos, são os hibakusha, sobreviventes da bomba atómica, guerreiros pacíficos cuja causa é um mundo do Homem em paz consigo mesmo. São os primeiros heróis da guerra atómica. Juntemo-nos a eles, recordando esse erro histórico e lutando para nunca o voltemos a cometer enquanto espécie.
Fez este ano 65 anos.
Depois disso, já sobrevivemos à Guerra Fria.
Agora vem a Era do Terrorismo e das novas Guerras (ditas) Sagradas.
O desafio continua. Não podemos esquecer o sofrimento, a destruição, que houve em tão curto espaço de tempo.
PAX!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Somente Um Será Homem Imortal

O termo "sushi", que nos dias correntes apenas é usado para designar este famoso prato japonês, quis em tempos antigos dizer, literalmente, "é azedo". Tradicionalmente, sushi é uma combinação de arroz e peixe fermentados, preservados com sal, mediante um processo oriundo do Sudoeste Asiático. Algo que atesta bem à sua origem histórica. Na verdade, o processo de fermentação é tal que quando se adiciona vinagre oriundo da fermentação de arroz, este desfaz o peixe em aminoácidos. O resultado directo deste processo chama-se umami. Existem 5 tipos de sushi e o sushi que comemos hoje em dia é muito diferente do sushi original. Para além disso, existem ainda diferenças entre o sushi oriental e o sushi ocidental.
A forma mais antiga de Sushi, chamada narezushi, é muito parecida com o umami. Foi no período Muromachi ( de 1336 a 1573, D.C.) que o vinagre começou a ser adicionado à mistura para melhorar o sabor e a preservação da comida. O vinagre acentuava a acidez do arroz e aumentava o seu "tempo de prateleira", diminuindo cada vez mais o tempo necessário de fermentação até esta ser abandonada por completo. No séculos seguintes, surgiu uma nova versão intitulada Oshi-zushi (pois foi inventada em Osaka). Nessa nova versãa, o arroz e os alimentos marítimos eram amalgamados por pressão entre moldes de madeira, em geral, bambu.

Pelo meio do século XVIII, esta forma de sushi chegou a Edo (antigo nome de Tóquio). A versão actual do sushi foi invenção de Hanaya Yohei, no final do período Edo. O próprio cozinheiro era de Edo, ou pelo menos lá inventou a sua forma do prato, e como tal o nome original desta forma de sushi ficou Edomae zushi (Edomae= baía de Edo). O nome deveu-se ao facto do peixe com que se confeccionava o prato na altura ser proveniente da baía de Edo. Esta nova forma de sushi foi na realidade uma forma de fastfood do seu tempo pois era feita sem uso de fermentação (logo rapidamente) e podia ser comida com as mãos à esquina ou num teatro!
Existem variadíssimos tipos de Sushi, cerca de 5 ou 6, não contando com a diferença entre a confecção no ocidente e no oriente.


Contudo, existem riscos a comer sushi. Qual risco? O de não se arrotar no fim da refeição e o nosso anfitrião achar-se ofendido, pensando-nos insatisfeito com a sua comida, sacar da Katana ancestral da sua família e dar-no uma morte mais honrosa que a que nós queriamos? ;D
O risco é na saúde física do consumidor. O atum, um dos ingredientes utilizados, devido a estar no topo da cadeia alimentar no seu habitat, tem altíssimas quantidades de mercúrio. Assim, o abuso do sushi pode levar a envenenamento por mercúrio. Sim, o mesmo metal dos termómetros. Cool, hã? LOL
Como o peixe vem cru, é também possível apanhar uma infecção bacterial, embora nos dias de hoje as estatísticas são contra tal ocorrência (cerca de 40 pessoas por ano nos USA).
Há ainda formas do sushi que utilizam peixes como o Fugu (http://en.wikipedia.org/wiki/Fugu) que tem no seu interior orgãos carregadinhos de veneno neuronal, pelo que tais pratos só devem ser confeccionados por chefes devidamente treinados e certificados no Japão.
Agora, meus caros samurais, se continuam sem medo e ainda não provaram, têm uma excelente oportunidade de o fazer no Museu do Oriente, diz 29 de Setembro.


P.S.: Se se estão a perguntar o porquê do título, não, não é porque os imortais do Clã Macleod usavam uma espada samurai que o escolhi... Olhem com atenção e lembrem-se enquanto o fazem do que fala este post! ;D Sayonara!

domingo, 5 de setembro de 2010

Mais Novas Quentinhas Direitinhas da Embaixada do Japão

O Regresso às Aulas é terrível e consome tempo. Isso e uma realojação forçada deste refugiado fictício em Lx, levou-me a não conseguir fazer todos os posts que queria no mês passado. E agora faço este, apenas na tentativa de veicular atempadamente certas iniciativas e novidades sobre as quais a embaixada do Japão em Portugal teve a bondade de me avisar! Aqui vão elas:

Taça Internacional Kiyoshi Kobayashi

A Federação Portuguesa de Judo organizará a “Taça Internacional Kiyoshi Kobayashi” no dia 17 de Outubro no Estádio Universitário de Lisboa.
URL: http://www.fpj.pt/
Mais informação : 213 913 630 (Federação Portuguesa de Judo)

Regresso da Nave Espacial “HAYABUSA”

A nave espacial HAYABUSA (Falcon) regressou à Terra no dia 13 de Junho de 2010, após uma viagem de 7 anos, tendo percorrido aproximadamente seis biliões de quilómetros, até chegar ao asteróide ITOKAWA. A HAYABUSA é a primeira nave espacial a pousar num corpo celestial, para além da Lua, tendo depois regressado à Terra.
Mais informação:
RECORDO TAMBÉM QUE OS CONCERTOS DE TAMBORES JAPONESES EM LISBOA ESTÃO A APROXIMAR-SE, SENDO NOS DIAS 10, 11 E 12 DE SETEMBRO. NÃO PERCAM, PORQUE NÓS TAMBÉM NÃO!!!!!


Bilhetes

Museu do Oriente - 5 Euros
Restantes locais – entrada livre, limitado aos lugares disponíveis

Locais, Datas e Horas:

Museu do Oriente – Auditório Av. Brasília, Doca de Alcântara (Norte) - Lisboa
Dia 10 de Setembro, às 21h30

Fundação Calouste Gulbenkian - Anfiteatro ao Ar Livre Av. de Berna, 45 - Lisboa
Dia 11 de Setembro, às 16h00

INATEL de Oeiras Est. Marginal, Stº Amaro de Oeiras
Dia 12 de Setembro, às 11h00

Parque Expo, Rossio dos Olivais, Lisboa
Dia 12 de Setembro, às 16h30

-> Para ver o calendário oficial das festividades de celebração do Tratado de Amizade Portugal/Japão:

Em breve, voltarei com novos posts e de novo dedicados à minha visão sobre a cultura e história nipónicas! Bem haja e até breve!

Alex, singning off...


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Via Embaixada do Japão



A pedido da embaixada do Japão, venho por este meio divulgar alguns dos eventos programados e relacionados com a cultura nipónica e festividades dos 150 anos de amizade entre Portugal e Japão.
Esperemos que esta seja a primeira de muitas parcerias deste género. Eles fornecem a informação e o N.I.N.J.A. Samurai veicula-a.


Visita do "Training Squadron of The Japanese Maritime Self-Defence Force" a Lisboa

O "Training Squadron of the Japanese Maritime Self Defense Force" estará de visita a Lisboa entre os dias 11 e 14 de Agosto de 2010. Esta força será composta por 3 navios (Kashima, Yamagiri, Sawayuki) com uma tripulação de cerca de 740 membros. Os navios atracarão no cais do Terminal de Passageiros de Santa Apolónia, em Lisboa pelas 9 horas do dia 11 de Agosto e haverá uma cerimónia de boas vindas. No dia 12 de Agosto entre as 10h00m e as 12h00m e entre as 14h00m e as 16h00m os navios Sawayuki e Yamagiri estarão abertos para visita do público.



Eventos pela C. M. de Oeiras subordinados à Cultura Japonesa


A Câmara Municipal de Oeiras organiza os eventos ”Atelier para crianças”. No ”Atelier para crianças”, que decorre do dia 2 de Junho ao dia 15 de Setembro (10:00~11:30), no Palácio Anjos em Oeiras, as crianças irão elaborar um diário de viagem pelo Japão e leques originais, através da pintura e colagem, depois de observarem as obras sobre o Japão de Graça Morais, ouvirem música japonesa e contos infantis japoneses, etc.. Para mais informações e inscrição, os interessados deverão contactar o número de telefone 214 111 400 (Palácio Anjos).
URL : http://www.cm-oeiras.pt/Paginas/cmo_homepage.aspx


Concerto de tambores japoneses

A Nippon Taiko Foundation apresentará um concerto de tambores japoneses do grupo “HIBIKI-ZA”, no Auditório do Museu do Oriente, no dia 10 de Setembro (21:30~), na Fundação Calouste Gulbenkian (Anfiteatro ao ar livre), no dia 11 de Setembro (16:00~), e no Parque das Nações (detalhes por definir), no dia 12 de Setembro. Para mais informações, contacte o Sector Cultural da Embaixada do Japão:
- 213 110 560 / cultural@embjapao.pt
URL : http://www.nippon-taiko.or.jp/ (Nippon Taiko Foundation)
URL : http://www.museudooriente.pt/1075/tachibana-taiko-hibikiza-%7C-tambores-japoneses.htm
URL : http://www.gulbenkian.pt/



Concerto de “Famirosa Harmony”


Realizar-se-á no Teatro Sá da Bandeira em Santarém, no dia 21 de Setembro (18:30~), e no Palácio Foz em Lisboa, no dia 6 de Outubro (18:30~), um concerto do grupo musical japonês “Famirosa Harmony”. Para qualquer informação, contacte o Sector Cultural da Embaixada do Japão:

213 110 560/ cultural@embjapao.pt
URL : http://www.remus.dti.ne.jp/~famirosa/portuguese.htm



Semana Cultural do Japão pela Fundação Passos Canavarro

Decorrerá em Santarém, do dia 21 ao dia 30 de Setembro, a “Semana Cultural do Japão”, com um ciclo de cinema japonês e outras actividades culturais, organizada pela Fundação Passos Canavarro. Estas iniciativas irão também decorrer em Torres Novas, Tomar e Abrantes (datas e locais por definir). Para qualquer esclarecimento adicional, contacte o Sector Cultural da Embaixada do Japão:

213 110 560 / cultural@embjapao.pt
URL: http://fpc-port.com/ (Fundação Passos Canavarro)


Exposição de Arte Contemporânea do Japão

Esta exposição contará com várias componentes da cultura contemporânea do Japão,como a caligrafia, pintura, escultura, entre outras. É organizada pela “World Art and Culture Exchange (WAC)” com o apoio do Museu do Oriente, do dia 1 ao dia 10 de Outubro. Para qualquer informação adicional, contacte o Sector Cultural da Embaixada do Japão:

213 110 560 / cultural@embjapao.pt
URL : http://www.museudooriente.pt/ (Museu do Oriente)
URL : http://www.wac-project.com/e-index.html (World Art and Culture exchange)



APROVEITO TAMBÉM PARA DIVULGAR:

‘Japan Echo Web’ – website de conteúdos sobre o Japão

No passado mês de Junho, foi lançada a revista online ‘Japan Echo Web’, edição digital da revista em formato papel ‘Japan Echo’. Esta plataforma digital pretende reunir um conjunto de ensaios, comentários, criticas, entrevistas por académicos japoneses, especialistas e líderes de opinião, nas mais variadas áreas: diplomacia, política, economia, sociedade e cultura.

URL: http://www.japanechoweb.jp/

Realização do 'Japanese Language Proficiency Test'


O 'Japanese Language Proficiency Test' será realizado pela “Japan Foundation” e “Japan Educational Exchanges and Services” no dia 5 de Dezembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Este exame realiza-se pela primeira vez em Portugal, coincidindo com o 150º Aniversário do Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre o Japão e Portugal. Para qualquer esclarecimento adicional, incluindo o modo de obtenção de requerimento, local de apresentação do mesmo etc., deverão os interessados consultar a informação através do site ou dos contactos abaixo indicados.

URL: http://www.jlpt-portugal.com/

Mais informação (1): jlpt.portugal@gmail.com

(Comité do Japanese Language Proficiency Test)

Mais informação (2): 213110560 - cultural@embjapao.pt

(Sector Cultural da Embaixada do Japão)

domingo, 1 de agosto de 2010

Pirâmides da Era Glaciar

Nesta entrada, trago-vos uma novidade que já não deveria ser novidade, mas que até para mim que adoro a misticidade das pirâmides e a mágica do Japão, foi só recentemente que fui inteirado de um complexo de pirâmides no chão oceânico no Japão.
Yonaguni é a mais ocidental ilha do Japão, sendo o cabo Irizaki o ponto mais ocidental do Japão. Podem ver acima o monumento simples mas bonito que marca esse mesmo facto no local.
Esta ilha tem uma espécie de cavalo indígena, que não existe em mais lado nenhum e cujo nome é o da ilha. Pertence ao arquipélago de Ryuku, no districto de Okinawa. E contudo, o que a torna especial não é nenhum destes factos, nem mesmo o de ser da zona do mundo de onde oriunda o mítico e muito fictício sensei Mr Miyagi, do Karate Kid, imortalizado pelo já falecido Pat Morita. O que torna a ilha de Yonaguni de inigualável é o facto de ter aos seus pés, no fundo do mar, um complexo de estruturas e pelo menos uma pirâmide, tal que muitos já defendem ser a desaparecida Atlântida ou até a cidade da Lemúria.

Foi em 1985 que um mergulhador profissional de seu nome Kiharo Aratake descobriu o misterioso complexo piramidal debaixo do mar. Desde 1999, quando o instituto Morien ( http://www.morien-institute.org/yonaguni.html ) criou páginas na internet para dar a conhecer ao mundo o relato, acompanhado de fotos, da expedição do dr Robert M. Schoch ao complexo, que lhes choveu uma série de perguntas de todo o mundo e a polémica ficou permanentemente instalada até aos dias de hoje.
Entre a maioria dos geólogos e arqueólogos ocidentais, o consenso é que o complexo foi criado por fenómenos geológicos naturais. Contudo, devido à inúmera existência de rampas, degraus gigantes, ângulos rectos, a descoberta de ferramentas antigas no local, de inscrições estranhas na rocha e escadas escadas na rocha, levam a crer que o local tenha sido criado por acção humana. Como tal, a relutância em colocar como possível que este complexo tenha sido feito por mãos humanas, leva o instituto Morien a suspeitar de que há um preconceito do ocidente porveniente do facto de que se for comprovado que este complexo foi criado por uma civilização até agora desconhecida, esta civilização terá existido cerca de 5000 mil anos antes da altura em que tipicamente se acredita no ocidente ter começado a civilização. Ainda mais, esta civilização teria conhecimentos que rivalizariam com os , babilónios, assírios, egípcios, maias, etc... mas milénios antes das obras destes.
Isto porque se acredita que o local ficou submerso no final da última época glaciar, aquando do degelo houve uma acentuada subida do nível do mar. Suspeita-se ainda mais que essa subida marítima, que se deu à cerca de 10 mil anos, originou todas as histórias de dilúvio espalhadas pelas mais antigas civilizações conhecidas da Antiguidade.


De resto, aqueles que querem que esta descoberta seja aceite como a prova definitiva da existência da Atlântida e/ou da Lemúria, chegaram mesmo a distorcer as palavras do dr Schoch dizendo que ele tinha afirmado que todo o complexo fora erguido por mãos humanas. Mas a visão do dr Schoch é, na minha opinião, mais sadia e plausível. Segundo o instituto Morien, o que ele terá dito foi que o mais natural é que o complexo tenha sido escavado e esculpido por mãos humanos mas num afloramento rochoso já existente. Exemplos desses são amplos em ruínas da Antiguidade deixadas por todo o mundo. O Homem sempre gostou de moldar o mundo em que vive.
Seja como for, as pesquisas e as polémicas continuam, ainda não tendo sido encontrada nenhuma prova conclusiva para nenhum dos lados.





domingo, 27 de junho de 2010

FW: Arrozais no Japão - ESPECTACULAR !!!

Há umas semanas recebi um email fabuloso, cujo o título dá nome a esta entrada, reencaminhado para mim por um amigo meu que sabe que eu sou vidrado na cultura japonesa. Este email surpreendeu-me mais uma vez com a maravilhosa veia artística que existe embrenhada no sangue do Japão. O seu povo é capaz de transformar qualquer aspecto da sua vida quotidiana numa obra artística de incrível calibre que eu cheguei a julgar inexistente nos nossos dias. Dedicam-se ao aperfeiçoamento de qualquer que seja a sua ventura e o sucesso do Japão no nosso mundo deve-se a essa dedicação e atenção ao detalhe. Observem então e maravilhem-se com a simplicidade da sua complexa entidade nacional.
















Este efeito é conseguido de forma completamente natural! Quero com isto dizer que as imagens que nos surgem não são produzidas através de tintas, mas sim aproveitando as diferentes cores da planta do arroz, através da engenuidade dos camponeses e agricultores japoneses.














As imagens abaixo comprovam também que os camponeses não só ainda recordam como honram os samurais, na sua arte, mesmo que estes vivessem esmifrando os da sua classe no passado. E até Napoleão teve direito a uma honraria da sua parte, o que comprova serem um povo culto e aberto ao mundo exterior.




Esta entrada é dedicada à arte e permanecerá sem capítulo do código do Samurai. Esse virá contudo num segundo post deste mesmo mês. Sem mais nada a acrescentar, até breve... mesmo!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Burakumin

A tradução literal da palavra que dá título a este post é "pessoas dos bairros pequenos". Contudo, a sua conotoção é muito mais profunda e discriminatória que tal tradução poderia levar a crer. Os Burakumin são uma das minorias sociais do Japão, cujo estigma social já advém da época do Japão feudal. São sobretudo descendentes de pessoas que tinham trabalhos considerados sujos ou impuros e que eram no passado chamados eta (massas porcas). Esses trabalhos incluem tudo o que fosse relacionado com a morte, como coveiros, talhantes, executores e por aí adiante. Este estigma ligado a estas profissões está intimamente ligado com a visão de Kegare( conspurcação) do Shinto. O Shinto diz que a divindade vem através da pureza e a falta de divindade surge da falta de pureza, e vai mais longe, dizendo que as impurezas se podem agarrar às pessoas ou às coisas tornando-as más. É dito que o estar continuamente a matar animais ou fazer qualquer maldade que vá contra o statu quo moral da sociedade torna a pessoa mais impura e que tais pessoas devem ser colocadas de parte pela própria sociedade afim de não a contagiar com a sua impureza.


Não se sabe ao certo quando começaram a surgir estas comunidades ostracizadas, sendo que algumas teorias dizem que pessoas que tivessem ocupações tida como impuras eram ostracizadas, enquanto outras teorias ditam que as pessoas ostracizadas eram forçadas a ter como ganha pão as profissões que ninguém queria. É também dito que, durante as guerras internas da Era Muromachi, certas populações foram forçosamente realojadas e colocadas a trabalhar em postos de baixa condição, como os serviços sanitários públicos. No período Edo, quando o sistema de castas sociais foi implementado, os eta foram colocados no nível mais baixo da sociedade, um nível externo às 4 castas oficiais. Mas como nas outras castas, os eta eram submetidos a leis que estavam de acordo com a herança dos seus antepassados directos. Viviam sobretudo em bairros segregados e as pessoas das castas superiores, desde o comerciante até ao samurai, procuravam distanciar-se deles. Os Burakumin eram também compostos por um outro subgrupo, os hinin(literalmente: não-humanos). A definição deste grupo varia com as épocas, mas essencialmente seriam ex-presidiários, errantes que assumiam postos de guardas de cidade, limpadores de rua, ou jograis de rua.


Mas esta discriminação e a segregação subsequente eram usados como ferramentas de controlo pelo governo da época. Por exemplo, os burakumin tinham normalmente os seus próprios templos designados e não podiam entrar noutros locais religiosos. E enquanto aos japoneses budistas das 4 castas eram, muitas vezes, dados nomes póstumos, aos burakumin eram dado nomes que incluiam kanji(caracteres japoneses) que querem dizer besta, humilde, ignóbil, servente e outras expressões depreciativas. Estas pessoas, nos tempos feudais, não tinham de pagar impostos, pois os impostos eram pagos em dádivas de arroz, que os burakumin eram proibidos de ter. Devido a isto, alguns ostracizados eram chamados kawaramono (pessoas do rio de leito seco), pois viviam ao pé de rios que não suportavam a cultura do arroz. O mais interessante é que, por terem o monopólio na sua área comercial, alguns burakumin chegaram a fazer grandes fortunas e, através de casamento, ou de direitos especiais concedidos por templos ou pela corte imperial, chegaram à casta dos samurai.


Com o fim da Era Feudal, o imperador Meiji emitiu um édito, chamado Kaihôrei (o édito da emancipação) que dava direitos iguais aos eta. Contudo, as mentalidades são de mudança lenta e o próprio povo continuou a descriminar esta minoria. A continuação do ostracismo e o piorar das condições de vida, levaram a que as áreas ocupadas pelos ostracizados se tornassem em bairros de lata. No início do século XX, o movimento de direitos sociais dos burakumin foi criado e pode dividir-se em duas vertentes ou ramos. O movimento da assimilação (dowa) que se centra na melhoria das condições de vida destas pessoas, e os "niveladores", que confrontam alegados discriminadores. No período Pós-2ª Guerra Mundial, a discriminação continuou desta feita com a impossibilidade de obter certos serviços nas áreas dos buraku. Continuam a ter problemas de analfebetismo, pobreza, más condições de habitação e por aí adiante. Entretanto, cerca de 60% dos membros da Yakuza (mafia japonesa), são originários de buraku! É normal na História do Mundo, os ostracizados virarem foras-da-lei! Para aqueles que gostam de Dr House, há um episódio que revi há pouco tempo em que o House explica porque se decidiu tornar médico. Quando era novo, o seu pai, militar de carreira, estava colocado no Japão. Quando o House teve de levar um amigo dele ao hospital, porque caiu numa das suas brincadeiras, cruzou-se com um empregado de limpeza que por todos era ignorado e desprezado. Mais tarde, House viu médicos a falarem com ele, pois não conseguiam perceber o que um dos seus doentes tinha. Esse empregado de limpeza era um burakumin, mas também era médico. Não podia exercer a sua profissão devido ao estigma social, mas quando precisavam das suas capacidades acima da média tinham de se "rebaixar" a falar com ele, "porque ele estava sempre certo" como diz o House. Foi assim que o Dr House se tornou no médico que quer estar sempre certo, porque assim mesmo que não gostem dele, precisam dele e não o podem pôr de lado!


A minha interpretação do código do Samurai - Capítulo 3

Diz-nos o código que o bushido tem 2 tipos de leis, sendo que cada um dos tipos está dividido em 2 secções.

Os dois tipos de leis são as ordinárias e as extraordinárias.

Uma das secções das leis ordinárias trata o cavalheirismo: manda o samurai tratar da sua higiene pessoal com assiduidade, ordenando que devem lavar mãos e pés, tomar banho de manhã e à noite, cuidar do cabelo todos os dias e manter a parte superior da testa bem rapada. Devem observar a etiqueta de cada situação, vestindo as vestes adequadas para a ocasião, assim como se fazer sempre acompanhar das duas espadas à cintura e dum leque, no cinto. Sendo o samurai o anfitrião, deve ser cortês com os convidados, de acordo com a sua categoria, evitando conversa desnecessárias. A etiqueta e os modos devem estar presentes mesmo ao partilhar uma refeição ou tomar chá. Nos tempos livres, em que está fora de serviço, o samurai não pode ficar ocioso, devendo sim procurar a cultura e o saber histórico, através da leitura e da escrita, de forma a cultivar o seu espírito. Em tudo o que faz na sua vida, o samurai deve comportar-se segundo a disciplina e maneiras próprias de um samurai.

A outra secção das leis ordinárias trata a arte marcial: esta secção refere as várias artes de guerra que fazem parte da arte militar e diz que o samurai deve treiná-las todas com afinco e entusiasmo afim de alcançar a mestria em cada uma delas.

O código diz então que, aos olhos da maioria das pessoas, desde que as leis ordinárias sejam respeitadas e cumpridas será o suficiente para se ser um bom guerreiro. Contudo, o samurai é um guerreiro que deve ser mais que simplesmente "bom". Ele serve exactamente para agir em situações extraordinárias e de emergência. Nessas alturas, o samurai deve abandonar os trajes cerimoniais e vestir armadura e envergar armas, em defesa do seu senhor. São diversos os métodos de organização de uma campanha militar e esses métodos são de conhecimento essencial. Tal como estes métodos de preparação de campanha, é essencial também ao samurai saber orientar o seu exército em batalha, frente ao inimigo. Um samurai de baixa ordem pode contentar-se em cumprir a lei ordinária, mas para ascender a posições de primeira, o samurai é obrigado a ter profundo conhecimento da lei extraordinária!

Basicamente, o que o código indica é a diferença entre um líder e um seguidor. Mesmo nos dias de hoje, os líderes são aqueles que procuram conhecimentos mais profundos afim de agir e dar rumo à sociedade, enquanto que a maioria tem apenas um conhecimento básico das normas gerais da sociedade afim de viver a sua vida dentro da lei vigente. O ideal é um país de samurais de 1ª... de pensadores livres, conscientes do seu dever cívico, mas também dos seus direitos. Enquanto a maioria de nós se contentar em saber apenas o mínimo necessário, a crise social e económica que se abate sobre o nosso país e mundo, embora possa ser remendada ou ocultada, nunca deixará de existir, e qual um cancro em falsa remissão, ressurgirá para nos destruir. Acordem, leiam e pesquisem. Pensem por vocês mesmos, e aprendam a ler as entrelinhas do que é dito nos jornais e telejornais. Sejam samurais dos século XXI.

domingo, 18 de abril de 2010

"Aqueles que servem" - Parte II

Os dias do Samurai parecem, verdadeiramente, ter perecido.
As armas de fogo inevitavelmente tornaram as armas brancas obsoletas, tal como os canhões tornaram as fortalezas uma coisa do passado. E contudo, cada vez mais os exércitos mais avançados do mundo retornam ao passado, equipando os seus soldados com facalhões multiusos, elmos e coletes de kevlar, joelheiras, caneleiras, etc… e treinando os seus soldados nas mais variadas formas de artes marciais, enquanto criam bunkers debaixo da terra ou abrigados no interior de montanhas! Será que os guerreiros do futuro não serão mais parecidos com os samurais que com os soldados que sobre eles descarregaram cartuchos de metralhadora?
Durante a Segunda Guerra Mundial, a figura do Samurai foi usada pelo Governo Imperial para revitalizar o nacionalismo japonês, orientando-o numa via marcial e de vida ao serviço do Imperador e como tal do Império. Os soldados americanos, durante a Segunda Grande Guerra (2ªGG), temeram os ataques banzai dos soldados japoneses, durante os quais estes últimos carregavam ferozmente brandindo a sua katana violentamente contra os primeiros, como se acreditassem possuir capacidades místicas. Tal medo levou a que a seguir à 2ªGG, os americanos impusessem uma proibição contra a posse e fabrico de espadas samurai. Também confiscaram e destruíram cerca de 5 milhões destas espadas e quase que conseguiram fazer desaparecer a arte antiga do forjar destas lâminas. Mas os japoneses conseguiram esconder muitas katanas em boas condições e em 1953 foi levantada a proibição destas armas. Os artesãos fizeram renascer a sua arte, sendo impulsionados pelos bolsos de coleccionadores ricos. Ainda hoje, nos subúrbios de Tóquio, pode-se ouvir o martelar dos Katanakaji, criando estas lâminas supremas segundo os preceitos tradicionais da sua arte.
É também certo que os herdeiros dos samurais ocupavam, já em 1970, 21% dos cargos dirigentes do Japão.
Os teatros kabuki são potenciados pelas histórias épicas dos samurais desde o século XVII e há ainda reconstituições de grandes batalhas da época dos samurais. Para além disso, as artes marciais dos samurais ainda hoje são praticadas com afinco no Japão, mesmo em tempo de paz.

Um bom exemplo destas artes marciais é o Kendo, uma luta de espadas que é praticada utilizando espadas de bambu e protecções corporais.
Contudo, o samurai é o protector do seu senhor e sem guerra torna-se num instrumento sem utilidade… ou será que não? Como nos ensina a Teoria da Evolução, os que sobrevivem são os que se adaptam. Foi esse o caminho dos samurais. Os seus preceitos de estratégia, honra, respeito e etiqueta foram adaptados aos tempos modernos. Alguns tornaram-se polícias e militares, até mesmo bombeiros (pode-se ver à direita um capacete de bombeiro japonês, que se assemelha a um elmo samurai)
. Outros dirigentes de grandes empresas e políticos ao serviço do seu país. Como é bem vinculado no filme “Rising Sun”, “buisiness is war!”. E se os negócios são guerra então são da província do samurai.
Mas para muitos o tempo dos samurais já lá vai e ainda bem. Com a adopção do pacifismo no pós Segunda Grande Guerra, o mero uso da palavra samurai pode causar mal-estar entre japoneses. Para esses japoneses, o samurai é um símbolo de morte e guerra e preferem assim usar a outra palavra para guerreiro que é bushi.
Ainda assim, por muito que os japoneses possam não querer, o samurai (seja a figura em si seja a ideia mitológica da figura, ou mesmo as ideias cinematográficas da mesma) ainda vive no colectivo cultural do Japão e na minha opinião é provavelmente a sua imagem de marca, tendo sempre talvez um ou dois ninjas na sua sombra. Essa imagem foi criada pelo cinema, pelas mangas e consequentes animes que foram criadas e exportadas do Japão para o Mundo, na segunda metade do século XX. O samurai influenciou até a Guerra das Estrelas, onde os que mantêm a paz usam quimonos e têm como arma predilecta uma espada, onde o Darth Vader é uma armadura de samurai futuresca, um samurai ao serviço dum imperador.

Desta forma, e considerando também os escritos e poemas dos samurais que sobreviveram e ainda hoje são estudados e lidos, acho que podemos seguramente dizer que, embora a sua época tenha passado, os samurais ainda andam por aí muito embora possam usar canetas em vez de espadas!


A minha interpretação do código de Samurai – Capítulo 2

A visão do código sobre o Dever Filial do samurai é bastante fria e calculista, e, como tal, é essencialmente perfeita do ponto de vista lógico. Diz então o código que o samurai deve ter conhecimento do que é correcto em todos os assuntos ou situações, pois tal é exigido no bushido. Alguém que descuide dos seus deveres de filho é alguém que não reconhece que deve a sua existência aos seus pais ou de que é carne da carne dos seus pais, logo não tem uma boa consciência da relação causa/efeito, e como tal não terá capacidade de discernir o que é correcto ou não. Como tal, tal pessoa dificilmente poderá ser alguma vez considerada um samurai.
Segundo o código, há duas situações a considerar:

-1ª- os pais são carinhosos e responsáveis para com os seus filhos, providenciando-lhes todas as oportunidades que podem aos seus filhos, ministrando-lhes uma correcta educação, sem deixar que nada lhes falte e, quando falecerem, deixarem aos filhos tudo o que possuíam em vida. Quando tal acontece é fácil para o filho cuidar dos pais quando estes precisam e tal não é extraordinário nem digno de elogio. É apenas o cumprimento do seu dever filial, pois afinal se quando uma pessoa não da família nos ajuda com verdadeira amizade e em boa-fé, sentimo-nos dispostos a proceder amavelmente e fazemos coisas por ela mesmo que sejam contrárias aos nossos interesses, como é possível não termos a mesma atitude pelo nosso próprio sangue?
-2ª- Mas quando os pais são ausentes e mesquinhos, velhos irresponsáveis assim tornados pela idade e pela perda do tino, quando passam os restantes anos da sua vida a reclamar a propriedade do lar ou a fazer chantagem emocional ou quando querem sempre mais para eles sem olhar ao estado económico da família, e que dizem ainda mal da sua família às pessoas que encontram na rua, até mesmo esses pais devem ser respeitados e bem tratados. Deve-se moldar o seu mau comportamento, amainar as dores da sua senilidade e mesmo sentir tristeza por estas os afligirem, sem nunca dar-lhes conhecimento de contrariedade da nossa parte. Dar o máximo por pais assim é possuir verdadeira piedade filial.

É aqui que entra a minha visão das coisas, pois na minha opinião há mais duas situações! Uma delas é o meio-termo entre as duas situações anteriores, que aconteceu e acontece entre os meus pais e os meus avós. Nesse aspecto, devo dizer, creio que os meus pais (daquilo que eu pude presenciar e testemunhar) são autênticos samurais, tanto no que diz respeito ao dever filial como enquanto pais.
A outra e última situação são os pais tirânicos. Sejam eles demasiado ausentes ou autoritários, violentos ou pedófilos, pais desses na minha opinião não merecem quaisquer considerações filiais, pois também eles não cumpriram com os seus deveres paternais. Tais casos estão omitidos do código e achei que este meu parecer do código poderia ficar mais completo. É certo que há situações e situações, pode haver pais autoritários ou ausentes que anos mais tarde vejam o erro das suas acções e procurem fazer emendas. Acho que aí cabe aos filhos julgá-los e decidirem se merecem ou não essa 2ª oportunidade, embora o povo diga que “toda a gente merece uma segunda oportunidade”.

O código diz ainda que um senhor só pode confiar numa pessoa que seja leal para com a família, pois quem assim não for é provável que abandone o serviço do seu senhor assim que sobre este se abata maus tempos, de pobreza ou fraqueza. Poderá até trai-lo para um inimigo num momento de grande necessidade! Ao invés disso, alguém que é leal para com os seus, terá um perfeito entendimento do que é a lealdade e lutará pelo seu senhor até na mais negra das horas… talvez, especialmente, na mais negra das horas. Um ditado popular japonês é citado no código e citá-lo-ei igualmente:
“Procura vassalo leal entre as pessoas filiais!”

segunda-feira, 29 de março de 2010

"Aqueles que servem" - Parte I

Das brumas da História surge-nos o Samurai, que literalmente significa "aquele que serve".





O primeiro registo histórico dos samurais aparece no século X. No seu início, não passavam de guarda-costas, treinados e equipados por senhores ricos, a quem deviam a sua lealdade. Eram mercenários, recrutados de entre as classes nobres de baixa categoria, nas fileiras das quais não faltavam jovens saudáveis e bem alimentados e cheios de ambição.








O próprio imperador fez-se rodear de tais guardas imperiais, quando a Corte fracassou em recrutar um exército de entre as massas dos camponeses e pequenos proprietários de terra. E os nobres seguiram-lhe o exemplo. Contudo, o próprio imperador do país do Sol nascente, foi eclipsado pelo crescente poder e multiplicação de clãs de samurais. Não demorou muito tempo até dois clãs surgirem com mais poder que os restantes, que se aliavam a um ou outro lado. A guerra civil acabou por se dar, com o Imperador já impotente para a impedir. Nessa guerra civil foi forjada a realidade do Japão Medieval, quando os samurais subiram definitivamente ao poder, chefiados pela figura que então surgiu, o Xogum.


Foi em 1185 que Yorimoto, líder do clã Minamoto, vencedor da guerra civil supra-mencionada, consolidou o seu poder e fez da aldeia piscatória de Kamakura a nova capital do Japão, tornando-se no primeiro Xogum (pintura retrato à direita). Muitos historiadores assumem que foi deveras a partir desse momento que a Era do Samurai começou.








O Xogum era o chefe militar supremo e governou o Japão enquanto ditador, embora o seu poder estivesse constantemente a ser minado pelas guerras, intrigas e quezílias entre os restantes clãs de samurai. Foi durante o Xogunato que a classe guerreira, que englobava apenas 6% de toda a população japonesa da época, se tornou dominante, prosperando num sistema feudal. Os samurais davam a sua lealdade a um lorde ou senhor, ao qual protegiam e auxiliavam a aumentar o seu poder e território. Os samurais eram, em retorno, recompensados com mais honras, riquezas e poder para si mesmos.



Quando as guerras dos clãs eclodiram, os samurais não encaravam os seus oponentes como inimigos malignos e odiados, mas sim como adversários respeitados. Havia entre eles um código, muito sui generis, próximo do cavalheirismo romanesco. Assim, para encontrarem um adversário à altura, os samurais cavalgavam até à linha da frente, declaravam a sua linhagem e os feitos da mesma. Terminada a bravata, os arqueiros disparavam e depois o cavaleiro carregava sobre as linhas inimigas.


Quando o samurai encontrava a vergonha e desonra da derrota (e a esta sobrevivia), procedia ao ritual do seppuku, no qual se esventrava a si mesmo. Para um samurai a desonra é muito pior que a morte. Por ser um ritual deveras doloroso, os samurais começaram a permitir que no seppuku, embora o guerreiro tivesse de se auto-esventrar, podia ter o auxílio de um outro samurai, que lhe cortaria a cabeça após a auto-mutilação, poupando-o ao agonizante sofrimento.
















Uma das maneiras que os samurais tinham para crescer em glória e favor junto do seu senhor, era oferendar a este último as cabeças dos inimigos dele. A recompensa por tal prenda podia ser na forma de uma promoção a um posto hierárquico mais alto, uma maquia em ouro ou prata, ou mesmo as terras e fortaleza dos inimigos conquistados.



Originalmente, a arma predilecta do samurai era o arco. Mas a ferocidade, glória e pura adrenalina do combato corpo a corpo, do duelo mano a mano, elevou a espada ao pedestal de instrumento de morte preferido. Este novo encontrado favoritismo pela espada surgiu em paralelo com a subida ao poder de um novo Xogunato, sob o governo do clã Ashikaga. Existem então vários tipos de espadas de samurai, sendo as mais usadas a katana, a wakizashi e as kodashi. A Katana é uma espada longa, com 60 cm ou mais de lâmina, enquanto as Wakizashi (quer dizer "inserção lateral") eram espadas mais curtas que as Kodachi [(Ko = pequena, tachi = espada), que eram por sua vez mais pequenas que a Katana, nunca passando dos 59 cm], mais conceptualizadas para o uso dentro de casa. A maior diferença entre as kodachi e as wakizashi é a filosofia da sua concepção. As kodachi são feitas para usar independentemente de outras armas, enquanto que as wakizashi são feitas de forma a se adaptarem ao peso do seu utilizador e para complementarem o uso da katana. Contudo, por ser mais longa que uma wakizashi e menor que uma katana, a kodachi é tido como mais rápida que uma katana, embora propocione ataques mais fracos, sendo apelidada de "espada escudo". As kodachi por serem menores que as katanas, podiam ser usadas por comerciantes, no período Edo. Ao conjunto da Katana e Wakizashi, chama-se Daishô. Muitos peritos actuais dizem que a espada de samurai é a espada perfeita. Os artesãos que fabricam estas lâminas espectaculares, que praticamente toda a gente do mundo ocidental reconhece de vista, são denominados em japonês de Katanakaji, que quer dizer "fabricante de espadas longas".
Na figura abaixo pode ver-se um conjunto que mostra os três tipos de espada.



As batalhas deixaram de se travar apenas em campos abertos, para se batalharem cada vez mais em regiões montanhosas onde os grandes senhores erguiam as suas fortalezas. À medida que os exércitos dos samurais cresciam em número, o cavalheirismo no campo de batalha e toda a bravata inicial foi progressivamente esmorecendo até desaparecer, ao mesmo tempo que o número de guerreiros apeados superava o de cavaleiros.



Mas o samurai era mais que um guerreiro. Os daimyo(ou "grandes nomes") recebiam nas suas fortalezas pensadores e filósofos, actores e pintores, enfim artistas e intelectuais de todos os géneros. Praticavam afincadamente a caligrafia o tocar do alaúde e faziam arranjos florais. Escreveram muitos poemas dedicados à exaltação e observação das flores de cerejeira, em cuja vida curta se reviam. Como a flor da cerejeira abandona a árvore no apogeu da sua beleza, assim também o samurai sonhava com uma morte gloriosa no campo de batalha, na plenitude das suas forças, enfrentando hipóteses esmagadoramente negativas. Os samurais dedicavam-se ainda a dominar a arte da cerimónia do chá. Foram monges budistas zen que transmitiram aos senhores Ashikaga rituais a seguir para tomar o chá. O clã do Xogum começou então a usar esses rituais de forma generalizada. O oitavo Xogum Ashikaga criou um ritual para tomar chá mais simples e espiritual. Era tomado numa pequena divisão onde cabia apenas um punhado de pessoas. Talvez tenha sido o ambiente de reflexão e tranquilidade que a confecção e beberagem do chá num ambiente pequeno, onde as espadas eram proíbidas, que tenha cativado os samurais. Era uma cerimónia espiritual que os samurais adoptaram para se libertar das tensões acumuladas das suas vidas intensas. Serviam-se desse ritual para relaxar, meditar e aproveitar o momento presente.


Foi também durante o governo do clã Ashikaga, entre o início do século XIV ao final do século XVI, que as guerras entre os clãs atingiram o seu apogeu, movidas pela ganância e pelo desejo e ambição de governar o Japão. Mas nessa altura deixou de haver um modelo de governo central, enquanto cerca de vinte clãs se digladiavam pelo controlo do reino, durante um período de 100 anos a que os japoneses chamam Sengoku Jidai, ou Era do País em Guerra. Nesta época, o teatro de operações marciais alterou-se significativamente. Os exércitos começaram a comportar milhares de samurais, muitas vezes reforçados por fileiras de ashigaru(pés descalços) armados de arcabuzes e recrutadas à força de entre os camponeses. Estas armas de fogo foram introduzidas no Japão por mercadores portugueses (mea culpa;) e em 30 anos os japoneses tinham os exércitos com maior número de armas de fogo no mundo. A imagem à direita ilustra esse facto histórico. Durante estas guerras de inter-clãs, sempre que morria um grande senhor, os seus samurais conheciam a vergonha, perdiam o grau de samurai e a honra. A partir daí tinham duas escolhas: fazer seppuku ou enfrentar a vergonha tornando-se num ronin (homens das ondas), basicamente samurais sem senhor. Alguns ronin chegaram mesmo a percorrer as ruas de cara ocultada por máscaras e tocando flauta, pedindo esmolas de porta em porta. Contudo, 47 ronin ficaram para sempre imortalizados na história do Japão quando conseguiram penetrar na fortaleza do senhor rival que ordenara a morte do seu daimyo, vingaram essa morte e depois recorreram ao seppuku, recuperando a sua honra. Até tiveram direito a ser imortalizados pela sétima arte: http://www.imdb.com/title/tt0055850/



Em 1616, com o início da dinastia de Xoguns Tokugawa, a guerra civil terminou. O governo de Tokugawa, sediado na cidade de Edo, implementou uma estrutura social estratificada em quatro classes, sendo a dos samurais a mais alta na hierárquia. O comportamento das pessoas dessa época ficou assim determinado pela classe à qual pertenciam. Foi através desta engenharia social que os Tokugawa mantiveram a paz.



A classe mais alta a seguir à dos samurais era a dos camponeses, que basicamente compravam a sua importância com 60 % das suas colheitas, impostos que pagavam aos senhores feudais. De seguida, estavam os artesãos, que faziam as roupas, as armas e o sake que os samurais usavam e consumiam, respectivamente. Na classe mais baixa, e menosprezada pelos samurais, surgiam os comerciantes.


Nesta altura de paz, os samurais pouco tinham que fazer. Recebiam uma pensão anual em arroz, medida em koku( http://pt.wikipedia.org/wiki/Koku ), que era o seu pagamento para levarem uma vida honesta, manterem-se saudáveis e aptos de corpo e mente, as suas lâminas afiadas prontas a saltarem em defesa do Xogum se tal fosse necessário. O que se esperava dessa vida dita honesta era que se mantivessem afastados de formas de entretenimento geradas por mercadores e como tal tidas como decadentes: entre estas encontravam-se as danças de gueixas e as peças de teatro kabuki. Mas o que é certo é que durante a paz, os samurais de mais baixa categoria começaram a frequentar bordéis e as casas de chá de Quioto e Edo, o que foi visto pelos intelectuais da época como um comportamento decadente tanto do ponto de vista económico como do moral.


Embora fosse fácil manter as espadas afiadas, durante a paz as capacidades físicas e psicológicas definhavam e, alarmados com a possibilidade dos samurais se tornarem fracos, alguns mestres conceberam códigos de comportamento e ética que ao serem seguidos manteriam os samurais tão afiados como as suas armas. No período Edo, o ensino das artes marciais foi difundido através do bushido (a via do guerreiro), tradição que ainda hoje impregna a sociedade japonesa. Em 1716, um samurai de clã Saga, de seu nome Yamamoto Tsunemoto, publicou o Hagakure, que renovava o bushido e realçava a mentalidade marcial que definhava na paz da era Tokugawa. Disse então esse samurai que "Se formos confrontados com as duas alternativas, viver ou morrer, devemos escolher a morte sem vacilar."

Mas mesmo com estas tentativas de revitalização, o crepúsculo dos samurais aproximava-se inevitavelmente e chegou, como o mais inesperado dos ataques, de surpresa. À medida que o custo de vida aumentou no Japão, os samurais foram ultrapassados em riqueza e poder pela classe que mais desprezavam, a dos comerciantes. O seu desprezo ancestral para com esta classe social parece quase profético. Subitamente, a sua pensão anual de arroz, na maioria das vezes convertida em dinheiro, foi desvalorizando regularmente. as famílias de daimyo ficaram falidas, pois os ganhos da venda de arroz não se comparavam já aos lucros duma loja de quimonos. Assim, os samurais foram forçados a tornar-se instrutores de artes marciais, polícias e contabilistas, mesmo artesãos (faziam guarda-chuvas, gaiolas ou mobílias) para terem os suplementos monetários que necessitavam.



Mas o golpe final aos samurais veio por uma conjugação de acções externas em combinação com uma mudança de rumo e de poder e reestruturação social no Japão. Quando os navios negros (em japonês Kurofune) do comodoro americano Matthew Perry chegaram ao Japão, ficou clara a inabilidade do Xogum de defender o Japão duma invasão estrangeira. Essa revelação foi reiterada pela rápida adesão a pactos com os estrangeiros por parte do ditador militar japonês. Um conjunto de samurais descontentes e ainda poderosos, juntamente com anti-estrangeiros e inimigos dos Tokugawa, uniram-se sob o estandarte do há muito hibernado imperador. Esta força revoltosa foi apoiada por mercadores influentes e camponeses descontentes com a inactividade do regime vigente de então. No final da década de 1860, estas forças unidas removeram o Xogum do poder, restituindo o comando do Japão ao Imperador, de seu nome Meiji, que formou um governo constituido por muitos samurais de educação superior.
A imagem abaixo ilustra a chegada dos navios negros ao Japão:


Mas a verdade é que o Imperador saiu melhor que a encomenda aos samurais que o apoiaram neste derradeiro golpe de estado, pois ao invés de restabelecer um regime conservador devolvendo o esplendor e poder aos samurais, este aboliu o sistema de classes, dissolveu os sistemas feudais e proíbiu o uso de espada por parte de samurais. Os samurais que apoiaram o Imperador acharam-se traídos e houve inúmeras revoltas, mas os modernamente equipados exércitos do governo Meiji conseguiram abafar todas estas derradeiras tentativas dos samurais para retomar o seu estatuto perdido. Na última batalha, samurais envergando as tradicionais armaduras e armados de arcos e espada, liderados por Saigo Takamori, carregaram sobre o exército imperial, acabando por perecer sob o poder de fogo de metralhadoras.


Assim terminou a Era do Samurai, mas o misticismo da sua via nunca deixou de influenciar os costumes da sociedade japonesa e o imaginário do mundo inteiro até mesmo no século XXI.




A minha interpretação do código do Samurai - Capítulo I




Neste capítulo, falarei no que diz respeito ao que o código do samurai exige da educação e formação de um samurai.


O código diz que uma vez que o samurai pertence à classe superior a cujo encargo está a administração, então o samurai deve ter uma boa educação e um alargado saber sobre tudo o que o rodeia. Mas, nos tempos da guerra civil, os samurais iam para o campo de batalha com a idade de 15 ou 16 anos, sendo que forçosamente começavam a exercitar a sua perícia militar pelos 12 ou 13 anos. Assim, faltando-lhes o tempo para praticarem a caligrafia ou lerem livros, os samurais dessa época dedicavam-se por inteiro ao estudo da guerra e à via do guerreiro, pondo de parte a educação cultural, sendo na sua maioria analfabetos. O código diz que tal é compreensível pois não se devia nem à falta de empenho dos pais na educação das novas gerações nem na falta de inclinação para os estudos, mas sim devido à necessidade de então.


Contudo, a partir do momento em que há paz, os conhecimentos marciais não precisam de preceder aos restantes saberes, nem precisam de ser fomentados desde tão tenra idade, pelo que é esperado que a partir dos 7 ou 8 anos os samurais comecem a ler. O código do samurai manda ler os Quatro Livros, os Cinco Clássicos e os Sete Textos (essencialmente tratados de filosofia budista e confucionista). Contudo, e mais uma vez trazendo este código aos dias de hoje, é uma boa ideia que as crianças comecem a ler cedo, mesmo que leiam livros de banda-desenhada. Eu li bd até aos dezasseis anos e só quando descobri a ficção científica mais pesada é que deixei os meus Astérix, Mickeys, Tio Patinhas, X-Men e Batman, entre outros para começar a ler Tolkien, Ray Bradbury, Salman Rushdie, A E Van Vogt, Filipe Faria, Humberto Eco, etc... Toda e qualquer leitura que nos ensine algo, que nos permita viajar por fantasias ou realidades que não a nossa e que por meio dessa viagem estimulem a nossa imaginção e creatividade, a nossa capacidade de sonhar e mesmo de pensar estrategicamente, que nos ensine novos pontos de vista, torna-nos (como diriam os Jedi de Lucas) parte de "um mundo muito maior". A fim de uma pessoa ser um cidadão em toda a plenitude da palavra é preciso estar inteirado do maior número de pontos de vista diferentes afim de poder então formar o seu próprio ponto de vista e poder ajudar construtivamente a sociedade na qual está inserido. A cultura é maior arma de todos os tempos, "saber..." será sempre "... poder." Para podermos votar em consciência, não nos podemos deixar levar pela conversa deste ou daquele político, deste ou daquele comentador, deste ou daquele telejornal, devemos procurar toda a informação disponível, ouvi-los a todos e depois pensar estrategicamente e para tal temos de aprender a pensar por nós próprios. Não há nada que este mundo precise mais que pensadores independentes e livres e esses são criados na forja da cultura, através da leitura e da busca pelo saber. Na altura dos samurais, estes precisavam de ter cultura pois eram governantes... hoje em dia, todos somos governantes... esse é o significado da democracia, o poder está no povo. Mas como qualquer poder, se o povo não tem a maturidade ou a cultura suficiente para tomar as suas próprias decisões sozinho, então haverá sempre os que controlarão a multidão com "panus et circus" como diria um romano.


É dito também que não se pode culpar as crianças pela falta de cultura ou de amor a esta. A responsabilidade de suscitar esse interesse pela cultura reside nos pais. Há um samurai em cada um de nós, enquanto cidadãos todos temos o dever, assim como o direito, de escolhermos o rumo do nosso país. Até mesmo o poder de melhorar aquele pedacinho do mundo em que vivemos. Mas para tal, é preciso cultura e erradicar a ignorância ou as falsas sabedorias. Pensem, leiam, aprendam, questionem, ensinem as vossas mentes a funcionar de forma independente do que o que a maioria diz. Quando todos o fizermos e tivermos uma sociedade de pessoas que pensam de forma livre e independente, por si mesmas, ao invés duma multidão apática então... teremos um país de samurais onde não serviremos senhores feudais (ou os políticos que a nossa apatia colectiva engorda), apenas nos serviremos uns aos outros, enquanto iguais em direitos e deveres.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Prólogo

Caros leitores,

o objectivo deste blog é comemorar o 150º aniversário do Pacto de Paz, Amizade e Comércio, estabelecido entre Portugal e o Japão. É precisamente em 2010 que este aniversário se verifica e daí o blog surgir agora.
Tentarei assim, de uma forma bastante humilde, aproximar os dois povos pela única via que me está aberta, a da cultura! Assim, as entradas deste blog serão temáticas, dando a conhecer aos leitores, que eu presumo venham a ser maioritariamente portugueses, vários aspectos da cultura e história nipónicas. Farei também várias comparações entre aspectos de cultura japonesa com a nossa e dessa forma procurarei evidenciar as semelhanças entre os nossos povos, no seu melhor e no seu pior, assim como as diferenças. Posso desde já oferecer um vislumbre do que se seguirá. Falarei de futuro sobre artes marciais japonesas e portuguesas (sim, também existem!!!), compararei o cavaleiro medieval português com o samurai japonês, falarei da nossa chegada ao Japão e de como fomos os principais causadores do fim da era dos samurais, introduzindo naquele país as armas de fogo. Falarei ainda de filmes relacionados com o Japão ou mesmo japoneses, séries de anime que gostei e que sugiro, da posição dos dois países na 2ª guerra mundial, etc...
Além disso, no final de cada entrada, deixarei uma parte do Código do Samurai. Reparem que por razões cínicas do mundo em que vivemos, não poderei transcrever literalmente o código do samurai. Tentarei então transmiti-lo por palavras minhas, tentando ser fiel às ideias lá retratadas, mas sem dúvida impregnando-o da minha própria perspectiva. Dessa forma, e também de forma humilde, procurarei trazer o código do samurai à luz do século XXI e numa perspectiva portuguesa. Isto acho que é útil uma vez que aquele manuscrito centenário tem princípios básicos que podem facilmente ser aplicados à vida quotidiana ou profissional, tornando o seu seguidor uma pessoa mais ética, mais feliz e mais em paz consigo mesma.

Quanto ao título deste meu blog... Usei palavras que fossem sobejamente conhecidas pelos ocidentais apaixonados pela cultura nipónica e, sejamos francos, quem das pessoas da minha geração e mais velhas não ouviu já falar de ninjas ou de samurais? Contudo, o título não é assim tão supérfluo, e tem em si um significado um pouco mais profundo. Comecemos pelo N.I.N.J.A.:
- a palavra ninja no ocidente alude a uns quantos clãs japoneses que viviam em contracultura no Japão medieval. Não seguiam nenhum senhor feudal, eram peritos em variadíssimas artes de morte e subterfúgio as quais vendiam a quem lhes pagasse mais ou usavam de acordo com os seus próprios desígnios. No Japão, chamam-lhes Shinobi. A maneira como matavam, através da camuflagem, do disfarce, do silêncio, da sabedoria sobre os pontos vitais do corpo humano e o uso de hipnotismo e ilusão, fez com que nas lendas da época fossem dotados de artes e poderes mágicos. Admiro-os pelo seu gosto pela liberdade, pela sua resolução em não dobrarem joelho a nenhum senhor feudal e pelos saberes que mantinham. É minha veia lusitana a ressurgir. ;D Mas o ninja que dá título a este blog é um ninja ocidental e é uma sigla. Esta sigla é um triste testemunho da época de instabilidade económica e pobreza que assola este nosso mundo. Esta sigla é usada na gíria bancária: No Incomes, No Job or Accepts. Quando pensei neste blog, não tinha emprego e era um NINJA. Usei este nome também para que fique bem patente a época em que este blog surgiu;
(não tá má, embora esteja em português brasileiro: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ninja )
- agora ataquemos o Samurai. Como nos ensina o filme "O Último Samurai", a palavra samurai quer dizer "servir" e não "guerreiro". Pois muito bem, este blog procura servir o povo português, oferecendo-lhe uma janela para dentro da cultura japonesa e desta forma reforçar os laços entre dois povos que têm tanto de semelhante como de diferente, e que tem muito mais a ganhar em cooperar activamente um com o outro do que em deixar enfraquecer os laços centenários que os unem, à medida que as areias do tempo se esvaem inevitavelmente.

Não me resta mais nada para dizer por hora, excepto deixar então o prólogo da Minha Interpretação do Código do Samurai, uma vez que este é o prólogo deste meu/nosso blog.
Deixo também a sugestão, para quem gosta de exposições de arte, sigam este link:
http://www.japao-portugal150.com/





A Minha Intrepretação do Código do Samurai - Prólogo



A primeira, e talvez mais importante, noção do código do samurai é o dever do guerreiro de manter sempre presente a ideia da morte eminente em todos os aspectos da sua vida quotidiana e profissional. Assim, o guerreiro terá consciência de que a morte poderá surgir-lhe a qualquer momento e como tal viverá ao máximo todos os segundos da sua vida. Em possíveis discussões, o homem que aceita que poderá morrer no momento seguinte, mede bem as suas palavras antes de as proferir, a fim de ter a certeza de não dizer algo que se arrependa de seguida. Pois se o fizer e a morte vier, morrerá em falta para com quem estava a discutir. Morrerá com arrependimentos e não terá uma morte honrosa. Seguindo esta ideia, o guerreiro dirá o que precisa de dizer aos que estima e aos que odeia, sem medos, porque a morte estará eminente e aquela poderá ser a última oportunidade que terá para dizer o que tem a dizer. Não deixará passar boas oportunidades, pois saberá que a morte está “ao virar da esquina”. Portanto, este primeiro e mais importante princípio, estando presente, obriga o guerreiro a viver como se todos os momentos da sua vida fossem o seu último momento, aproveitando-os ao máximo, medindo cada acção para viver sem arrependimentos e conservar a sua honra e aqueles que lhes são queridos bem cuidados e felizes. Este “carpe diem” oriental, este “chupar o tutano da vida” japonês, pode e deve ser aplicado a qualquer tipo de vida. Não precisamos de ser guerreiros para vivermos ao máximo e sem arrependimentos. Há que pensar antes de agir, a fim de evitar a desonra e os erros.
Por outro lado, mas com uma lógica fria e correctíssima (na minha opinião), o código do samurai explica ainda que, o guerreiro que tem sempre presente a ideia da morte eminente cuida da sua saúde e como tal procura ser moderado na alimentação, na bebida e na folia. Usufrui destas por certo, mas em dose q.b., e não como forma ou estilo de vida.
A ideia da morte permite ao guerreiro assim duas coisas. A ideia de que a morte é inevitável e eminente faz com que o guerreiro proceda da forma mais correcta possível, evitando assim erros e remorsos ao longo da vida, permitindo-lhe também actuar durante a sua vida sem medo da morte, pois estará de bem consigo mesmo e viverá sem arrependimentos. Por outro lado, a ideia de que a morte pode surgir a qualquer momento leva-o a viver cada segundo da sua vida como se do último se tratasse, não desperdiçando tempo, gozando todos os pequenos e grandes prazeres da vida, quando as oportunidades surgem e em quantidades apropriadas. Sem esta noção, o samurai é fraco, não gozará de uma longa vida nem de uma vida honrosa.
É dessa forma que se pode viver “a vida em cada fôlego, morte a cada instante”, como é dito no “O Último Samurai”. Há então que manter a consciência no momento presente, com a morte a pairar sempre sobre a cabeça (como ela está na realidade), para não fazermos algo de que nos possamos arrepender ou para impedir que nos venhamos a arrepender de não ter feito algo quando tal oportunidade surgiu.