sábado, 14 de setembro de 2013

Constitucionalize-se a Paz, Legislem-se Armas, Poetize-se a Guerra

Embora a imagem acima seja alusiva ao tópico principal desta entrada, começo com alguns breves à partes não relacionados.
Primeiro quero prestar homenagem àquele que é reconhecido como o “pai” do Judo (a que ele gostava de chamar “o caminho suave”) Português, o Sensei Kiyoshi Kobayashi, que morreu no Japão, esta passada quinta-feira, com 88 anos dos quais viveu em Portugal mais de 50. Eu que sou praticante de artes marciais, embora de Judo tenha tido muito poucas aulas e não passaram de mais que de uma mera introdução, respeito grandemente qualquer artista, mas sei de experiência pessoal as dificuldades das Artes Marciais e também a realidade vasta do seu universo, sendo que tenho enorme estima por quem delas faz a sua obra e vida. É com prazer que honro alguém que tanto fez pelas artes marciais e pelo desporto portugueses. Que o diga Carlos Lopes! OSS, Sensei!
Quero igualmente estender a minha solidariedade e empatia para com as vítimas de ainda mais um sismo de grande magnitude, novamente no Norte do Japão. Ainda não tiveram tempo de recuperar das feridas do mega sismo de Março de 2011 (link aqui) e já sofrem um outro terramoto (notícia aqui), não tão mau, mas potente. Felizmente não veio acompanhado de um maremoto. O que vale é o espírito nipónico do “Never say die” perante a fúria dos elementos. Força, Japão.
Sobre os Jogos Olímpicos, quero congratular o Japão por ter sido o país escolhido para a próxima edição do evento. E não é sem um gostinho de vingança, pois Espanha tem andado armada em parva ultimamente, connosco sobre as Selvagens e com os Ingleses por Gibraltar, para além de um país à beira dum resgate estar a hipotecar-se mais para fazer um mega evento ser estúpido, na melhor das hipóteses. Não havia outra escolha, face ao colosso económico que é o Japão e às convulsões sociais na Espanha e na Turquia.
Mas não foi a Espanha que começou a polémica sobre estes Jogos Olímpicos. Um jornal francês editou dois cartoons que ligam a tragédia de Fukushima aos Jogos Olímpicos e o Governo Japonês já reagiu demonstrando-se compreensivelmente zangado e ofendido. Vi uma notícia estrangeira sobre isso que não mostrava os cartoons e a mesma notícia mas no Público também não o fazia. Tal como quando da crise dos Cartoons Dinamarqueses que levaram a ameaças dos Jidahistas contra a Dinamarca e mesmo à destruição das suas embaixadas, os jornais ocidentais (numa completa falta de solidariedade para com o direito da liberdade de expressão dinamarquesa) também não se atreveram a publicar os cartoons. Assim, toda a minha gente vendia jornais a falar de Cartoons que ninguém vira  fora da Dinamarca. As situações são bem distintas. Nem se está a criticar a Jihad e o Profeta Maomé, nem os Japoneses são zelotas religiosos (haja Deus, suspira este ateu). Ainda mais, eu acho os cartoons descabidos e de fraca inteligência, pois brincam com mutações provenientes de radiações (tendo em conta que é o único país que já foi bombardeado com armas atómicas e ainda hoje estão a sofrer com isso os sobreviventes em Fukushima) por exemplo não é algo a que ache proveito ou a necessidade de caricaturar. Depois, numa altura em que o artigo 9 da Constituição Japonesa está “sobre fogo” e que o maior vaso de guerra japonês está a meter a China de nervos em franja, os Jogos Olímpicos naquela zona só podem ser bom sinal, se nos lembrarmos da sua ancestral história. Os Jogos Olímpicos eram consagrados em nome dos Deuses do Olimpo e durante os jogos haviam TRÉGUAS entre todas as cidades estado da Grécia Antiga. TRÉGUAS!! É essa a grande mais valia desses jogos, é esse espírito que deve, tem de ser honrado e recuperado. E que melhor altura e lugar que o Japão, neste momento.

Não quero desrespeitar aquela que considero justa indignação dos Japoneses, mas por acreditar no que Voltaire disse, sinto uma obrigação moral e de respeito para com a Liberdade de Expressão, fazendo o que os Media não estão dispostos a fazer por medo de ofender nem que isso defenda a liberdade que lhes permite o seu ganha-pão, publicando aqui os ditos cartoons. Eu acredito firmemente que a liberdade de expressão tem de incluir a liberdade de ofender, embora entenda que quem ofende tem de estar pronto para as consequências. Às vezes, e todos nós se não formos hipócritas o sabemos, basta dizer a verdade para ofender alguém.
Senão como poderão vocês, leitores, ter a vossa própria opinião sobre eles? Numa Era da Imagem como a que vivemos, como é concebível falarmos de uma polémica de imagens como polémicas e não as mostrarmos? É ridículo e triste não termos aprendido com o que aconteceu com a Dinamarca (disto voltarei a falar quando falar aqui dos Media e da Liberdade de Expressão e quanto ambos estão condicionados pelos interesses económicos e quanto isto diminui e perverte o seu papel social).
第九条 日本国民は、正義と秩序を基調とする国際平和を誠実に希求し、国権の発動たる戦争と、武力による威嚇又は武力の行使は、国際紛争を解決する手段としては、永久にこれを放棄する。
二 前項の目的を達するため、陸海空軍その他の戦力は、これを保持しない。国の交戦権は、これを認めない。
Confiando na Wikipédia, acima está escrito (em Kanji) o artigo 9 da Constituição do Japão. Esse artigo declara:

“ARTIGO 9: Aspirando sinceramente a uma paz mundial baseada na Justiça e na Ordem, o Povo Japonês para sempre renuncia à Guerra como um direito soberano da nação ou o uso da força como meio para resolver qualquer disputa internacional. (2) Para atingir o objectivo do parágrafo precedente, forças terrestres, marítimas ou aéreas, bem quaisquer meios beligerantes jamais serão mantidas.”, in Wikipedia. Traduzido directamente do inglês.

Entremos agora no tópico que dá mote ao título. Este artigo constitucional, tal como o Godzilla (link aqui), é criação conceptual directamente consequente dos terrores da Segunda Guerra Mundial. O povo japonês, num esforço para evitar cair no erro que então cometeu, desenvolveu este artigo constitucional. Intelectualmente, é um acto de louvar pela sua evolução civilizacional: consagrar uma proibição à guerra, renunciar o direito soberano à guerra, de forma constitucional. Mas na prática, no mundo em que vivemos, nos dias de hoje, por mais belo e moralmente avançado que seja, torna-se um acto mais simbólico do que prático ou pragmático.
Na prática, o Japão tem forças militares. Não lhes chamam forças armadas, mas antes Forças de Auto-Defesa Japonesas. Portanto, desengane-se quem pense que o Japão está à mão de semear, senão provavelmente já a China teria tomado as ilhas Senkaku no ano passado. Os Japoneses, ou pelo menos os que escreveram a sua Constituição, sabem aquela dura verdade que levou os Pais da Revolução Americana a consagrar na sua Constituição a emenda que garante o direito à posse de armas a todos os cidadãos:

Contudo, o artigo 9 da Constituição Japonesa tem o seu mérito real. Impede pela sua própria vontade o povo Japonês de, declarar guerra a outras nações em qualquer caso. Impede-os de construir armas nucleares (tendo o mérito de impedir a proliferação de armas de destruição em massa), de possuir porta-aviões, ou de ter mísseis intercontinentais, para dar alguns exemplos práticos. Na minha opinião, é um passo enorme para a evolução futura das relações internacionais. Isto é, se mudarmos a tónica do pensamento militar, se em vez de declararmos guerra só nos defendermos de alguém que nos declare guerra, estaremos mais seguros de estarmos nós a fazer o que está certo. Pelo menos, no que diz respeito às disputas entre nações. Esta é, e sempre será, a minha posição face às artes marciais: servem apenas para autodefesa e só são para ser usadas depois de esgotadas todas as outras possíveis soluções. O verdadeiro praticante de artes marciais não pratica para andar a criar problemas ou a provocar violência, mas antes para seu auto-melhoramento e para estar preparado caso não lhe dêem outra hipótese que não a escolha entre ser violentado e se defender pelo uso da violência.
Quando me preparava para escrever, pensei que há, no entanto, sérios problemas com a sua aplicação. Até porque decorre de qualquer estratega de nível básico, que a melhor defesa é um potente ataque. Eu considero-me não um pessimista (patente na minha e única instável, mas não cega, fé na Humanidade), não um optimista (preparo-me sempre para o pior, na melhor das minhas possibilidades), mas um realista e sei que há guerras que têm de ser lutadas. Até no pacifismo é perigoso ser um fanático e/ou zelota.
Exemplo fácil, a própria Segunda Guerra Mundial. Mas se analisarmos seriamente essa guerra, vemos que os “bons” (como dizem os putos), isto é aqueles que agiram em mera auto-preservação, como reacção à agressão nua, e não com sonhos megalómanos de conquista mundial, não declaram guerra até serem para isso provocados. Até os Estados Unidos da América só se declaram pelos Aliados depois de Pearl Harbour. Portugal, pelas mãos de Salazar, assumiu a única posição que podia para não ser obliterado, pois as suas forças militares eram fracas e tinha acabado de sair de uma crise económica estando ainda a sofrer os rigores da sua austeridade, e foi oficialmente neutro. Não-oficialmente, Portugal esteve envolvido. Em segredo, Salazar mantinha relações de conluio com os nossos mais antigos aliados, os Ingleses. Quando Churchill disse a Salazar para parar com os envios de volfrâmio que ele vendia aos nazis, este assim fez. Via Aristides Sousa Mendes, honrado por Israel com o título “amigo dos Justos”, salvámos muitos judeus de serem mortos, e mesmo Salazar e o seu Estado Novo permitia aos judeus que cá chegassem que embarcassem de cá para a segurança dos EUA. Além disso, Portugal passou fome enquanto em segredo alimentava as tropas aliadas. No Pacífico, e na única instância histórica em que Portugal e Japão abriram hostilidades, a então colónia portuguesa de Timor-Leste foi forçada a repelir a invasão japonesa. E conseguiu-o com sucesso. Acho que é importante relembrar isto, a bem da manutenção da História, especialmente no ano em que celebramos 470 anos de Amizade com o Japão. Mas lá está, nessa instância, nós só guerreamos em auto-defesa.


Saindo um pouco da guerra convencional, e já vão perceber porque o faço, a guerra contra o álcool (despoletada pelos agora membros do Tea Party, nos anos 20, na Lei Seca americana) só pôde ser vencida com a legalização das bebidas alcoólicas. É que as ruas já andavam ensopadas com sangue de gangsters, polícias e inocentes. Hoje em dia, luta-se a guerra contra as drogas e parece que nada se aprendeu com essa primeira experiência. Também essa só se irá ganhar com a legalização, retirando o mercado aos barões da droga, elevando-se os impostos como por exemplo fazemos ao tabaco procurando minimizar consumos, aumentando a informação disponível sobre o produto, fazendo campanhas de sensibilização nas escolas mas de forma certa e institucional e finalmente, disponibilizando sempre a possibilidade para os que já nela estão enredados saírem dessa armadilha. Será pela educação, inclusão, regulamentação e despenalização que diminuiremos este flagelo social. No final, irá sempre haver (COMO HÁ), quem se drogue para relaxamento, quem se drogue por vício, quem não se drogue. As pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com o seu corpo e não pode ser o governo a decidir impedi-las da sua estupidez, sob risco de cairmos num estado orwelliano em que o Big Brother nos protege de nós mesmos e não há liberdade. Mas digresso… também estas guerras têm de ser travadas, e a sua vitória está no melhoramento da educação, essencialmente. Formar melhores cidadãos que hajam em consciência e que saibam que, mesmo que se queiram drogar, será menos mau fumar um charro a meterem LSD, mas que de preferência o melhor será simplesmente dizer NÃO. Mas falei de guerras não-convencionais para chegar aquela que marca a actualidade: a chamada Guerra ao Terror.
Aqui a porca torce o rabo. É tão inevitável como enfrentar o Hitler. Estamos a falar de pessoas que, potenciadas pela falta de escolhas de vida e muitas vezes falta de instrução educacional, são doutrinadas numa religião, “esse ópio do sofredor” citando correctamente Marx, que glorifica e de facto apresenta como caminho para o paraíso na morte a guerra santa. Pessoas essas que, enlouquecidas pelos ditames de livros que se tiveram valor já estão hoje em dia descontextualizados e ultrapassados, são instrumentalizadas por outras vontades, estas muitas vezes bem alimentadas e com ensinos superiores, mas na mesma fanáticas e/ou simplesmente maléficas. Nunca sei se os que puxam cordelinhos, tipo Bin Laden, Saddam e Homeini, acreditam mesmo no que pregam ou só desejam o poder. Mas há o revés dessas moedas, desse vil metal, como por exemplo o hipotético analista da CIA que sabia dos pilotos de aviação árabes “naquela escola do Midwest”, e que calmamente deixou desenrolar-se o11 de Setembro e garantiu a sua reforma em Wall Street. Esta guerra está a decorrer e já não é uma questão de esta nação contra aquela, mas sim como no caso da WWII (sigla inglesa), uma profunda discórdia ideológica. Por exemplo, as teocracias islâmicas, a que Hitchens designou “fascismo com face islâmica”, são ditaduras não só do corpo mas também da mente. Dito e feito, os fundamentalistas que a elas se entregam, seguem ideologia messiânicas nas quais eles são os verdadeiros servos de uma divindade inventada, à qual se submetem totalmente como seu escravos, e que os recompensará por isso no Fim dos Tempos, se eles até lá matarem, converterem ou subjugarem e humilharem todos os restantes. Os direitos de homossexuais, das mulheres e de todos os que não comunguem das suas ideias não lhes assiste. É uma guerra da civilização contra a barbárie. Uns poucos de fanáticos, face a biliões de inocentes que apenas querem viver a sua vida descansados.
No decorrer desta guerra, cujo nome é de si estúpido (pois guerra já de si é o terror), aconteceu a Segunda Guerra do Iraque. Todos nós sabemos que a sua motivação não foi apenas a libertação do Iraque do seu sanguinário e louco ditador, mas também o desejo dos americanos de controlarem o petróleo naquela zona. Eu sei disso, e se me perguntarem se eu preferia que tivessem sido outros que não os americanos a combatê-la ou a dirigir essa guerra, eu digo-vos logo: “Claro que preferia!”. Mas estamos a falar duma situação insustentável, dum ditador que combinava o que pior havia de Hitler e de Estaline, dum país que era vigiado diariamente pelas Nações Unidas (NU) para evitar que este voltasse a atacar os curdos (a maior etnia anteriormente sem estado que existe no mundo) que quase exterminara com armas químicas ou que atacasse os seus vizinhos e irmãos de fé no Irão, que já antes tentara invadir, enquanto que as próprias NU via sanções económicas mantinham na miséria todo o povo iraquiano enquanto o seu ditador megalomaníaco vivia na opulência dos seus palácios e os seus ainda mais psicóticos filhos coleccionavam carros de luxo como se fossem o CR7. Conhecidos terroristas da Al Qaeda e afins gozavam da sua protecção, tendo até alguns passaportes com imunidade diplomática consagrada pelo Iraque [com os quais várias vezes escaparam à detenção por autoridades doutros paízes] e que vinham listados nas listas telefónicas iraquianas sem qualquer medo e com o seu nome. Portanto, falamos de um país sob ditadura teocrática, que já tinha utilizado armas de destruição massiva, já tinha invadido o território de vizinhos, já tinha tentado promover o genocídio de uma etnia e dava guarida a conhecidos terroristas internacionais. Segundo Hitchens (link aqui), e confesso que não sei de onde ele obtém esta informação embora me pareça aceitável como ideia, o Iraque de Saddam já preenchera as 4 condições para perder a sua soberania. Algo tinha de ser feito. As NU deviam ter ajudado os curdos seculares, guerrilheiros socialistas e comunistas, a derrubar o regime de Saddam. Mas a sua inacção manteve-se. Os EUA e o Reino Unido, movidos pelos seus próprios interesses (leia-se petróleo), agiram. O Saddam foi condenado à morte pelo seu próprio povo numa farsa de tribunal quando devia ter sido julgado por crimes contra a Humanidade, um completo e louco programa iraquiano de ocultação de armas foi descoberto e foram desenterrados das areias do deserto tudo desde aviões a centrifugadoras para o enriquecimento de urânio (a que os americanos foram levados por um cientista iraquiano empregado pelo Saddam), foi descoberta uma ligação de venda de armas nucleares que ligava Saddam à Coreia de Norte que se lhe preparava para vender armas nucleares, eleições livres foram institucionalizadas no Iraque e os curdos formaram uma sua região autónoma e secular. É claro que há parte dessa região autónoma, o Iraque via eleições está entregue aos partidos de Deus na mesma, e cravejado de terrorismo nas suas ruas e cidades, mas não foi tudo em vão e a democracia é tão benéfica quanto a maioria dos seus cidadãos o conseguem ser. Mas parafraseando Jefferson, eu prefiro uma democracia perigosa a uma ditadura passiva ou benigna.
A guerra do Iraque foi declarada unilateralmente pela auto-intitulada Coligação do Voluntários, EUA e Grã-Bretanha, mas tal não precisava de ter sido. Podíamos apenas ter feito uma acção de libertação, com umas Nações Unidas mesmo Unidas, ajudando a revolução que já estava a ser levada a cabo pelo exército de libertação curdo. Exactamente como aconteceu quando Portugal e outros ajudaram a libertar Timor Lorosae das garras dos islamofascistas de Jacarta. Nós, levados por um sentimento de culpa por termos abandonado essa ex-colónia ao seu destino após a Revolução dos Cravos, deixando-a à mercê duma Indonésia teocrática, e os Australianos por exemplo porque queriam o seu petróleo e ficaram mui magoados quando Timor optou por se tornar país de língua oficial portuguesa ao invés de língua inglesa. Se quiserem um cheirinho do que foi essa guerra, em forma romanceada, sugiro o mui excelso “A Ilha das Trevas”, de José Rodrigues dos Santos. E não, não acho que nós tenhamos lá ido pelo petróleo. Porquê? Porque são os australianos que estão a ganhar disso e não nós. Talvez a GALP lá tenha um dedinho, confesso que não sei.
De qualquer forma, o problema repete-se agora na Síria. Estamos à beira de gerarmos outro “Iraque II”. Se não conseguem imaginar o filme, ei-lo: os EUA entram, desta vez completamente sozinhos, sem tropas no terreno, bombardeando com drones e outros meios, gerando sem dúvidas danos colaterais (= mortes de inocentes não combatentes). Se armarem mais os rebeldes, que são da mesma ideologia do Irmandade Islâmica e da Al Qaeda, estão potencialmente a criar mais Bin Ladens. O próprio Barack Obama disse que não podíamos correr o risco de que o arsenal químico do Assad ficasse nas mãos deles. Mas pior, entre os refugiados e os que não se conseguirem refugiar e perderem familiares numa guerra que não entendem, lembrar-se-ão das bombas e dir-lhes-ão sem recorrer à mentira que vieram da América. Serão fáceis alvos dos recrutas das organizações islâmicas de terrorismo. Motivados por desejo de vingança, fortificado pela crença no Alá que lhes venderem, serão mártires jihadistas. Se a via diplomática falhar, é isto que teremos. Mas algo tem de ser feito, dirão alguns! Concordo.
O que devia ser feito, caso a diplomacia falhe, seria uma força multinacional da ONU, no terreno e mais que bem equipada para a guerra química, a segurar as pontas de ambos os lados e a restaurar a paz no país. Depois remover-se o ditador, ir-se a eleições e sair. Dir-me-ão, depois segue-se o “Egipto II” ou um “Irão II”… aí já será problema deles. O papel da ONU deve ser apenas proteger os inocentes, procurar parar guerras ou genocídios, e assegurar a democracia. Nada mais.

Até porque, para mim, a guerra contra o fundamentalismo islâmico no geral só pode ser ganha de dentro do próprio Islão e quem terá a melhor hipótese de o fazer são as mulheres islâmicas. Porquê? Bem, se se conseguir que elas recebam uma boa educação, de preferência (sonho eu) secular, elas poderão melhor formar os seus filhos e assim impedi-los que eles caiam nas garras do fundamentalismo religioso. Nenhuma mãe digna desse nome deseja a morte do filho, mesmo por Alá. Já o policiamento internacional imperialista por parte dos americanos ajuda os sacerdotes islamitas a convencer os seus peões de que a guerra santa é também justa e contra a opressão capitalista norte-americana. O que se quer é que o Islão se torne todo moderado, como já foi no auge da sua civilização, quando inventaram a Álgebra e avançaram a Óptica.
Por exemplo, Christopher Hitchens falava muito de no Irão ter havido, produto da insanidade da guerra que Saddam moveu a este país, um “baby boomerang”! A expressão de baby boom significa uma nova geração que tenha inovado em alguma coisa face às anteriores. O baby boomerang do Hitch significava que, quando o Saddam atacou o Irão, eliminou muitos dos jovens iranianos. Isto levou a que os teocratas locais dissessem às mulheres do Irão que voltassem a restabelecer as fileiras iranianas, um “crescei e multiplicai-vos” of sorts. Agora, o Irão tem uma população rejuvenescida mas, tendo crescido na ditadura teocrática e num país sem pais ou avôs, é muito crítica do regime actual o que poderá levar a sua remoção. Do Irão, já se ouviu que não desejam que o que está a acontecer na Síria lhes aconteça a eles, que preferem fazer a sua própria revolução mas de forma pacífica. Ainda bem para eles. Só espero que o façam antes dos seus líderes loucos chegarem à Bomba! Portanto, uma das suas políticas de natalidade poderá destruir o próprio regime totalitário iraniano que a criou, daí baby boomerang, eles atiraram-no mas ele deu meia volta e acertou-lhes em cheio. Insh’Allah! Mais uma vez, a solução é a educação pois reside nos ombros dos jovens.
Uma ironia do destino fez com que na guerra contra o Saddam Hussein, tal como na guerra do Hitler, forças capitalistas e marxistas convergissem. Interessante, não é?
Voltando à questão das armas e da Constituição Norte-Americana, bem vistas as coisas, a sua 2ª Emenda tem menos consequências benéficas práticas ou verificadas que o artigo 9 dos Japoneses. Esta é a emenda que consagra o direito à posse de armas a um cidadão norte-americano. Originalmente, a emenda foi feita para impedir que um povo temesse o seu governo, que na opinião dos Pais Fundadores era o que constituía a ditadura. Eu até comungo desse sentimento, o povo não pode temer o seu Estado, muito menos o seu Governo. Pois bem, quando é que essa emenda serviu nesse sentido em termos práticos? Terá sido durante a Lei Seca, durante o McChartismo dos anos ’50 do século passado, durante a Guerra do Vietname, durante a Luta dos Direitos Humanos, durante o vigor do Acto Patriota que já era para ter sido revisto e contínua incólume? Não, nunca foi usado desde que os ingleses foram corridos. E o mais engraçado é que as sondagens dos próprios americanos mostram que 80% dos constituintes desejam mais controlo nas armas e mesmo assim a recém criada proposta BIPARTIDÁRIA (dos dois partidos do poder) para tal efeito foi recusada no senado americano. Liberdade democrática? Humm… não me parece que a posse de armas a assegure. Já o Japão neste departamento, que é um país tão democrático como os EUA ou Portugal (o que digamos quer dizer que não é verdadeiramente democrático, apenas oligárquico, mas essa discussão fica para outro dia), é um país sem armas. Diz o artigo que uso como fonte [aqui linkado] que no Japão, o país com menos armas em mãos privadas do Mundo e provavelmente o que tem mais restrições na obtenção legal de armas de fogo, teve resultados excelentes no que diz respeito a mortes por armas de fogo. Em 2008, o Japão teve um total de 11 homicídios por arma de fogo, enquanto que os EUA tiveram 25 mil. Mas isto é um ano mau para o Japão, pois em 2006, teve um total de duas (2) mortes por arma de fogo e quando em 2007 o número subiu para 22 isso tornou-se num escândalo nacional no Japão. É acrescentado que quase ninguém possui armas de fogo no Japão, visto que a maioria é ilegal e que é comprar e manter as restantes é um processo oneroso. Até os Yakuza, a máfia japonesa, prefere não usar armas de fogo visto que mortes desse tipo captam demasiada atenção noticiosa ou mediática que os gangsters nipónicos preferem evitar. Segundo o artigo, a Lei Japonesa, 1958, proibiu a posse de qualquer arma de fogo por parte dum cidadão, tem vindo posteriormente a abrir algumas excepções. O artigo abre aludindo a como se podem encontrar em Waikiki, no Hawai, pessoas na rua a distribuir panfletos publicitários, muitas vezes escritos em inglês e japonês, para captar turístas para o Clube de Tiro local. É um choque civilizacional quando os turistas japoneses recebem esses panfletos e quando vão ao dito clube disparar uns tirinhos, possivelmente saberão que se estivessem na sua terra estaria a cometer três crimes: empunhar uma arma de fogo, posse de munições não licenciadas, e o disparo de uma arma de fogo. A primeira das 3 ofensas pode ser punida no Japão por até 10 anos de cadeia. No Japão, as armas de fogo que um cidadão pode obter legalmente, mas com muita dificuldade, são caçadeiras (shotgun) e pressões de ar. O processo legal de obtenção de armas de fogo foi descrito num ensaio de David Kopel, cidadão americano membro da National Rifle Association (associação nacional de espingardas):

1 – o cidadão tem de frequentar um worshop de um dia, findo o qual é testado e tem de passar no teste. O workshop só acontece uma vez por mês;
2 – depois de passar nesse teste, o cidadão tem de frequentar e passar um curso numa carreira de tiro;
3 – feitos os dois primeiros passos, há que ir ao hospital fazer uma análise a estupefacientes e um testes de sanidade mental (é dito que o Japão é único nesta imposição de exigir a certificação da saúde mental dos potenciais possuidores de armas), os resultados dos quais a pessoa tem depois de entregar junto de oficiais da Polícia;
4 – finalmente tem de passar por uma rigorosa investigação do seu passado, sobre se esteve alguma vez envolvido em actividades ilegais, etc…;
E pronto, se passar, já pode ir comprar a sua caçadeira. Resta-lhe apenas informar a polícia sobre o local exacto na sua casa onde a guarda, e o mesmo se aplica às munições, sendo que a arma e as munições têm de ser guardadas fechadas e separadamente. Depois ainda tem de se recordar de levar a arma para inspecção policial uma vez por ano e refazer o teste de 3 em 3 anos!! Ufa, já estou exausto…
Duvido que por lá se cace como cá em Portugal! Seria a revolução se alguém cá quisesse fazer isso, porque diz o Público que um (1) Português em cada três (3), está possui uma arma. Eu não me oporia e digo isto sendo possuidor de 2 pressões de ar, uma de mola e uma de gás, e já tendo tido a experiência de disparar uma pistola semi-automática numa carreira de tiro.Posso dizer que não me saí nada mal e, com a experiência das minhas pistolas pressões de ar, assim que me habituei ao coice da explosão da pólvora, acertei o centro do alvo 2 vezes. A esperiência fez-me lembrar uma frase da obra de arte do Bruce Lee chamada "Enter the Dragon": "Any bloody fool can fire a gun.", traduzindo livremente: qualquer perfeito idiota pode disparar uma arma. Id est, não é preciso grande habilidade para se ser perigoso com uma arma de fogo na mão.

Não podia deixar de aproveitar este post para o N.I.N.J.A. Samurai fazer uma intervenção participativa no recém aquecido debate constitucional português, já que o Ministro Poiares Maduro (ex-acérrimo atacante e crítico das políticas deste governo, agora seu ávido protector), alegado ministro de Desenvolvimento Regional, para mim Ministro da Desinformação Nacional, diz que o debate sobre a Constituição não pode ser exclusivo dos Juízes. Começarei por tentar responder à pergunta chave e idiota do senhor actual Primeiro Ministro (PM). Ei-la formulada pelo próprio:
Ora, digo que a pergunta é idiota porquê? Porque a Constituição não assegura o trabalho a ninguém, tal como a restante Lei não o faz, seria impossível. O que a Lei deve fazer é apenas providenciar uma base legal que assegure os direitos do trabalhador, pois este vai estar sempre em desvantagem negocial perante a entidade empregadora. Mas esqueçamos isso. A Constituição não criou a Crise Económica de 2008, a Banca de Risco e a sua avarenta e endémica toxicidade é que criaram. A crise económica-social-estrutural do Estado Português, não foi criada pela Constituição, foi criada pela promiscuidade do Estado com o Sector Privado, via sucessivos governos PS-PSD, ao longo de quase 40 anos.
À PARTE: Aliás, o sector privado neste país é uma anedota pegada. Vejam-se como quando o estado fechou torneiras à comparticipação de medicamentos, quantas farmácias não fecharam todas elas privadas, sobrevivendo do estado. As PPP’s e os SWAP’s que por aí andam incólumes a encher bolsos privados, comendo directamente da dívida pública que suga os nossos impostos. A EDP e as suas rendas intocáveis que anularam Álvaro Santos Pereira. Sector privado onde se é o estado que está a alimentar esta gente toda?? Ah, é privado no sentido de que os lucros não favorecem o Zé (Povinho, leia-se) mas sim o senhor Dr José “Polvo”, cujos tentáculos estão bem firmados nos partidos do Poder. E as empresas realmente privadas, que sobrevivem sem as benesses estatais, são não têm espaço para crescer nacionalmente pois outras o ocupam, gozando do proteccionismo estatal. Pensem nisso.
Mas adiante. De qualquer forma, como matriz de uma lei que protege os direitos do trabalhador (logo e sim, de índole marxista [como não podia deixar de ser considerando que Comunismo, Socialismo e Social Democracia são ideologias provenientes do Marxismo]), que tem uma certa lógica sendo que é o trabalhador (e isto inclui trabalhadores de colarinho branco e azul) também o contribuinte do estado, pelo menos impediu o Governo actual de criar mais não se sabe quantos novos desempregados sem, algo que até a nada democrática União Europeia consagra como essencial, justa causa, e sem direito a subsídio de desemprego nem nada.
Ficariam dessa forma mais desprotegidos os funcionários públicos que os do privado. Íamos do 8 ao 80. A constituição, shôr Passos Coelho, protege o empregado, não arranja emprego ao desempregado. Tal como o Estado, de um ponto de vista liberal (que se julgava ser o seu), não o faz. O Estado só tem de providenciar as condições para que esse emprego possa surgir. Como? Ora, NÃO asfixiando a economia aumentando os impostos tanto no Consumo como nos Rendimentos, ao mesmo tempo que promove a baixa de salários, que inexoravelmente leva a uma perda de poder de compra, seguida de uma baixa de comércio interno, que implica menos receitas fiscais. Ao fim de 2 anos ainda não percebeu? Ah espera, ele antes das eleições onde foi eleito até sabia isso, não era?!? Deve ter comido queijo...
Quanto ao Tribunal Constitucional (TC). Ora bem, o Tribunal Constitucional só serve para ver se as leis que o sr PM e o seu ilustre e demagogo séquito aprovam em Conselho de Ministros não infringem a Lei consagrada na Constituição. E a interpretação feita por esses juízes, nomeados por PSD e PS essencialmente, segue regras pré-estabelecidas sobre o qual vossa excelência não sabe puto, sendo tão ou mais leigo que eu nessa matéria. Não é uma interpretação livre e como dá jeito, como quando se lê um poema ou a Bíblia, ok?
Por fim de resto, a sua miserável estratégia de culpar o TC p'lo vindouro aumento de impostos que todos sabemos aí vir, convenientemente depois das Eleições Autárquicas (como disse o Ministro da Solidariedade muito solidário com os autarcas que quer eleger em coligações PSD-CDS por esse país fora "Não é momento de se subir impostos" [link para fonte]), é uma patranha que é preciso um completo vegetal mental para engolir. Se até a Ferreira Leite diz, com uma (in)característica sobriedade lógica, que mesmo que o TC tivesse aprovado a Mobilidade Especial, o senhor PM teria de esperar 1 ano (12 meses), segundo a lei que ele criou, antes de poder despedir fosse quem fosse. Sendo esse o caso, que é (basta ler o enunciado da Mobilidade Especial), como é que isso influência alguma coisa o Orçamento para 2014, visto que faltam menos de 4 meses para acabar 2013? Senhor Primeiro Ministro, "não" seja "piegas", sim?
Já agora, sabem em que artigo da Constituição Portuguesa vem estabelecido o Princípio da Igualdade que tanto tem levado o TC a contrariar o Governo?
Irónica coincidência, em Portugal também é o artigo 9 que está a ser alvejado pelo governo actual.
Mas voltando à pergunta do Passos Coelho, esquecendo as contradições do seu discurso aos zombies sem espírito crítico que o aplaudem enquanto frequentam a sua “universidade” de Verão laranjita, sequiosos de um futuro de “tachos” (e não me refiro na restauração que o seu IVA insiste em destruir), avanço uma resposta directa. Eu acho que a Constituição arranjou emprego a este cidadão, que nela se baseou para se negar a pagar impostos na base de que tinha a prioridade de alimentar os filhos:

Sou o único a achar estranho que o homem há meses desempregado, depois de sair nas notícias com tanto alarido, tenha arranjado emprego por outra razão? Se eu tivesse uma empresa e precisasse de um gestor criativo, não pensaria duas vezes a contratar este Matemático pela sua óbvia criatividade na resolução de problemas difíceis num contexto social e legal.
É possível pero no lo creyo que, ao fim de 2 anos, seja apenas coincidência acontecer quando sai nas notícias o seu, na minha opinião, espectacular gesto de cidadania pura! Portanto, senhor Pedro Passos Coelho, meu primeiro ministro no qual não votei, por qué no te callas?!? A Constituição arranjou emprego a 1 cidadão... quantos mandaste tu para o Desemprego? Quantos mais ainda para lá queres mandar?

Para terminar, é claro que o PM pode opinar sobre as decisões do TC, mas a opinião avançada por Passos Coelho só revela uma completa ignorância sobre as bases fundamentais de uma democracia tripartida, o que não deve ajudar nada (ou não deveria num país de jeito e com espírito crítico) ajudar a uma futura reeleição. De resto, é óbvio que a Constituição não é imune a alterações, não é um texto sagrado. Mas depois das trapalhices deste governo de Coligação com falta de cola e com um (In)Seguro a chefiar o PS, é mesmo este tipo de gente que queremos a mexer na nossa Constituição, enquanto são puxados cordelinhos de uma Troika que só quer baixar salários para competir com a China? Serão as alturas de crise as melhores para pensarmos friamente em que país queremos viver?
Eu posso avançar já 3 alterações:
1)      que se retire a protecção extra que há para quem momentaneamente ocupe o lugar de Presidente da República. Qualquer cidadão, se se sente injuriado pode levar outro a tribunal por isso e é uma questão de provar o seu caso. Que o momentâneo ocupante do posto de PR seja mais que os outros só me parece uma reminiscência dos tempos da Outra Senhora. Uma cláusula de não se questionar o Líder. Fuck that is what I say. “Quem quer respeito, dá-se ao respeito”, citando o meu povo e parafraseando George RR Martin “Quem tem de afirmar aos outros que é rei, não o é.”. Case & point, ninguém fez abaixos assinados para demitir o Sampaio ou o Eanes, mas eles também não disseram que eram solidários com o seu povo sofredor pois com 10 000 euros não conseguiam pagar despesas;
2)      estipular-se o número de ministérios que há, independentemente do governo que lá estiver e um número máximo razoável (veja-se o exemplo da Alemanha por exemplo) de adjuntos, secretários, acessores e motoristas que cada um possa ter, bem mais baixo que o actual, que cada governo possa nomear;
3)      copiarmos o artigo 9 japonês.
Aposto que o Partido do Estado não faria nenhuma destas alterações, particularmente aquela que lhes nega a possibilidade de darem os tachos que quiserem.
Olhando para o meu próprio raciocínio, começo eu próprio a perceber que o Artigo 9 dos Japoneses não tem nada de sonhador e tem muito mérito pragmático para além do mérito civilizacional (caso saibam inglês cliquem aqui para aprofundar o tópico). Não é abdicar do direito à autodefesa. Não se trata daquilo que eu considero uma parvoíce, como a completa e unilateral desmantelação de forças militares como quer o Bloco de Esquerda. Não é uma cláusula de não resistência perante a agressão, como o famoso “dar a outra face” de Cristo. É apenas a simples rejeição da violência como solução aceitável para crispações no plano internacional e sobretudo uma rejeição da noção de que fazer guerra deve ser considerado um direito soberano de uma nação.
Por outro lado, ao escrever este post, consolidei também aquilo que já antes achava, que a cura da Humanidade, a emancipação intelectual desta última, e a evolução da sua liberdade democrática estão ligadas inexoravelmente e totalmente dependentes de um dos pilares da nossa civilização: a Educação. Não nos esqueçamos nunca que o nicho evolutivo que nos permitir ascender como espécie dominante deste nosso berlinde azul foi a capacidade de aprender e raciocinar, conjugada com a partilha e contínua transmissão de conhecimentos de geração em geração. Durante milénios, os seres humanos tiveram uma esperança média de vida de cerca de 20 anos e pouco ou nenhum conhecimento passava, a não ser o mais básico. Não havia experiência acumulada, nem velhos ou outro meio para a reter. No plano civilizacional, é a educação que permite a inovação e é também chave da competitividade económica, por muito que vos queiram vender que essa advém apenas de baixar salários e gerar mão-de-obra escrava ou quasi-escrava.
Se entendermos que o artigo 9 da Constituição Japonesa é um artigo progressista e sem contradições pragmáticas (pois não impede a manutenção da segurança soberana do seu povo), é importante perceber que numa altura de grande tensão militar no Pacífico, devido às Coreias e às ilhas Senkaku, este artigo está em perigo de ser revogado, estando debaixo da mira do Partido Liberal Japonês, actualmente no poder. Um partido, que tal como o nosso, anda às avessas com a constituição pela qual jurou servir a sua pátria. No caso japonês, nota-se um enorme à vontade bélico do seu actual governo, sendo que foi um dos países que apoiou o ataque norte-americano à Síria sem antes terem sido esgotadas todas as opções. Felizmente, a Rússia e os EUA já concordaram nos termos que apresentarão ao Assad para este entregar o seu arsenal químico: http://www.publico.pt/mundo/noticia/eua-e-russia-chegam-a-acordo-para-eliminacao-de-armas-quimicas-na-siria-1605822. Pode ser que desta forma se evitem os bombardeamentos e a morte de mais civis inocentes, ao mesmo tento que se esfria a nova Guerra Fria entre a Federação Russa e os EUA.
No passado dia 9 de Agosto, decorreram 68 anos desde que as Bombas caíram sobre Nagasaki e Hiroshima. Os japoneses marcam sempre o dia dessa tragédia, para alguns totalmente desnecessária por parte dos americanos, que já tinham a guerra ganha nessa altura. Durante o ano, muitas vozes se elevaram em defesa do artigo 9, precisamente por se recordarem onde leva a mania da guerra. A estas juntam-se também acções populares anuais, como a Marcha pela Paz.
Este ano, a Marcha pela Paz começou com cerca de mil pessoas, entre as quais a activista filipina Malaya Fabros. A activista anti-nuclear produziu no seu blog (fonte) uma excelente introdução ao Gensuikyo (Conselho Japonês contra as Bombas Atómica e de Hidrogénio), à história da Marcha pela Paz, à velha estrada de Tokaido (no período Edo, era a via que ligava Tóquio e Quioto), mas também fala das culturas diversas do Japão por onde passa e fala do desejo de muitos japoneses de se quererem redimir pelas acções do seu país durante a Segunda Guerra Mundial, e claro não se esquece de mencionar os esforços para salvar o artigo 9 e as acções contra a tecnologia nuclear. Está em inglês e é óbvio que não posso traduzir tudo, mas continuando no tópico desta entrada, aprofundemos um pouco a Marcha da Paz.
Esta última começou em 1958, quando um monge de Hiroshima decidiu colocar os pés ao caminho e ir a Tóquio participar da Conferência Mundial. Pelo caminho, juntaram-se ao monge muitas pessoas que o acompanharam, e desde então, sem nunca falhar um ano, entre 6 de Maio e 4 de Agosto é realizada a Marcha pela Paz no Japão. Uma tradição bem mais bela e valorosa que qualquer peregrinação a Fátima ou Santiago de Compostela, para ir pedir favorezinhos ao ditador divino. Tem objectivos mais nobres e o seu sucesso não assenta em crendices mas sim na mudança das ideias e vontades humanas e terrenas.
Outros também participam desta luta, como o mestre do Anime, Hayao Miyazaki demonstrando o seu desagrado perante a posição do actual governo japonês perante o Artigo 9.
Este ano curiosa e ironicamente, de forma talvez nada inocente por parte dos organizadores, realiza-se em Novembro e no Japão, uma Conferência internacional chamada "Paz como uma Língua Global":
Por minha parte, não posso de momento e por razões económicas ir ao Japão participar da Marcha pela Paz nem tão pouco ir à Conferência supracitada, mas posso guerrear pela Paz no Mundo, não desejando-a meramente, de forma politicamente correcta e superficial como um qualquer estereótipo de miss num concurso de beleza, mas sim pensando, falando, e escrevendo sobre isso como estou a fazer. Mais, posso reforçar a ideia do horror da Guerra, não com as minhas fracas palavras, sem conhecimento de causa ou os laivos poéticos necessário para tal, mas sim com as poderosas palavras daqueles que me inspiram a aspirar ser escritor.
A Poesia de Guerra é essencial para a crítica a esse membro tão terrível dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse e é também, ao que parece, comum por todo o mundo. Do Japão, pela caneta de Mitsuyoshi Toge (link para a fonte em inglês), um poeta católico japonês de Hiroshima, surge “I Could Never Forget the Flash” (Nunca Pude Esquecer o Flash):

Eu nunca consegui esquecer aquele flash de luz,
Num momento, trinta mil pessoas deixaram de ser,
Os gritos de cinquenta mil mortos
No fundo de uma esmagadora escuridão;
Através de fumo amarelo que rodopiava para a luz,
Prédios dividem-se, pontes colapsam,
Eléctricos cheios ardidos enquanto rolavam
Por Hiroshima, todos cheios de montes ilimitados de brasas.
Logo depois, peles penduradas como trapos;
Com mãos sobre os peitos;
Calcorreiam sobre os cérebros destroçados;
Usando retalhos de pano queimado em torno das entranhas;
Vieram fileiras incontáveis de nus,
Todos a chorar.
Corpos no chão da parada, espalhados como estatuetas de Jizo atiradas ao desprezo;
Multidões em pilhas à margem dos rios, carregadas em jangadas amarradas à margem,
Transformados em cadáveres sobre o sol escaldante.
No meio de chamas atiradas contra o céu nocturno;
Ao largo da rua onde mãe e irmão estavam encurralados vivos debaixo da casa ruída,
A cheia de fogo prosseguiu.
Em camas de porcaria no chão do Arsenal,
Carradas, e Deus sabia quem eles eram…
Carradas de meninas de escola deitadas em recusa
De barriguitas saídas, zarolhas, como metade da sua pele arrancada por completo.
O sol brilhou e nada se mexeu,
A não ser as moscas zumbidoras nos alguidares metálicos
Fedendo com obscenidades estagnadas.
Como posso eu esquecer essa quietude
Prevalecendo contra uma cidade de trinta milhares?
No meio dessa calma,
Como posso eu esquecer os suplicares
De partidas mulheres e crianças
Através das suas órbitas oculares
Cortando através das nossas mentes e almas?


Ou escutando, Fernando Pessoa e “O Menino de sua Mãe”:

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe.



E pela potente voz de Christopher Hitchens, surge o poema de Wilfred Owens, “Dulce et Decorum Est”:

Quando vi este vídeo do Hitch, e o ouvi recitar o poema, viajei de imediato à minha infância, quando um episódio em particular da série televisiva “As Crónicas do Jovem Indiana Jones” me deu pesadelos durante semanas. É que de certeza que quem escreveu a cena que se segue, conhecia bem este poema de Owen e foi por ele inspirado. Ora vejam:
E por fim, para aligeirar a tensão, a crítica poética mas satírica, pelas palavras e música de Tom Lehrer, em “Who’s Next?”:

Absorvam as palavras, imaginem as imagens. Para aqueles de nós que nunca pisaram o campo de batalha, que tiveram essa sorte de nunca o pisar, esta é a maneira mais próxima que temos de imaginar a sua horrenda realidade, salvo seja um filme bem feito e não apologético ou que não tente glorificar a guerra.
Peace out, my brothers and sisters, & in times of crisis keep safe your Constitutions ,\/n

P.P.S.: Tive de adicionar este vídeo do Ricardo Araújo Pereira à última da hora. É um seu comentário a um livro, cuja história se passa durante a Primeira Guerra Mundial, mas é um livro de humor. É uma outra reflexão sobre Guerra, Morte e Vida, de uma perspectiva cómico-satírica. Fiquei com vontade de ler o livro:
O Bom Soldado Švejk | FNAC Colombo 13.12.2012
P.P.P.S.: Mais uma pérola do Ricardo Araújo Pereira que aqui me parece pertinente citar: