quinta-feira, 23 de maio de 2013

Doseiaisha


Olá, amigo(a)s!
Eu procuro afastar-me das polémicas no tempo e só falar das coisas quando já tive algum tempo para remoer os diversos argumentos contra e a favor, afim de vos entregar uma visão minha de determinado tópico. Especifiquei “no tempo”, porque também não quero que me leiam devido a sensacionalismos. Ao contrário da Imprensa e restantes Media, eu não tenho a prorrogativa da venda da informação, tal como também não tenho o constrangimento económico (enquanto puder ter net baratinha :D) ou a auto-censura do politicamente correcto. Mas desta volta decidi abordar um tópico que está na baila: a homossexualidade. É que hoje em dia somos todos forçados a pensar nesta questão, não por culpa de quem é gay, mas por culpa de quem é intolerante e arrogantemente ofensivo para quem o é.
Sabem?, quando eu era puto, um dos meus ídolos era o Alexandre o Grande. Mas na altura os gays eram muito mais alvejados do que são hoje, ser-se gay era considerado um insulto. Termos como paneleiro, panisgas, bicha, fufa, etc… eram mais utilizados que gay, homossexual ou lésbica. E provavelmente, mais utilizados entre heteros como ofensa pessoal que para ofender um gay. Ainda sou do tempo em que se falava em escolha sexual, em que a tese que diz que a homossexualidade é uma doença ainda não tinha sido desacreditada. E como tal, embora Alexandre da Macedónia tivesse sido um dos grandes reis conquistadores do Mundo Antigo, tinha nessa altura a fama de ser paneleiro. Não me bastava ser gordo e alto, levando os adultos sem malícia (parece-me) a me chamarem precisamente Alexandre o Grande, ainda era por vezes chamado de paneleiro por associação. Ainda por cima, devido aos meus longos (na altura) cabelos cumpridos, olhos verdes brilhantes, bochechas cheias, eu tinha um aspecto algo que andrógino. Havia quem ficasse na dúvida se eu era rapaz ou rapariga. Houve quem afirmasse que eu era demasiado bonito para homem. Bons velhos tempos! Ahahah Estranhamente quem fazia essa associação, voltando ao Rei Alexandre, estava algo que mais bem informado que os outros putos todos, do ponto de vista histórico. As crianças tendem a ser cruéis por falta de experiência na hipocrisia social, não por falta de conhecimento. São rápidos a ver o que não encaixa no padrão habitual. É assim que aprendemos. Mas bem, eu não me posso queixar, pois eu sabia bem ripostar e entendíamo-nos. Nunca fui alvo do bullying, termo que na altura da minha meninice ainda não se usava por cá embora o comportamento já existisse, precisamente porque prefiro ser aguerrido (física ou verbalmente, conforme necessário ou apropriado) como o Magnus quando me tentam pisar os calos, que seguir a mensagem do Cristo e dar a outra face. É o tanas, que é o parente do badanas!
Eu sou muito introspectivo, desde pequeno. Da mesma forma como muito novo me interessei por religião (a story for another day) e pela política, também muito novo me interessei por sexo. Como tal, quando já mais velho tomei consciência de que haviam 3 (gays, heteros e bi’s) possibilidades de orientação sexual, que na altura ainda havia na sociedade (entre heteros, creio) a ideia que de era uma escolha, eu decidi-me a investigar qual dos 3 melhor se me assentaria. O tratamento que dei ao problema foi o mesmo que dei à questão de visão de mundo (religião e política): investigar, saber mais, falar com as pessoas, debater a questão, chegar a uma conclusão. Esta contudo foi a conclusão a que mais tarde cheguei. Aos meus 16 anos, já sabia que era ateu (que já agora também não é uma escolha, mas isso também fica para outro dia), pelos 21 já sabia que era apartidário, pela mesma idade percebi a minha identidade sexual. Foi desapontante saber que não era uma escolha, pois sou apenas hetero e gostava de ser bi. Just think of the possibbilities! :D

Mas, devido à investigação que fiz à minha própria natureza, acabei por sentir uma enorme empatia para com os gays e mesmo alguns bi’s, devido ao facto de durante séculos e milénios serem reprimidos por uma ditadura social dos “bons valores”, baseada como é normal dum profundas lavagens cerebrais religiosas e falta de cultura. E esta ditadura é imposta sob ameaça de penas como o completo ostracismo ou mesmo a pena de morte. Em muitas partes do mundo hoje, ainda acontece. E em mundinhos mais pequenos como o de muitas famílias portuguesas, de certeza que ainda acontece. Durante muito tempo, não tinha paciência para as manifestações dos gays ou para as suas reivindicações. Achava eu, na minha ingénua ignorância, que se eles queriam ser gays que fossem para quê me chatearem com isso? Mas prende-se com o facto de não os deixarem, de um casal de homens não poder namorar na avenida ou andar de mão dada, devido (na melhor das hipóteses) a olhares reprovadores cravejados de repulsa ou mesmo ódio. Christopher Hitchens nas suas memórias chegou a falar de experiências gays que teve quando era mais novo, num colégio interno de rapazes. “What do they fucking expect?!” dizia ele meio a sério meio a brincar. Ele acabou por descobrir ser heterossexual, mas achou que devia partilhar tais experiências como um gesto solidário ao movimento gay. Dizia também que mais que sexo, a homossexualidade também deve ser reconhecida nos parâmetros do amor romântico e, como tal, respeitado desse prisma. Concordo com ele uma vez mais. Ele dizia ainda que não confiava em nenhuma pessoa que nunca se tenha questionado, no seu íntimo, sobre isso. Não irei tão longe… Mas mais do que eliminar o olhar reprovador da sociedade, é uma questão legal: terem os mesmos direitos que os heterossexuais perante a sociedade civil e não serem descriminados socialmente devido à sua natureza.
Numa nota de antiteísmo, o Hitch dizia isto do Deus de Abraão em geral relativamente ao pecado (pois todo o homem peca, até o Adão que supostamente era perfeito… criado à imagem do seu criador), mas focando-nos na problemática em questão, se Deus criou o Homem e nos criou doentes (seja os gays ou os ateus), e depois sob pena de irmos arder eternamente nos infernos nos ordena que fiquemos saudáveis (aos seus olhos), não é este um deus mesquinho que condena algumas das suas criações ao fracasso? Não é este deus vil? Ainda assim há homossexuais católicos, entenda-se lá como (cliquem nesta frase para um video ilustrativo em inglês).
Em Portugal, o Sócrates foi ver o Leite e acabou por colocar o país no bom caminho, legalizando o casamento homossexual. Até um relógio avariado dá horas certas duas vezes por dia, né? Recentemente, a esquerda portuguesa (esquerda esquerda e esquerda centro) em peso, com a abstenção da maioria da direita, legalizou finalmente a co-adopção por casais homossexuais na Assembleia da República (AR). Em breve, não duvido, provavelmente já em governo chuchialista, a adopção plena será também legalizada. O meu receio até agora, pelo que li, infundado sobre a adopção era que uma criança não tendo contributo educacional de um macho e uma fêmea não teria um desenvolvimento normal. Consideremos o seguinte: o gay (tal como o ateu) pode e tem surgido de casais heterossexuais (religiosos), logo não haverá porque esperar que heterossexuais (crentes) não surjam do seio de famílias não convencionais (de “bons” valores religiosos). Nós somos produto da nossa educação e experiência, mas não aparecemos como uma tábua rasa no mundo, já trazemos bagagem (e não, não me refiro a vidas passadas). Depois, as pressões no recreio dos bullys perante os putos que tenham dois pais ou duas mães poderá persistir durante umas gerações, mas dentro em breve desaparecerá. Porquê? Porque o que hoje é tabu, se não for prejudicial para a sociedade, amanhã é normal. E a homossexualidade já cá anda desde que o Homem era Macaco, pois até os macaquinhos a têm, e ainda cá estamos. Aliás, todos os animais que vivem em sociedade desenvolvem práticas homossexuais. Além do mais, a co-adopção e, suspeito eu, a adopção por casais gays, em termos práticos já existem, só não são reconhecidas legalmente. O que quer dizer que se morre o pai ou a mãe (biológico ou adoptivo) que legalmente é o tutor da criança no casal gay, a criança tendo um outro encarregado de educação nunca reconhecido pela lei, pode ser atirada para (essa sim comprovadamente prejudicial) a guarda do estado. Relembre-se da Casa Pia, como exemplo negativo ao extremo. Assim sendo, a legalização é a única solução, além de se matar dois Coelho’s de uma cajadada só: há muita criança para adoptar e poucos casais com possibilidades e/ou vontade para tal. Os argumentos contra são, pelo menos o que eu ouvi, baseados em medos. Medo de que os valores religiosos sejam eliminados da sociedade, medo de que os pilares sociais ocidentais (as tradições) sejam substituídas, medo que toda a população ou a maioria se torne gay por ou serem criados por gays ou por whatever, e finalmente por medo da Esquerda política que tem sido a fomentadora destas mudanças… Quanto à primeira, era bom era! Ahahah, mas visto que até há homossexuais não só cristãos mas especificamente católicos, não vejo isso a acontecer. Quanto à segunda, ninguém está a substituir nada, as famílias convencionais (casal composto por um macho e uma fêmea) continuarão a existir e aventurar-me-ia eu a dizer que continuarão em maior número. O terceiro medo é simplesmente parvo. O quarto medo é mera politiquice.

É óbvio que para todas as revoluções, antes duma evolução delas poder surgir, há sempre uma tentativa de reacção. Lamento em dizer que mais uma vez a reacção vem da Direita. E, tendo em conta, de onde originam os sentimentos anti-gay, não custa a vermos que é a Direita Cristã. Sim, a mesma que nos deu o Mussulini, o Franco e o Salazar, entre outros. A mesma que apoiou o Hitler até à queda do Terceiro Reich. A mesma que na Rússia fez de Estaline um santo e apoia incondicionalmente o Putin e os seus esbirros xenófobos e nacionalistas. Por cá, os representantes da Direita Cristã moderados comprovaram agora que estão bem domados. Falo claro do CDS. Não estou a chamar-lhes fascistas, mas tal como os comunistas têm uma herança negra com que lidar. Só os sapos que o Passos e o Gaspar os fizeram engolir desde que a eles se aliaram com ganas de poder, e agora esta esmagadora permissividade, esta sim, contra-natura que tiveram perante um tópico com o qual estão amplamente em desacordo, demonstraram bem a sua dupla-face, a que têm na oposição e a que têm depois de chegados ao poleiro. Aliás, apercebi-me agora que na coligação o CDS tem sido um exemplo perfeito do que é dar a outra face quando se é ofendido. Um corolário que daqui se pode remover é que, embora o país possa ser de maioria cristã, a sua (pseudo [um dias destes elaboro este pseudo]) democracia é comprovadamente secular, e os seus cristãos melhores cristãos que os cristãos poderiam ser se seguissem à letra a sua fé. Não deixa contudo de ser triste que os movimentos cristãos zelotas recorram ao golpe baixo da chantagem psicológica para atingirem os seus fins, como estes senhores que se predispõem a usar a peregrinação a Fátima para recolher assinaturas para um pedido de um referendo ao aborto, estranhamente à eutanásia (quem me dera, pois acho que lhes saía o tiro pela culatra), e provavelmente agora a esta questão dos direitos dos homossexuais, questionando os “fiéis” quão “bons cristãos” são! Dá-me asco, sinceramente. É que isto é forçar uma reacção desejada sem oferecer qualquer argumento lógico ou racional, sem debate, só pela chantagem propagandista. É também armarem-se em deuses eles próprios ou no mínimo investirem-se de poder divino, pois não ouvi o Papa em Roma a pedir que assinassem essa petição... or else. Mas enfim, “olha, são coisas deles” (quem via o Curto Circuito nos dias do Unas, percebe a piada)!

O problema é que os partidos de Deus na Europa não desistem, id est, o CDS não está sozinho. Não se contentam em reinar dentro das igrejas e catequeses, querem poder também no plano civil. Querem tornar a alegada lei divina, lei civil.
Na França, a aprovação do casamento gay, gerou confrontos com manifestantes contra essa lei vindos da Direita:
Em Espanha, fizeram com que a Religião conte para a média escolar.
Mas mais ninguém vê o problema com isto?? Já é mau o suficiente haver uma disciplina de Religião e Moral, como há em Portugal (ou havia no meu tempo), que dá primazia a uma determinada Religião (neste caso, a da Igreja Católica) perante todas as outras numa cultura supostamente de estado laico e que defende a liberdade religiosa num contexto de sociedade secular com pluralidade religiosa, quanto mais fazê-la parte da avaliação duma criança!!! E se a criança vier duma família cuja religião é outra? Agora temos cá cristãos ortodoxos, evangelistas, muçulmanos, budistas, espíritas... ah sim, e ateus! Como pode um estado secular proteger uma religião em detrimento das outras? Não pode. Nem devia sequer de haver capelões no exército e ainda bem que o Sócrates acabou com as isenções de impostos a padres. O Estado não pode favorecer uma religião específica, porque senão teria que dar o mesmo tratamento a todas as outras e torna-se incomportável. A melhor maneira é não favorecer nenhuma. As ditas igrejas que se amanhem. Os seus ensinamentos ficam para as igrejas e catequeses e templos demais. Fora da escola pública.
E mais, chegam a estes extremos, a esta loucura, incapazes talvez de viverem num mundo de democracia e respeito pelos direitos humanos, ou incapazes de lidar com a inevitabilidade da mudança das vontades:
Dito isto, é bom ver que por todo o mundo ultimamente se tem visto um ganhar de terreno em todas as frentes nos direitos homossexuais e como tal, essa revolução, tal como a da emancipação das mulheres, estará próxima de ficar concluída, no Ocidente. Deixo-vos alguns exemplos disso mesmo:
Em Portugal:
Em França:
Inglaterra:
Mas é preciso reconhecer que há pessoas sensatas também na Direita (não especificamente cristã) e é minha convicção de que se houvesse mais liberdade de voto na AR, teríamos um país mais democrático e como tal mais justo.


Dito tudo isto, vou-vos só dar uma perspectiva histórica e actual sobre o que se passou e passa com a homossexualidade no Japão.
Na antiguidade japonesa, o termo usado para designar gays era nanshoku (que também poderá ser lido, danshoku) e que, etimologicamente, é gerado por dois caracteres: 男色. Literalmente falando o primeiro caracter quer dizer “macho” e o segundo “cor”. Contudo, o caracter que designa cor () ainda hoje é sinónimo de prazer sexual tanto na China como no Japão. Um outro termo usado como sinónimo seria shudo (衆道, abreviado do termo wakashudo, que se poderá traduzir para “a via dos rapazes adolescentes”).
Existe uma variedade de referências literárias algo que obscuras que evidenciam actos homossexuais, como por exemplo o romance Genji Monogatari (源氏物語, “O Conto de Genji”), oriundo do Período Heian, sensivelmente séc. XI.
A sociedade medieval japonesa é eximiamente estruturada em classes. Assim, na classe monástica, havia relacionamentos homossexuais de género tipicamente pedófilo, ou seja entre um adulto e alguém ainda não considerado adulto. Trata-se de relacionamentos, dá-me a entender, muito parecidos com o que acontecia na Grécia Clássica, em que o mestre mantinha uma relação homossexual com o aprendiz e isto estava imiscuído no ensino. No caso japonês, a relação era dissolvida assim que o aprendiz chegava à maioridade. Diz-se que, fora dos mosteiros, os monges japoneses tinham preferência por prostitutos (kagema) e não prostitutas e que isso era alvo de chacota social. Em termos religiosos, não havia oposição à homossexualidade no Japão nas religiões não-budistas kami (quer dizer divindade ou ídolo), mesmo na Era Tokugawa. De facto, um escritor dessa Era, chamado Ihara Saikaku, especulou que uma vez que as primeiras gerações de deuses Shinto eram todas masculinas, os próprios deuses tiveram de praticar o nanshoku por falta de parceiros femininos, dando uma explicação religiosa para a existência dessa prática (como diria o Hitchens, one never knows what the religious will say next :). Algumas divindades Shinto eram protectoras dos gays. Na classe guerreira (Samurai), havia a mesma relação professor-aluno que podia, caso ambas as partes assim consentissem, ser homossexual, exactamente como na Grécia de Alexandre o Grande. Essa relação tinha até uma formalização contratual chamada contrato de irmandade e exigia exclusividade. Não podiam ter outros parceiros masculinos. E enquanto o mentor ensinava o aprendiz nas variadas artes marciais, etiqueta samurai e código de honra, o desejo do mais velho de ser um bom exemplo a seguir para o seu pupilo levava-o a comportar-se de forma mais honrosa. Assim sendo, a relação shudo era tida como uma relação de engrandecimento mútuo. Depois, a relação ia para além disso, sendo que era exigida uma lealdade até à morte de ambas as partes uma para com a outra, sendo que quaisquer dividas de honra ou vinganças de um eram dos dois. Contudo, a relação com mulheres não ficava restringida e assim que o aluno fosse maior de idade poderiam ambos procurar outros parceiros homens se assim quisessem. O nenja (tutor) era especificamente o activo nesta relação e o aluno o passivo, numa respeitosa submissão. O papel passivo estava interditado aos homens adultos nestas relações. Há um filme interessante sobre este tipo de relações em contexto do Japão medieval e na classe guerreira que é o Gohatto (quer dizer “tabu”). Quando o vi na RTP2, estranhei a leveza com que os mestres percebiam que dois dos seus alunos estavam apaixonados. Se fosse na Europa era fogueiras com eles, provavelmente. Na classe média, os actores e actrizes acabavam por ter um segundo emprego na prostituição, sendo procurados por patronos ricos que se tornavam nos seus mecenas a troco de favores sexuais. Contudo, durante muito tempo, os prostitutos adultos não eram procurados por homens, enquanto as prostitutas eram mesmo sendo adultas, devido a não ser bem visto pela sociedade que um homem se deitasse com um outro sendo este maior de idade. Pelo século XVII, eles terão resolvido este problema ocultando, até quando fisicamente possível, a sua idade e, desde que as aparências (leia-se ilusão de juventude por parte do prostituto) fossem mantidas, era na boa. Os mais procurados por estes mecenas, tanto os femininos como os masculinos, eram os actores onnagata (que faziam papel de mulher) e os wakashu-gata (que faziam papéis gay). Estes actores eram muito retratados nas impressões nanshuko shunga (shunga quer dizer “imagem de primavera”, 春画, e primavera é um eufemismo oriental para erotismo ou sexo), cujo exemplo podem ver na imagem abaixo. Devo admitir que me ri da proximidade da palavra shunga em termos sonoros da nossa palavra de calão chunga, significando (para os lusófonos não portugueses que possam não perceber) que é reles, que não presta, que é de mau gosto!
Para os dias de hoje, deixo-vos com um testemunho dum imigrante brasileiro que vive no Japão que teve a bondade de deixar este registo no youtube. A perspectiva que ele dá bate certo com o que encontrei noutras fontes na Internet, pelo que dou-a por correcta e objectiva. (ignorem o primeiro minuto e meio que é ele a desabafar a frustração de pessoal que deixou comentários menos construtivos aos seus outros vídeos)
Relativamente a nomenclatura, ela é hoje diferente e mais diversa. Existe a palavra doseiaisha (同性愛者, literalmente “pessoa que ama o mesmo sexo”), que por razões óbvias dá título a este post. E depois a influências de culturas ocidentais, como gei (ゲイ, gay), homo(ホモ), homosekusharu (ホモセクシャル, homossexual), rezu (レズ, les) e rezubian (レズビアン, lésbica).
Como pode ser entendido no vídeo, os gays japoneses não são legalmente reconhecidos, sendo que também não são perseguidos pela lei. Fora algumas zonas mais metropolitanas como Tokyo ou Osaka, onde já há gays fora do armário, a sua maioria ainda vive vidas dentro deste último. Há por exemplo um testemunho, dum casal de gays que até têm alianças, mas que quando vão para os empregos a retiram e fingem ser heterossexuais até voltarem a casa, por medo do que os colegas e patrões possam achar.
Só para terminar, nos dias de hoje, segundo a Wikipédia, no Japão os homossexuais podem servir nas forças armadas, pois embora ser gay não tenha estatuto legal, também não é activamente contrariado ou proibido. Simplesmente é legalmente ignorado. Tive a curiosidade de ir ver o que dizia sobre Portugal e fiquei orgulhoso de ler que em Portugal os gays podem servir nas forças armadas como qualquer cidadão pois a nossa Constituição proíbe descriminação sexual.
Mais uma vez me despeço com amizade e com renovada esperança na única coisa na qual tenho fé (não cega): a Humanidade.
Alex, signing off!

Adenda I: (16h49min TMG, 24/05/2013) Os escuteiros norte-americanos passam a aceitar jovens gay, mas não adultos
Adenda II: (1h32min TMG, 01/06/2013) Um ateu ironizando com a resistência religiosa à homossexualidade 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

As Senkaku e a Política Externa

Os direitos desta imagem pertencem à Agência Reuteurs. Obtive-a via site do Público.

Há pessoas que adoram dizer que são “cidadãos do mundo” do mundo como se hoje em dia não o fossemos todos. Com o advento da poluição global, do poder atómico e da globalização, hoje todos, quer o queiramos quer não, cidadãos do mundo.
Como tal, mesmo para a maioria de nós que em nada influência as decisões ou os acontecimentos no palco mundial, é imperativo mantermo-nos informados do que se passa lá por fora. Por exemplo, o Pacífico tem andado algo que belicoso ultimamente. E é interessante ver como uma crise acaba por interromper outra. Refiro claro à disputa das ilhas Senkaku, que aqueceu no final do ano passado e início deste ano, mas que entretanto foi esfriada pela arrogância lunática da Coreia do Norte.
Mas antes de mais, impõe-se um pouco de História e Geografia, ladies and gents!


As ilhas em questão ficam no mar da China, grosseiramente a leste da China Continental, a oeste de Okinawa e a norte da ponta sudoeste das ilhas Ryukyu. Em Japonês, as ilhas têm três variações do seu nome 尖閣列島 Senkaku-rettō, 尖閣群島 Senkaku-guntō, Senkaku-shotō. Senkaku quererá dizer Pináculos em Pavilhão ou Pavilhão de Pináculos, segundo a wikipédia inglesa (daí a minha dificuldade na tradução). As ilhas foram oficialmente anexadas pelo governo Japonês em 1895, sendo que só após os EUA descobrirem nas ilhas reservas de gás natural em 1968 e, acrescente-se, apenas depois do Tio Sam devolver a soberania ao Japão em 1972, é que a República Popular da China decidiu reclamar estas ilhas como sua propriedade. Num post anterior, escrevi uma pequena tirada sobre como todas as nossas disputas acabam por ser derivadas de necessidades energéticas. Esta não é excepção. Excepção seria uma guerra religiosa, que não tivesse nenhum interesse materialista no seu âmago. Portanto, algo que não existe, pois estas últimas parecem ser sempre pelo controlo de terras, quer neste Verso, quer no plano astral ahahha.
Mas disse eu também, e nessa mesma entrada, que a civilização humana vai necessitar de gerar muito mais energia no futuro próximo, o que possivelmente levará a mais disposição belicosa para obter recursos energéticos. Por exemplo, muito subtilmente está a decorrer uma nova corrida à Lua, ainda em fase embrionária, tanto por parte dos EUA como da China, devido principalmente ao desejo de obter uma substância altamente energética que se julga existir em maior abundância na Lua, chamada Hélio 3, um gajo raro. Portanto, amigos, a próxima corrida espacial não vai acabar com um “For all Mankind!”

Uma nota interessante que retirei da Wikipédia sobre as Senkaku é que, em meados da primeira década do século XX, um empreendedor japonês, de seu nome Koga Tatsushirō (古賀 辰四郎), estabeleceu, nessas ilhas, uma central de processamento de pesca do Bonito. Sim, o Bonito é um peixe e assim que ouvi falar dele e que descobri que este é aparentado da sardinha, veio-me logo à cabeça que o nome tenha vindo da palavra portuguesa Bonito, tal como “arigato” é um japonesismo de “obrigado”. Mas a Wiki não me confirmou ou negou tal intuição.
As tensões entre a China e o Japão já não são de agora. De facto, a 18 de Setembro de 1931, o Japão Imperial pré Segunda Guerra Mundial, serviu-se do Incidente de Mukden, também conhecido como Incidente da Manchúria (Kyūjitai: 滿洲事變, Shinjitai: 満州事変, Manshū-jihen), como pretexto para invadir a Manchúria e lá instalar um seu governo fantoche. Tal como os estados totalitários, também os estados imperialistas vivem de clichés. Muitas vezes são um no mesmo. A suposta razão para a invasão foi uma explosão criada numa linha de caminho de ferro nipónica. A explosão foi criada de tal forma que nem danificou a linha e foi preparada por um tenente japonês, mas culpada em dissidentes chineses. Desde então e até à derrota do Japão na II Grande Guerra, em 1945, rebentou o conflito entre as duas nações. E até aos dias de hoje, comentadores chineses afirmam que o Japão ainda não se arrependeu do seu papel nessa guerra nem pediu desculpas ou fez as devidas reparações às suas acções perante as vítimas das mesmas. Este conflito actual das Senkaku, conhecidas como Diaoyou na China, terá vindo meter achas numa fogueira cujas brasas nunca esmorecem, embora possam por vezes ficar escondidas entre as cinzas do seu descontentamento.
Analise-se agora, o presente deste conflito. Simon Tisdall do The Guardian, afirma que os Norte-Americanos, que ainda hoje se vêem como a maior potência na zona asiática do Pacífico, andam a ficar cada vez mais nervosos com esta situação. Leon Parnetta, secretário de defesa norte-americano, terá dito recentemente numa visita ao Japão que qualquer “comportamento provocador” por quaisquer dos lados pode levar a malentendidos, violência e potencialmente guerra aberta. Ecoou assim as afirmações de Hilary Clinton que disse que deve haver contenção e diálogo entre a China e os vários países com os quais esta última mantém disputas territoriais. Durante a sua visita, contudo, Parnetta confirmou que de facto as Senkaku estão previstas no tratado de defesa Nipónico-Americano, o que implícita que os EUA, se o pior acontecer, terão de ajudar o Japão a defender as ilhas que a China afirma terem sido ilegalmente anexadas. Isto reforça também a ideia chinesa de que o Japão faz parte duma agenda geo-estratégica secreta norte-americana na zona, que pretende conter ou limitar o crescimento do poder chinês. Diga-se de passagem que não andam muito longe da verdade, pois durante a Guerra Fria, os Estados Unidos usaram mesmo o Japão dessa forma, para atrofiar a expansão comunista. Ou no mínimo, para terem um aliado na zona. Ainda na opinião de Tisdall, historicamente, rixas deste género entre estes povos têm sido seguidas de um decréscimo de agressividade e reparação das relações entre os dois estados. Até porque entre estes últimos, existe uma balança comercial de enorme peso e torna-se do próprio interesse nacional de ambos, fazerem a manutenção dessa balança comercial.



Contudo poderá ser diferente desta volta. Mrs Clinton terá anunciado que era do interesse nacional dos EUA que houvesse livre passagem pelo sudoeste do Mar Chinês, algo que o governo Chinês tomou como uma provocação, assim como achou “intolerável” a oferta de compra das ilhas por parte do Governo Japonês (desta jogada, falar-se-á em pormenor mais à frente). Entra como factor nesta história, que como a administração Obama tem alargado relações comerciais com o Vietnam, a Tailândia e a Indonésia, e restringido a Coreia do Norte (aliada da China), a China ficou ainda mais reticente na sua relação com o Japão e com os outros seus vizinhos e mais preocupada com a sua própria segurança nacional.
Desta volta, temi eu, podemos não ter um final feliz, particularmente derivado a mudanças políticas internas do Japão que levaram à decisão de avançar com a compra pelo governo (ou nacionalização à la capitalismo) destas ilhas com ideias ou fito de as começarem a explorar. O primeiro-ministro Yoshihiko Noda foi quem avançou com essa iniciativa. A China, como seria de esperar, respondeu:


O P.M. Noda parece manter uma posição inflexível de que as Senkaku são território japonês e pronto. Apelou à calma da China, mas sem se mostrar disposto a quaisquer negociações ou concessões sobre o assunto. Eis a posição oficial do governo japonês:
O diplomata norte-americano Stephen Harner terá dito à Forbes que a tensão entre a China e o Japão atingiu níveis assustadores. Harner é da opinião que Noda, embora tenha sido exemplar na política interna do país (debatível considerando que é pró nuclear quando a maioria japonesa parece não o ser), tem levado o Japão a ser o principal causador da elevar das tensões entre os dois países.
Stephen Harner é de facto um contribuidor da Forbes e escreveu também um artigo nesta revista cujo cabeçalho diz: “Os Estados Unidos podiam ter evitado a crise Senkaku/Diaoyou. Porque não o fizeram?”. Uma boa pergunta e uma afirmação interessante. Ele começa por dizer que, à parte da corrida a armas nucleares por parte da Coreia do Norte e do Irão, esta disputa é a mais proeminente causa para guerra no Mundo actualmente e que é provável que assim se mantenha por tempo indefinido. O diplomata, embora reconheça que todas as partes interessadas teriam a ganhar em não fazer crescer a crispação entre si, afirma que os EUA podiam ter vetado a decisão japonesa de nacionalizar as ilhas, decisão esta que foi o que volatilizou toda a já tensa situação. Harner diz-nos ainda que o actual embaixador japonês nos EUA, declarou numa entrevista, a 31 de Outubro de 2012, que ao questionar os EUA sobre a compra obteve a resposta de que a América não se iria opor, dando assim “permissão” ao Japão para agir como agiu. É ainda da opinião do diplomata que se os Estados Unidos não tivessem concordado, Noda teria impedido a oferta de compra de acontecer. Stephen Harner postula depois que a culpa será atribuída ao facto das relações entre a China e a América terem vindo a deteriorar e a tornar-se cada vez mais abrasivas, com a tomada de posição dos EUA em retomar o imperialismo naquela zona do mundo e a reanimar os velhos planos contra os aliados de inimigos d’outrora. É uma opinião.

Contudo, toda esta crise foi abafada pelo súbito crescer de tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul/EUA, pois o novo Pequeno Líder (que como decerto sabem é a encarnação do pai, que fora a encarnação do avô… esse sim um Grande Líder -_-) quis mostrar aos seus generais que tem um míssil nuclear em vez dum pénis. A Coreia do Norte, como bloco Orwelliano que pretende ser, barafustou imenso, mostrou as suas armas, até atirou testou mísseis de longo alcance e expulsou sul-coreanos de um complexo industrial que até então era usado por ambos os países, de tal forma que até a China, sua aliada, lhes teve de dizer: “Deixem-se de birras, pá!” Se não leram o 1984, a guerra é usada pelos blocos totalitários para manterem os seus respectivos povos sob o jugo do medo e da miséria constantes. O mesmo se passa na Coreia do Norte, onde o Líder declarou ao seu povo que as ajudas humanitárias que os EUA e outros lhes enviaram em troca deles cessarem o seu programa de armamento nuclear, eram uma respeitosa e temerosa oferenda ao Grande Líder.
Já desde a administração de Bush Júnior, que a política dos EUA para com a Coreia do Norte consiste em procurar mantê-los controlados via China. Como? Bem, reforçando a ideia de que se os Norte coreanos realmente obtiverem armas atómicas de longo alcance, então rapidamente o Japão construirá as suas, o que para a China não é uma perspectiva nada confortável.
No meio de tudo isto, as Senkaku aparentemente ficaram esquecidas… por hora. Mas esta questão voltará à baila, podendo levar a uma Guerra no Pacífico entre super potências com capacidade nuclear. Ora é aqui que entra a parte GLOBAL da coisa! O que é que a Guerra Fria nos ensinou? Que se houver uma guerra nuclear não haverá neutros. A precipitação radioactiva alastrará as consequências dum tal conflito para o resto do mundo. Como tal, será bom levarmos a questão a sério. Cheguei a sugerir num outro post, que talvez Portugal, considerando as boas relações que mantém com a China e o Japão e que não terá nenhum outro interesse além de promover a paz entre dois seus aliados económicos e culturais, pudesse servir de mediador externo para a resolução deste berbicacho. Mas depois, como dizem os meus amigos d’Além Mar, “caí na real, cara!”. Com que credibilidade o faríamos?
Video com as declarações do Passos sobre a Força de Resposta Rápida e uns extras divertidos
Não me refiro ao facto de estarmos às sopas de bancos estrangeiros e de agências de rating, apenas. Refiro-me essencialmente ao facto de a nossa política externa actual ser uma anedota pegada.
Para fundamentar esta afirmação, comecemos por falar na nossa reacção e conduta aquando do recente golpe de estado na Guiné-Bissau. Paulo Portas surgiu na televisão, vi e ouvi eu, a reclamar que o golpe de estado era ilegal. Péssima escolha de palavra, uma vez que não há nenhum golpe de estado que seja legal, senão não era um golpe, era apenas uma mudança de governo depois de eleições. Em seguida, e para mérito das nossas forças armadas, despacha uma força de resposta rápida para Bissau em bom tempo útil, ficando esta ancorada ao largo da costa guineense uns tempos para depois voltar de rabo entre pernas. O pretexto? A salvaguarda da segurança dos portugueses que residem na Guiné-Bissau. Até aplaudiria não fosse o resultado. Não houve necessidade de trazer ninguém, aparentemente ninguém se sentiu ameaçado.
Paulo Portas de seguida, com o apoio pelo menos da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), pediu na ONU uma intervenção para restituir a legalidade democrática no país. Mas eis que surge a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e assume controlo da situação. Despacha para lá uma força nominal de algumas centenas de homens para, alegadamente, policiar a transição de poder, decide quem será o chefe de estado na transição e, efectivamente, enxota a CPLP e Portugal para fora da jogada, também evitando qualquer intervenção, enquanto Portas ainda andava a pedir a força de intervenção na ONU. Resultado disto: a CEDEAO já adiou várias vezes a data para as eleiçõesque reporão a democracia na Guiné-Bissau, enquanto mantém o seu “escolhido” no poder. Uma completa não-resolução do problema. Enquanto isso, o problema da droga na Guiné-Bissau contínua a ser confrontado pelos EUA. Afinal para que serve a CPLP? Para justificar o AO90 talvez? E que credibilidade teve Portugal, ao despachar o seu poderio militar para nada? Não há pior demonstração de fraqueza que é fazermo-nos fortes e deixarmos que o nosso bluff seja comprado. É como quem tem uma arma. Se não a está disposto a usar, mais vale não sacá-la, sempre me disse o meu pai. A nossa força de NÃO intervenção, a mon avis, foi mais uma humilhação que Portas comprou para Portugal, esta última criada pela sua falta de traquejo:

Depois temos a Guerra contra o Islamofascismo. A França, nossa suposta aliada em todas as organizações internacionais excepto a CPLP por razões óbvias, faz uma intervenção no Mali, enviando tropas e equipamento para o terreno e Pedro Passos Coelho dá-se ao LUXO de ir visitar a França, dar uma palmadinha nas costas do seu homologo francês e dizer: “Hollande, mon ami, nós vamos ficar de fora desta, ‘tá? N’há guito, ‘cebes? Se precisares podemos depois mandar os nossos instrutores ensinar os nativos a dar uns kicks, yá?! Ma friend!” e veio-se embora, congratulando-se pela missão cumprida depois de afirmar que Portugal apoia esta acção da França… em espírito. País tão católico que me faz querer vomitar coisas que já me esqueci de ter comido (parafraseando o Hitch).
Ok, é verdade. Não temos dinheiro para andar a policiar o Mundo. Mas não se trata disso. A política externa trata-se de fazer jogadas no palco internacional de forma a fortalecer relações de mutuo interesse e cooperação, com determinados países, de forma a assegurar os nossos interesses. O que é certo é que os Fascistas com Face Islâmica (mais uma vez parafraseio o Hitch) não vão esquecer o nosso papel na libertação de Timor Lorosae. Eu lembro-me de ver com orgulho os nossos Pára-quedistas a darem cabo dos islâmicos no noticiário da RTP1, era eu puto. Eles, que querem restaurar o seu antigo Califato (que incluída a Andaluzia e o Algarve), não esqueceram o nosso papel na sua perda dessas terras. Esta guerra é nossa, quer nós a queiramos quer não. E os nossos rapazes precisarão de experiência de campo, quanto mais não seja para a passarem às próximas gerações de militares portugueses. Temos dos melhores militares do mundo e sabemo-lo! Sempre que há exercícios da NATO, lá estão os ‘tugas entre os mais bem cotados, quando não são o topo da tabela. Tivemos dinheiro para mandar uma frota dar uma proverbial volta ao bilhar grande, não temos agora para mostrar aos fundamentalistas que temos valores tão vinculados quanto os deles e que estamos aqui para lutar por eles?
 Resta-me só analisar o corrente Ministro dos Negócios Estrangeiros, el Paulinho das Feiras, o sr Paulo Portas, líder assumido da Direita Cristã Portuguesa. Ora este último já revelou ser um mentiroso (Clicar para comprovar a afirmação anterior) de oportunidade, um hipócrita histórico (clicar aqui para comprovar afirmação anterior), cujos princípios, se é que os tem, variam conforme está na oposição ou no governo (ver imagens). E só não lhe chamo corrupto porque isso, infelizmente, ainda não tenho como provar e não estou disposto a ser levado a tribunal por difamação (cof cof submarinos cof cof... estas mudanças de clima súbitas dão cabo da minha renite).
Politicamente, é aquele tipo que traça uma linha na areia e depois apaga-a ele próprio (dadas as últimas notícias sobre as novas medidas de austeridade acho que não preciso dizer mais). Já as suas anteriores declarações, desde que está no governo, desde que assumiu o poder que na sua juventude dizia odiar acerrimamente, só resultaram em que ele tenha andado a engolir sapos, que um Coelho da Páscoa e um Gaspar, o Fantasma Hostil, alegremente lhe vão enfiando goela abaixo.


Quanto ao AO90, foi dos corajosos (palavra escrita com um abuso de sarcasmo) que se abstiveram aquando da votação na Assembleia da República, mas agora que tem um tacho no governo, está constantemente a afirmar que tem de ir para à frente e vai mesmo, tendo-se tornado desde que assumiu funções um fervoroso mAO90ista! Não se preocupem, o mAO90ismo é perfeitamente compatível com qualquer outra religião. Aliás, a sua defesa e aplicação é pura questão de Fé.
Por fim, é claro, vamos abordar a nossa única política externa imperialista: o Acordo Ortográfico de 1990, que já todos sabemos bem o desastre anedótico que é.

Com estes vendedores de automóveis usados como governantes, só podemos esperar da nossa política externa uma completa vassalagem a Broxelas (deve ser erro ortográfico, deve) e pedinchar umas esmolas aos restantes na forma de compra da nossa dívida externa. Ai, se o Dom Afonso Henriques ou o Marquês de Pombal nos vissem agora…

terça-feira, 14 de maio de 2013

Novidades Nipónicas e + Desacordo!

Olá, "senhoras e senhores, irmãos e irmãs, amigos, camaradas"!
Esta entrada para variar vai ser curtinha mas ainda assim cheia de informação. Para não variar vou cascar mais um bocado no Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), ao mesmo tempo que vos dou as últimas sobre Portugal e o Japão.
Começo por vos falar de oportunidades, lá fora e cá dentro:

O Japão estreita mais uma vez a distância que nos separa disponibilizando bolsas de estudo/investigação para portugueses que queiram para lá ir estudar. O processo de candidatura está todo explicado nesta notícia do público.
As oportunidades dentro do país vão aparecendo mensalmente, sendo focam a transmissão cultural, e poderão verificá-las no:

Dos eventos destaco a Festa Japonesa, em Belém, que se realizará a 15 de Junho, no Jardim do Japão. (para mais informações, verificar link acima).

E pronto, tendo terminada a parte agradável, vamos então agora abordar o (des)Acordo. Lembram-se de eu vos falar, e não sou o único, da ambiguidade inata deste AO90? Bem, eis mais um exemplo de como ele sabota qualquer tentativa de se ter um vocabulário científico universal e NÃO ambíguo.


Repare-se que o Expresso já adoptou um novo Acordo Ortográfico. Não o de 1990, que diz utilizar, mas o AOCM (Acordo Ortográfico do Correio da Manhã), que basicamente diz que se aplica o AO90 mas não completamente... Esta universalidade é suprema.
No boletim que postei acima da Embaixada do Japão só detectei um erro derivado à aplicação do AO90, mas ou foi lapso ou foi causado por copy paste uma vez que o evento em questão está relacionado com uma escola portuguesa.
Como gosto sempre de fazer, vou deixar-vos também com mais uns exemplos de desobediência activa ao Acordo Ortográfico de 1990:
O Jornal Sénior é uma nova publicação, com um público alvo mais velho o que é inteligente sendo que a realidade portuguesa é a de uma população envelhecida, tal como parece que acontece no Japão. Este jornal não aplica o AO90. Como costumam dizer os camaradas da página do Facebook Tradutores contra o Acordo Ortográfico: "Saúda-se!"
Escrevem-se livros não só a identificarem pormenorizadamente os erros do AO90, mas também a contar a sórdida Origin Story (expressão idiomática do mundo da banda desenhada norte-americana) deste documento pseudo-científico, pseudo-cultural, gerado por interesses político-económicos.
Por falar em Economia, note-se que parece que se venderam cerca de 1 milhão de livros a menos em Portugal no ano de 2012, face aos anos anteriores. A primeira reacção (e não pode deixar de ser um factor com enorme peso) será culpar a crise. Mas será só isso? O camarada JAA do blog que postarei a seguir não acha e eu partilho da sua opinião:
Só para enfatizar este argumento, vou partilhar com vocês algo que me aconteceu recentemente. Estava eu no Vasco da Gama, Centro Comercial em Lisboa, a fazer tempo à espera que me enchessem o tinteiro da impressora, quando resolvi ir à Bertrand ver as novidades e quiçá ler umas páginas de algum livro desconhecido. Tinha 1 hora para matar, segundo o funcionário da Worten. Depois de vaguear pelas estantes encontrei um livro de autor português cujo título me intrigou. Chama-se "O Leitor de Cadáveres". A história passa-se na China, no início do segundo milénio D.C., anno domini se preferirem, e conta a história de um rapaz muito inteligente que se tornará uma espécie de médico legista da época. A contra capa do livro informa que a história é baseada em dados históricos e como eu sou grande admirador da civilização milenar chinesa (quanto mais não seja pela sua esmagadora antiguidade), peguei no livro e comecei a devorá-lo. Perdi contudo o apetite e até a fome, quando já ponderava comprá-lo, quando detectei o AO90. Foi difícil, pois nas primeiras páginas não aparecem nenhumas palavras em que houvesse diferença. Assim que tal aconteceu, fui ver a editora... tem o nome Porto, mas não foi por ser Benfiquista que eu, após acabar o primeiro capítulo, arrumei o livro onde o encontrei e fui buscar o meu tinteiro, já sem interesse nenhum em gastar o pouco dinheiro que tenho num livro cuja história até me poderia ter interessado. É que como disse Saramago, ele a ironizar mas eu muito a sério parafraseio, tirarem-me os C's e os P's faz-me mal!
Felizmente ainda há editoras com inteligência e noção de cidadania, como a Guerra e Paz que acabou de se juntar às nossas fileiras, no mesmo mês que a Maxim saiu do armário: o mais recente inimigo do AO90.

O meu melhor amigo está-me sempre a dizer que não vale a pena, que não percebe porque me importo com isso, que já não há volta a dar, porque o AO90 já está implementado, que os putos já o estão a aprender na escola... mas estarão mesmo? Como os governos do centro adoram destruir a Educação é algo que me espanta tanto que não me espanta nada, pois os governos do Statu Quo, dos interesses económicos, do PS(D), lucram da ignorância e apatia intelectual daqueles que governam. Neste tópico, aconselho a leitura também de outra notícia, desta volta sobre os custos que vão acarretar a súbita alteração no programa de Matemática, na qual um atento leitor do Público online comenta o facto de serem as editoras a lucrar com isto tudo e serem o lobby que domina o Ministério da tutela. Será sem dúvida nenhuma a isto que se refere o Cavaco (que teima em não arder de vez) quando fala no Potencial Económico da Língua Portuguesa, mais uma forma de infligir sacrifícios aos já martirizados portugueses. Sem dúvida o nosso iluminado PR é produto de divina inspiração (que afirmação mais deplorável do ponto de vista secular!!).

Para terminar, é importante perceber-se, e não me canso/nunca me cansarei de o realçar, que não é só em Portugal que se resiste ao AO90, mas sim em toda a Lusofonia. A Rádio Televisão de Cabo Verde e a Televisão de Moçambique não usam o (des)Acordo Ortográfico. Estes são os canais homólogos da nossa RTP nos seus países, canais públicos controlados pelo estado e ambos estes estados terão rectificado o AO90. Agora digam-me quem anda a propagandear desinformação, Ciberdúvidas? E o meu post anterior bem demonstra que muitos brasileiros estão contra o AO90.

Vá lá, portugueses, assinem sem demora a ILC contra o AO90 se ainda não o fizeram. Para tal usem os links abaixo:
Como obter o número de eleitor, via net ou telemóvel

Despeço-me com amizade, eternamente grato por me lerem, mais ainda se a mim se juntarem nesta luta as vossas vozes, pois se tens net e sabes ler, 'tá na altura de começares a escrever também! Convertam as vossas canetas em katanas! A Cristina Pinheiro Moita já o fez com o poema que abaixo vos deixo.
Abaixo o mAO90ismo!
Sayonara, tomodachi! ;)

«Este acordo ortográfico
Por vezes até nos faz rir
Não sei por onde parámos
Ó que caminho a seguir
Se é “pára” já não existe
Se para não sei se “pára”
Para / “Pára”
“Pára” / Para
Quem me sabe explicar?
Porque não “pára” a idiotice
As crianças gostam de brincar
Mas não querem tanta burrice
Faltasse a pala ao Camões
Quem sabe ele ainda visse?
Para trocar o “pára” por Stop
Antes que alguém caísse»