sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Prólogo

Caros leitores,

o objectivo deste blog é comemorar o 150º aniversário do Pacto de Paz, Amizade e Comércio, estabelecido entre Portugal e o Japão. É precisamente em 2010 que este aniversário se verifica e daí o blog surgir agora.
Tentarei assim, de uma forma bastante humilde, aproximar os dois povos pela única via que me está aberta, a da cultura! Assim, as entradas deste blog serão temáticas, dando a conhecer aos leitores, que eu presumo venham a ser maioritariamente portugueses, vários aspectos da cultura e história nipónicas. Farei também várias comparações entre aspectos de cultura japonesa com a nossa e dessa forma procurarei evidenciar as semelhanças entre os nossos povos, no seu melhor e no seu pior, assim como as diferenças. Posso desde já oferecer um vislumbre do que se seguirá. Falarei de futuro sobre artes marciais japonesas e portuguesas (sim, também existem!!!), compararei o cavaleiro medieval português com o samurai japonês, falarei da nossa chegada ao Japão e de como fomos os principais causadores do fim da era dos samurais, introduzindo naquele país as armas de fogo. Falarei ainda de filmes relacionados com o Japão ou mesmo japoneses, séries de anime que gostei e que sugiro, da posição dos dois países na 2ª guerra mundial, etc...
Além disso, no final de cada entrada, deixarei uma parte do Código do Samurai. Reparem que por razões cínicas do mundo em que vivemos, não poderei transcrever literalmente o código do samurai. Tentarei então transmiti-lo por palavras minhas, tentando ser fiel às ideias lá retratadas, mas sem dúvida impregnando-o da minha própria perspectiva. Dessa forma, e também de forma humilde, procurarei trazer o código do samurai à luz do século XXI e numa perspectiva portuguesa. Isto acho que é útil uma vez que aquele manuscrito centenário tem princípios básicos que podem facilmente ser aplicados à vida quotidiana ou profissional, tornando o seu seguidor uma pessoa mais ética, mais feliz e mais em paz consigo mesma.

Quanto ao título deste meu blog... Usei palavras que fossem sobejamente conhecidas pelos ocidentais apaixonados pela cultura nipónica e, sejamos francos, quem das pessoas da minha geração e mais velhas não ouviu já falar de ninjas ou de samurais? Contudo, o título não é assim tão supérfluo, e tem em si um significado um pouco mais profundo. Comecemos pelo N.I.N.J.A.:
- a palavra ninja no ocidente alude a uns quantos clãs japoneses que viviam em contracultura no Japão medieval. Não seguiam nenhum senhor feudal, eram peritos em variadíssimas artes de morte e subterfúgio as quais vendiam a quem lhes pagasse mais ou usavam de acordo com os seus próprios desígnios. No Japão, chamam-lhes Shinobi. A maneira como matavam, através da camuflagem, do disfarce, do silêncio, da sabedoria sobre os pontos vitais do corpo humano e o uso de hipnotismo e ilusão, fez com que nas lendas da época fossem dotados de artes e poderes mágicos. Admiro-os pelo seu gosto pela liberdade, pela sua resolução em não dobrarem joelho a nenhum senhor feudal e pelos saberes que mantinham. É minha veia lusitana a ressurgir. ;D Mas o ninja que dá título a este blog é um ninja ocidental e é uma sigla. Esta sigla é um triste testemunho da época de instabilidade económica e pobreza que assola este nosso mundo. Esta sigla é usada na gíria bancária: No Incomes, No Job or Accepts. Quando pensei neste blog, não tinha emprego e era um NINJA. Usei este nome também para que fique bem patente a época em que este blog surgiu;
(não tá má, embora esteja em português brasileiro: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ninja )
- agora ataquemos o Samurai. Como nos ensina o filme "O Último Samurai", a palavra samurai quer dizer "servir" e não "guerreiro". Pois muito bem, este blog procura servir o povo português, oferecendo-lhe uma janela para dentro da cultura japonesa e desta forma reforçar os laços entre dois povos que têm tanto de semelhante como de diferente, e que tem muito mais a ganhar em cooperar activamente um com o outro do que em deixar enfraquecer os laços centenários que os unem, à medida que as areias do tempo se esvaem inevitavelmente.

Não me resta mais nada para dizer por hora, excepto deixar então o prólogo da Minha Interpretação do Código do Samurai, uma vez que este é o prólogo deste meu/nosso blog.
Deixo também a sugestão, para quem gosta de exposições de arte, sigam este link:
http://www.japao-portugal150.com/





A Minha Intrepretação do Código do Samurai - Prólogo



A primeira, e talvez mais importante, noção do código do samurai é o dever do guerreiro de manter sempre presente a ideia da morte eminente em todos os aspectos da sua vida quotidiana e profissional. Assim, o guerreiro terá consciência de que a morte poderá surgir-lhe a qualquer momento e como tal viverá ao máximo todos os segundos da sua vida. Em possíveis discussões, o homem que aceita que poderá morrer no momento seguinte, mede bem as suas palavras antes de as proferir, a fim de ter a certeza de não dizer algo que se arrependa de seguida. Pois se o fizer e a morte vier, morrerá em falta para com quem estava a discutir. Morrerá com arrependimentos e não terá uma morte honrosa. Seguindo esta ideia, o guerreiro dirá o que precisa de dizer aos que estima e aos que odeia, sem medos, porque a morte estará eminente e aquela poderá ser a última oportunidade que terá para dizer o que tem a dizer. Não deixará passar boas oportunidades, pois saberá que a morte está “ao virar da esquina”. Portanto, este primeiro e mais importante princípio, estando presente, obriga o guerreiro a viver como se todos os momentos da sua vida fossem o seu último momento, aproveitando-os ao máximo, medindo cada acção para viver sem arrependimentos e conservar a sua honra e aqueles que lhes são queridos bem cuidados e felizes. Este “carpe diem” oriental, este “chupar o tutano da vida” japonês, pode e deve ser aplicado a qualquer tipo de vida. Não precisamos de ser guerreiros para vivermos ao máximo e sem arrependimentos. Há que pensar antes de agir, a fim de evitar a desonra e os erros.
Por outro lado, mas com uma lógica fria e correctíssima (na minha opinião), o código do samurai explica ainda que, o guerreiro que tem sempre presente a ideia da morte eminente cuida da sua saúde e como tal procura ser moderado na alimentação, na bebida e na folia. Usufrui destas por certo, mas em dose q.b., e não como forma ou estilo de vida.
A ideia da morte permite ao guerreiro assim duas coisas. A ideia de que a morte é inevitável e eminente faz com que o guerreiro proceda da forma mais correcta possível, evitando assim erros e remorsos ao longo da vida, permitindo-lhe também actuar durante a sua vida sem medo da morte, pois estará de bem consigo mesmo e viverá sem arrependimentos. Por outro lado, a ideia de que a morte pode surgir a qualquer momento leva-o a viver cada segundo da sua vida como se do último se tratasse, não desperdiçando tempo, gozando todos os pequenos e grandes prazeres da vida, quando as oportunidades surgem e em quantidades apropriadas. Sem esta noção, o samurai é fraco, não gozará de uma longa vida nem de uma vida honrosa.
É dessa forma que se pode viver “a vida em cada fôlego, morte a cada instante”, como é dito no “O Último Samurai”. Há então que manter a consciência no momento presente, com a morte a pairar sempre sobre a cabeça (como ela está na realidade), para não fazermos algo de que nos possamos arrepender ou para impedir que nos venhamos a arrepender de não ter feito algo quando tal oportunidade surgiu.