segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Info Sociocultural III

E estão a terminar, com o término do ano, as comemoraçãos do 470º aniversário da relação entre Portugal e o Japão. Deixo-vos o link para o pdf informativo da Embaixada do Japão, do qual e como é meu hábito saliento alguns pontos:

- a decorrer durante este mês, está um ciclo de cinema japonês na Cinemateca Nacional:
- já no próximo dia 11, portanto esta quarta-feira, vai haver um workshop centrado na obra de Robert J. Langdon (nada relacionado com o Código Da Vinci garanto-vos) no que diz respeito à arte nipónica de dobragens em papel, o Origami. Entre outras coisas, o cientista em questão ficou conhecido como o grande teórico da "matemática do origami". Este evento não está no boletim, mas a imagem é um printscreen do site da Embaixada.

- a decorrer está também a exposição Tourbillon:

- por último, a embaixada deu já aviso prévio sobre cursos centrados em cultura japonesa, que acontecerão nos vindouros dias de Janeiro e Fevereiro do próximo ano:
Como poderão perceber, muitos destes eventos estão relacionados com o Museu do Oriente que, para meu gáudio e contentamento, também não adoptou o pérfido desAcordo Ortográfico de 1990. O site é user friendly e para quem tem interesse em cultura oriental vale muito a pena consultar de tempos a tempos:

Agora, vejamos a cultura de origem nacional.
Para começar, também com início no dia 11 e em cena até ao dia 15, no teatro da Comuna em Lisboa, temos a peça de Rui Neto, com desempenho de São José Correia, intitulada Worms.
Não deixem de visitar o blog da peça por vocês mesmos, pois está extremamente simples, altamente funcional, sem Acordo Ortográfico, completo com um teaser trailer para a peça e também fotos dos bastidores. Eu já reservei o meu bilhete. Vejo-vos lá! ;)
A São José Correia chegou a ser minha vizinha, vivemos durante um semestre na mesma rua. Embora a visse muitas vezes nunca fui incomodá-la. É certo que os actores acabam por, e como dano colateral do seu ofício, ficar conhecidos, mas é minha opinião que isso não nos dá o direito de andarmos a chateá-los ou pior ainda feitos maluquinhos a tirar-lhes fotografias para vender às revistas cor-de-rosa hipersensacionalistas, como a da qual retirei isto:
Agora, eu duvido muito que a São vá ficar mesmo Nua em Palco. Não que eu me opusesse, como é lógico, mas estamos a falar de alguém que recusou os vários avanços apoiados por avultadas quantias, por parte da playboy para pousar nua, se bem se recordam de há uns anos quando a actriz esteve por terras de Vera Cruz. Há ainda a sua afirmação, aqui contada pelo Fernando Alvim:
E no seguimento da ideia perpetuada pela resposta da São, não se esqueçam de protecção!

Saúdo ainda Francisco Goiana da Silva, médico estagiário que procurou com uma exposição de escultura para obter fundos para pagar o seu estágio e que vai para representar Portugal em Davos, na Suíça, onde se vai debater a Humanidade. E lá Francisco vai procurar mudar o mundo e argumentar em defesa do Serviço Nacional de Saúde Português, especialmente o seu carácter constitucional de "tendencialmente gratuito".

Estamos em época natalícia e o presidente da câmara alfacinha não se poupou a despesas para a celebração. Entre 14 e 24 de Dezembro, o Terreiro do Paço vai ser inundado de luz, num espectáculo chamado Circo de Luz, que incorpora a técnica de 3D mapping para projectar imagens luminosas. Os Deolinda e o Nuno Markl ajudam a animar a festa, juntando som e voz à luz. Eu não estava em Lisboa, há uns meses, quando houve um evento semelhante e estou felicissímo por ter uma segunda oportunidade de o desfrutar.
http://www.vousair.com/cartaz/novidades/espectaculos/item/8577-espectaculo-circo-de-luz-no-terreiro-do-paco 

Ah, sim! E parece que os Gato Fedorento irão voltar à televisão com um... coiso!

No espírito do N.I.N.J.A. Samurai, que celebra a nossa amizade com o Japão o ano todo, todos anos, deixo-vos ainda um link para um episódio do programa de TVI24 denominado "Ganhar o Mundo", que fala sobre o Japão e as possibilidades económicas, com a participação do Embaixador do Japão em Portugal e que toca também a nossa história comum que já tem quase 500 anos de idade. Espero, antes de findar o mês, aqui deixar um post sobre precisamente esse episódio dos Descobrimentos, em detalhe, um vez que é ignorado (ou infelizmente o foi quando eu estudei História) no Ensino Público.

Por agora é tudo. Espero voltar em breve, mas desejo-vos desde já um excelente mês, o melhor Natal possível e umas óptimas entradas para 2014. ;)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Rápidögraphia: Álvaro Cunhal

Não sou historiador, nem tão pouco tive ainda ocasião para ler as biografias não autorizadas dele ou muita da restante tinta que sobre ele correu. Que posso eu então adicionar? Apenas a minha perspectiva, baseada em tudo o que encontrei online (vídeos de youtube, artigos de jornais, o próprio site do centenário criado pelo Partido Comunista Português [PCP]) e que tenho analizado criticamente ao longo deste ano.
Álvaro Cunhal foi para uns a encarnação de um bicho papão, para outros o homem que os lideraria para "os amanhãs que cantam". P'lo meio, existem os que, independentemente do lado da barricada política em que se encontram, conseguem descortinar para lá de todo o ruído branco da imprensa, nacional e estrangeira, o enorme intelecto combinado com poderoso e estóico coração solidário que foi o camarada, como de resto fica testemunhado na tão abrangente obra que deixou ao Mundo.
O que eu, por exemplo, desconhecia até ir à exposição sobre a vida e a obra do líder histórico do PCP, era que ele tinha tido 3 irmãos, dois dos quais morreram muito novos. Como demonstra a imagem abaixo, o seu irmão mais velho, mesmo tendo morrido novo, também deixou rasgos de uma potente mente artística e de revolucionário, algo que deve ser intrínseco à família.
É que, na verdade, Cunhal sempre foi reservado quanto à sua família, factor decerto propício à imagem que os seus inimigos e adversários quiseram que a maioria dele tivesse: um estalinista desumano, frio, calculista, sedento de poder. Humildemente vos digo que, interpretando os documentários feitos sobre ele e sobre o PCP durante a sua liderança, com o devido desconto que se deve dar aos media e tendo também em conta o quão desfavorecido a nível de comunicação social o PCP estava nos anos '80 e '90, acho que o Álvaro foi um humanista, mais que ideológico, idealista e que queria efectivamente mudar o mundo para melhor. Digo isto, obviamente admitindo que não sabemos se o teria conseguido caso tivesse tido o apoio do povo pós revolução, pois até ele chegou a dizer que o caminho para o Comunismo é desconhecido, nenhum marxista o conhece, e que cada país é um caso diferente com soluções diferentes em si mesmo. Ou seja, ao contrário do que gostam de fazer crer, que o marxismo é uma receita, a cassete, e que já foi provada ineficaz, Cunhal afirma que assim não é. E nisso, como em muitos outros tópicos, concordamos. Voltando à questão da família e vida privada, numa entrevista que vi a Johnny Depp, este último contou que um dos conselhos que Marlon Brando lhe deu de forma mais veemente foi: "Nunca fales da tua família!". Eu acho que Cunhal seguia essa linha de pensamento, resguardando da sua exposição mediática os seus entes queridos. Isto é afirmado pelo próprio Cunhal no vídeo que "linko" abaixo uma vez que o blogspot há vídeo que não quer exibir e só permite "linkar". Damn the ghosts in the machine!!
Antes que comecem com as piadas, este vídeo já foi uma vez removido do youtube pois estava a ser instrumentalizado para gozar com o Carlos Cruz, com um título alusivo ao seu envolvimento no Processo Casa Pia. Ainda bem que eu na altura achei por bem sacar o vídeo para o meu arquivo pessoal. Dizia o título do vídeo na altura, que é um segmento duma entrevista na RTP, feita em 1992.
Incidindo nessa parte da sua vida, da qual até há bem pouco tempo tão pouco nos chegou, a jornalista Judite Sousa aceitou um convite do PCP para escrever um livro sobre Cunhal, para marcar também dessa forma o Centenário da figura histórica. Desse livro, surgiu a seguinte peça jornalística que seria insensato deixar de fora deste post:
Há muitas coisas a realçar deste documentário curto da TVI. Comece-se pela relação de grande intimidade com a irmã, com quem estava sempre que podia, com quem muito falava, e a quem fez muita falta durante os anos de prisão, onde ainda assim se podia ver, e os anos de exílio quando assumiu em pleno a direcção do PCP contra o Estado Novo. Acho interessante aqui colocar então este vídeo que é uma reflexão da sua irmã Eugénia sobre o que é o comunismo, ou de como ele deve ser para funcionar:
Depois, a relação com a sua filha. Também essa perturbada sem dúvida pela vida da clandestinidade que muito os separou, mas há ali um carinho genuíno naquela abraço fácil e impregnado da confiança que só o amor e a confiança filial e paternal conseguem produzir, sendo que se não existir a cumplicidade na relação então isso traduzir-se-ia inevitavelmente na linguagem corporal de ambos ou pelo menos de um. Além disso, o episódio que é falado acima na escola, em que a Ana Cunhal se defendeu de provocadores com um golpe de Karate... meus amigos, qualquer pai que dê uma educação destas à filha merece respeito como um bom pai. Preparou-a para uma vida num mundo perigoso e em convulsão como sabemos o nosso ser. Somando isso à amizade e cumplicidade que parecem ter mantido apesar das distâncias que muitas vezes os separaram, diria que ele foi um excelente pai. Além disso, o mundo melhor que ele queria criar seria em prol do futuro da filha e dos netos.
Juntando isso aos anos que ela viveu na URSS, e tendo uma ideia da qualidade do ensino por lá antes da queda do muro, a filha de Cunhal é uma mulher que eu adorava conhecer e travar conversa. É daquelas pessoas que deve ter imenso para contar e ensinar.
Acho aqui também pertinente fazer notar o quanto o pensamento político de Cunhal, em consonância com uma esquerda emancipadora e voltada para o futuro, se debruçava sobre as crianças (imagens acima), que hoje são o futuro amanhã, e os direitos da Mulher (imagem abaixo).
Quanto à reportagem de Judite Sousa, uma das coisas mais curiosas que nela encontro, para além do testemunho de Joshua Ruah (médico de Álvaro Cunhal), são as declarações de Miguel Sousa Tavares (MST). O Miguel é daquelas pessoas que mesmo quando não se concorda vale a pena ler e ouvir, particularmente pelo facto de que embora ele não esconda que é de Direita, não tem afiliação partidária. Embora sempre com aquela pose um tanto ou quanto arrogante e de dono da verdade, que eu presumo venha da educação dada pelo pai que afinal era um monárquico, parece-me ser sério no sentido de que não está a soldo de ninguém. Nas suas declarações, dizia eu, os pontos mais interessantes são o que diz sobre o desejo de poder de Cunhal e o que diz sobre o encontro que teve com Cunhal no Algarve. Diz-nos que a primeira pergunta que fez a Cunhal foi sobre se ele queria ter ficado com o poder depois do 25 de Abril, "e ele disse-me que não, mas eu acho que sim." é como conclui MST sobre isso. Ora bem, é óbvio que Cunhal queria o poder, todos os políticos o querem. A minha diferença de opinião com o MST é no tipo de poder. Cunhal não conspirou nos eventos que levaram em Novembro de '75 ao confronto entre forças militares. O próprio Ramalho Eanes que levou a cabo a operação militar que contrapôs essa revolta dos pára-quedistas, afirmou que a situação resolvera-se depressa porque os militares envolvidos não tinham ligações partidárias (fonte aqui, perto do final do Documentário da RTP - "Portugal 74-75" - O retrato do 25 de Abril). Depois porque Cunhal não era parvo. A razão que ele apresenta para querer adiar as eleições democráticas era de que, em grande parte do país, as pessoas eram coagidas pelo medo e pela fé a serem anti-comunistas. Prática que fora enraízada ainda no tempo da ditadura e que foi (ab)usada depois pelo Centrão para fazer política. Ou nunca ouviram dizer, a título de exemplo, "É pá, aquele Jerónimo de Sousa parece ser uma excelente pessoa, se calhar dava um bom presidente da República... mas é comunista, pá." Ou seja, Cunhal sabia que naquela altura os comunistas não tinham hipóteses numas eleições, e Soares também o sabia daí a democracia lhe ser tão apetecível. A questão é que Soares também queria o poder. Eu penso que Cunhal queria estender o PREC, para lhe dar uma hipótese de funcionar, de reorganizar o país, expulsando os banqueiros e afins (muito como fez recentemente a Islândia), reordenando o território, reforjando a agricultura e a industrialização. Roma não se fez em dois anos, sequer. E note-se que os governos de hoje se queixam sempre de 4 anos não chegarem para modificar para melhor o país, por isso como é que o povo e alguns analistas esperavam que o PREC resultasse em 2 e tão conturbados anos? Mas a Revolução teria de ter feito esse milagre para agradar às pessoas. Estranhamente, há segundo o Expresso (notícia aqui), 20% dos portugueses hoje que acreditam que a austeridade resolve a crise mas precisa de tempo. Interessante que para a austeridade, que nada cria, já tem de haver tempo para os adeptos da direita, mas para melhorar o aparelho produtivo não. Até porque, creio eu, Cunhal também tinha uma visão da democracia que vai nas linhas de Rosseau, que leva à conclusão que ela não existe em Capitalismo, e que aquelas eleições apressadas iriam apenas abrir as portas aos capitalistas:
Na minha opinião, o que Cunhal cria era consumar a Revolução e evitar que esta fosse abortada como veio a acontecer às mãos de um suposto revolucionário que é, ainda hoje, só ares. Já lá iremos.
Depois a um nível mais pessoal, Sousa Tavares fala-nos dum encontro fortuito no Algarve com Cunhal, ambos de férias, em que MST ajudou o líder comunista a escolher melões (pelos 39min), e expressa um arrependimento por não ter convidado o Álvaro para tomar um café. Ora, eu não desejaria ir tomar café com Hitler, Mussolini, Mao ou Estaline se pudesse. Não teria nada para lhes dizer. Eu acho que as pessoas com quem nós gostaríamos de travar conhecimento mais pessoal e "pick their brains" como dizem os americanos, são aquelas que nos fascinam e que de certa forma admiramos. É certo que também há fascínios mórbidos, mas o Miguel não me parece desses.
Esqueci-me acima de mencionar que MST também realça o enorme peso que Cunhal teve a nível do movimento comunista internacional, sendo muitíssimo respeitado pelos mais altos níveis da URSS. O jornalista afirma ainda que Cunhal "era uma pessoa que infundia muito respeito, intimidava!", aos 33min. Aqui temos uma confusão entre respeito e medo própria em acho do pensamento da direita, mas ainda assim creio que afirmada com admiração e não com malícia, visto que justifica a afirmação com o ele (Cunhal) "ser uma pessoa intelectualmente superior, de facto", além do seu passado de luta. E a essa tirada acrescentou ainda ao testemunho da personalidade carismática de Cunhal, um testemunho do fairplay que Álvaro tinha no debato político. O prazer pela discussão, que é notório também noutros marxistas eminentes como Hitchens (também já lá iremos), segundo MST era também apelativo a Cunhal.
Eu realço este testemunho precisamente por vir da Direita apartidária, de alguém que desconfia de Cunhal, que discorda dos seus ideais e visão de mundo, e ainda assim me parece admirá-lo. E aqui está uma prova, para mim, de que MST não é só arrogância.
Cunhal sempre fora enérgico, amante de desporto e de mulheres, de literatura e arte, com um sentido de humor patente nalgumas das suas declarações e posturas. Era um céptico, tanto que é dito num documentário de 2006 que "linko" abaixo, que ele não aceitou logo entrar para o PCP, quando o recrutador primeiro lhe falou. Foi estudar os vários sistemas políticos para tomar essa decisão. Tudo isso foi, na minha opinião, essencial para a suportar com paixão e (citando Odete Santos sobre comunistas em geral) "sangue na guelra" as vicissitudes envolvidas em todos os combates que travou, dentro e fora do partido e do movimento Comunistas.
A sua história em traços históricos e largos pode ser encontrada em pelo menos duas peças que estão completas no youtube e aqui coloco à vossa disposição, poupando-vos à sua busca virtual:
- Reportagem de 2006 sobre Álvaro Cunhal:
Links para o resto do documentário: Parte 2; Parte 3; Parte 4; Parte 5.

Álvaro Cunhal foi preso 3 vezes. A última terminou numa de duas das mais ousadas fugas prisionais do Estado Novo: a fuga de Peniche. Cinquenta anos depois, alguns dos participantes Cunhal e Camaradas, relatam como aconteceu: deixo aqui duas partes desse relato retirados duma reportagem da SIC:
Mas antes desta fuga, houve uma campanha nacional e internacional a exigir a libertação de Cunhal e dos presos políticos. Dessa campanha deixo a imagem abaixo, com artigos de jornais, panfletos e cartazes, que procuravam espalhar a palavra sobre Cunhal e sobre os horrores da prisão para o prisioneiro político:
Como é conhecido, também foi na prisão que Álvaro Cunhal acabou a sua licenciatura em direito, da qual ele disse, com humor e numa entrevista de rádio, não ter canudo devido a ter estado preso. A sua tese foi republicada mais recentemente quando se deu a discussão sobre o aborto, pois era esse o objecto do seu estudo. No júri estavam figuras proeminentes do Estado Novo, como o próprio Marcelo Caetano. Teve a nota de 16, mesmo naquele tempo dos "bons costumes católicos". Também foi ele que, sendo levado a tribunal, fez da sua auto-defesa um ataque ao Regime de Salazar, avisando-os que seriam eles um dia considerados criminosos e condenados e não ele. Quando questionado sobre o que o permitira aguentar as torturas constantes, ele replicou "Salvou-me o Trabalho".
A sua arte é deveras interessante. Eu esperava que ela incidisse no operário, nas fábricas, nos sindicatos, ou seja no Martelo, mas pelo contrário ela incide na Foice, nas paisagens bucólicas, nas gentes do campo, na resistência dos campestres. (NOTA: se clicarem nas imagens podem vê-las maiores e fazer download para poderem fazer zoom com no pc)
E não se esquece também dos misticismos do povo, que faziam fugir os cobardes, havendo sempre alguém que não se deixa assustar pelo papão e firma o pé:
Como o Canal Porto também teve a boa vontade de reportar, os agricultores, que por defeito profissional são gente do campo na sua vasta maioria, também não esqueceram Álvaro Cunhal, que sempre por eles lutou. Sentindo-se desprezados pelos governos desde a Revolução e pela própria União Europeia, os agricultores que irão brevemente enfrentar mais duas ameaças capitalistas, a privatização da água e as sementes patenteadas (contra as quais o ministério actual não parece ser contra), relembram a coragem do Álvaro e o seu contributo e interesse em através da Agricultura tornar Portugal mais produtivo e, como tal, mais autónomo. Reportagem do Canal Porto, sobre encontro de agricultores em Vila Real, no link abaixo:
Na prisão, produziu belas obras de arte no campo da pintura, mas também fez trabalhos de análise histórica, escreveu romances, traduziu Shakespeare, fez estudos sobre Darwin e sobre a "Questão Agrária", e ainda notas sobre o método e conteúdo para a elaboração do programa do PCP.
Depois da fuga, deu o salto e foi para o estrangeiro, onde assumiu definitivamente a liderança do PCP. Tornou-se também um vulto muito respeitado do movimento comunista internacional, algo que o Miguel Sousa Tavares já havia realçado na reportagem de Judite Sousa, mas que é aqui recordado por outras vozes neste vídeo mais curto:
Mais uma vez, torna-se forçoso e interessante comparar Cunhal a Soares, e depressa se nota que o respeito que Cunhal tinha dentro do movimento comunista tinha uma dimensão muito superior ao peso que Mário Soares alguma vez teve no campo do movimento socialista. Na entrevista com MST, Sousa Tavares diz que há muita gente que diz que não é Cunhal que é controlado pela União Soviética, mas que é ele que manda na USSR, o que Cunhal prontamente nega.
Mas é também dito por MST que Cunhal é tão respeitado como os mais altos líderes soviéticos dentro do movimento comunista. Já depois da Revolução dos Cravos, o Muro caiu e a União Soviética ruiu com ele, resultado directo da Perestroika contra a qual Cunhal era, prevendo o seu resultado. Daí veio o fim da sua amizade e relação com Breznev, documentado no vídeo acima, e recentemente reanalisada num livro chamado Cunhal, Breznev e o 25 de Abril. Ainda não li o livro, mas o autor não aplica o acordo ortográfico de 1990, o que na minha lista é já um ponto a seu favor.
Depois do 25 de Abril, o primeiro evento mais importante desse período da vida de Cunhal foi o debate com Soares, o debate do século passado em Portugal. Infelizmente esse debate não está na íntegra no youtube, mas apenas pedaços dele que de resto estão incluídos naquele documentário de 2006 que postei acima. Das afirmações feitas, é interessante analisar-se o que Soares diz e o que depois, tendo o poder, fez.
Por exemplo, Mário Soares afirma (pelos 3min15seg do vídeo), que Cunhal "teima em governar com uma minoria", é portanto interessante que hoje em dia, no Portugal que Soares em grande escala criou, ser precisamente isso o que acontece. Não tomem a minha palavra, tomem a palavra de Medina Carreira com a concordância de Paulo Morais, que neste debate (aqui linkado), pelos 4min30seg, diz precisamente que há uma minoria a governar a maioria mesmo dentro dos partidos do poder [PS(D)] e que essa minoria está a proteger uma teia de interesses a custos altíssimos para o erário público.
Ora, se isso não é a exploração do homem pelo homem, eu não sei o que será. No debate, Soares diz que quer fazer um país sem classes e sem explorações, mas quando abriu as portas aos banqueiros expulsos e expropriados que mandavam e mandam no país e não só lhes devolveu tudo como ainda os recompensou pela maçada, de onde veio o dinheiro senão das costas do povo? Mário Soares abriu não as portas a um socialismo democrático em Portugal, mas sim a um novo tipo de capitalismo, um "capitalismo sem risco", como diz no mesmo vídeo o Medina Carreira (conversa com Paulo Morais e Judite Sousa), pelos 40 min, referindo-se às PPP's, SWAPs, e todos essas negociatas e proteccionismo que o estado dá a privados fazendo literalmente a transferência de dinheiros do público para alguns privados. E não foram os banqueiros que nos hipotecaram a soberania ou o que dela restava depois do PS nos ter metido na então CEE agora UE (sem sequer referendar a questão perante o povo, realce-se. Para onde terá ido o alto sentido democrático de Soares nessa hora?), nesta última crise?
Para além disso, Soares tornou-se nisto:


Já para não falarmos nas acusações sobre diamantes que são meros boatos improvados, na erecção duma fundação sua homóloga que é ela própria só ares, etc..., Soares chega-nos agora todas as semanas com ataques a Cavaco Silva, mas ataques fracos e patéticos como o "Cavaco devia ser julgado", mas dizendo isto sem ter provas nenhumas a acrescentar ou testemunhos a dar sobre o porque é que ele deveria ser julgado. Considerando que ainda há quem acredite que Soares é de esquerda, isto danifica a causa da esquerda em Portugal. Mas entende-se, Soares vê o seu adversário já tombado reavivado na memória do povo como um grande homem, com um obra que grandiosa que fala por si mesma por vários meios, um verdadeira e completo revolucionário, e deseja ter a mesma fama. Procura agora apresentar-se como uma espécie de Gandalf da esquerda portuguesa, alguém que reúne os esforços desconexos e separados da Esquerda, para derrotar uma direita destrutiva, numa guerra pela alma do país. O problema é que Soares é e sempre foi só ares e a Ares nunca convenceu, apenas a uma maioria idiota do povo português a quem prometeu facilidades e condenou à escravatura económica.
Pelo contrário, Cunhal viveu e morreu com dignidade e mesmo nos seus anos de crepúsculo era dotado dum carisma (embora ele tenha declarado que não gostava nada dessa palavra), duma claridade de pensamento e discurso e de dever que marcam qualquer pessoa que não se deixe só levar pelos preconceitos ideológicos. A minha mãe uma vez contou-me que ouviu Júlia Pinheiro (que é confessa eleitora da direita), dizer num dos seus programas na SIC, só coisas boas de Cunhal, tendo sido ela a última jornalista a entrevistá-lo. Procurei em vão imagens desse programa, mas não as há online, conseguindo apenas um outro testemunho que corrobora o da minha mãe:
Medina Carreira também já disse noutras ocasiões que quem não mente em Portugal não ganha eleições, algo que abona a favor de Cunhal que nunca foi eleito. Mas também disse o economista no decorrer dum raciocínio que um dia o país chegará a uma situação em que o Povo já não acreditará em ninguém, e não haverá alguém capaz de tranquilizar o povo, quando há 30 anos havia o Spínola, o Costa Gomes, o Álvaro Cunhal (ver este vídeo aos 7min20seg), porque o povo já não confia em ninguém. Estranhamente não disse Sá Carneiro, que era dessa época também e da sua cor política. Ora também isto implicará que aos olhos do ex-ministro social democrata, Álvaro Cunhal podia ser muita coisa, mas era também sério e as pessoas, mesmo que não comungassem da sua ideologia, não duvidavam em geral da sua seriedade.
Já com 83 anos e a meses dos 84, Álvaro deu uma entrevista "concedida a Maria Valentina Paiva, da Rádio Bragançana, a 21 de Fevereiro de 1997", que vos "linko" abaixo. Nessa entrevista, nota-se um homem comum (no melhor dos sentidos), de bem com a vida e sem frustrações, que nos revela um pouco da sua vida privada, mas sempre com o cuidado receoso nas palavras para que não seja nem mal interpretado nem mal rotulado. Como diz o povo, "Gato escaldado..." E também uma pessoa que afirma que a sua escrita e pintura não são hobbies mas trabalho, que retira a dúvida levantada por alguns que dizem não saber se a verdade na ficção de Cunhal é inconsciente ou consciente (artigo relativamente bom do Expresso), porque nos verdadeiros tempos livres, no lazer, é mesmo para descansar, diz ele, e aí gosta é de praia e família. No final da entrevista, dirige também uma mensagem "aos muitos que nos ouvem", consciente sempre de estar a falar para as massas ou pelo menos assim o desejando, dizendo que nada mais gostaria que poder alargar aquela conversa de 3 pessoas a todos os que a ouvem. Tal como Miguel Sousa Tavares, também eu gostava sinceramente de ter ido beber um café com um homem que nesta entrevista afirma uma convicção que também eu tenho mas só agora soube que partilhávamos, que os velhos não só ensinam os novos como também com estes últimos aprendem, se tiverem uma conversa a sério e não "uma troca de monólogos".
Dois anos mais tarde, em 1999, Cunhal tem ainda esta palavra sobre o Futuro e o Caminho a Seguir, no Rivoli do Porto, já com um dos seus olhos debilitado pela doença, mas ainda com uma voz potente e um discurso coeso.
Em 2005, Cunhal morreu. Foi a terceira e última vez que estive a menos de 200 metros do corpo dele, pois estava em Lisboa, no meu segundo ano de universidade, e decidi que era importante presenciar o último momento histórico daquele grande homem. Tendo na altura já plena consciência política, nunca esperei ver aquilo, estando o PCP tão em baixo à época.
Um tão enorme desfile, um rio de caudal e comprimento tão largo feito de pessoas, as bandeiras vermelhas flamejantes no ar, erectas e orgulhosas, a contrastarem com a tristeza de muitos. Fez-me na altura e faz-me agora pensar num monólogo de Banderas, no final do filme "The Mask of Zorro", em que ele descreve ao filho no berço o funeral de herói que o avô, o Zorro original, teve:
"The people of the land gave him a hero's funeral, the largest anyone had ever seen. They came from far and wide to say farewell to their brave and noble champion." Traduzindo: O povo da terra deu-lhe o funeral de um herói, o maior que alguém alguma vez viu. Eles vieram de longe e perto para dizer adeus ao seu corajoso e nobre campeão.
E como sempre, Mário Soares não perdeu a oportunidade de se colar uma vez mais a Cunhal. Mais não fez que o que devia, até porque o rival propiciou-lhe a vitória numa das corridas à Presidência da República, algo que, como é dito, Soares nunca agradeceu. Esse acto de Cunhal não parece próprio de alguém que ambiciona o poder só por si, mas antes de alguém para quem o poder não passa de mera ferramenta para atingir o, esse sim importante, objectivo duma sociedade mais justa, produtiva e igual.
Álvaro Cunhal foi, segundo os seus desejos, cremado e as suas cinzas espalhadas pelo Cemitério do Alto de S. João (algo que muito custou à irmã e que eu presumo ele ter sido feito para impedir qualquer culto à sua personalidade). Não houve discursos então, também segundo os seus desejos, mas houve canções de coração pesado.
Como morreu em 2005, já não teve o prazer de saber que o aborto fora referendado e despenalizado pelo povo em 2007. Portanto, dado que se deu a revolução do 25 de Abril em 1974, algo que ele previu uns 26 anos antes segundo a peça sobre ele de 2006 que acima vou disponibilizei, e que a sua tese de licenciatura foi precisamente a defesa da despenalização do Aborto, aqueles que dizem que ele deveria ser um frustrado pois nada alcançou, simplesmente não o entendem além de ignorar os feitos singulares dele no campo das artes, da literatura, da análise histórica, etc... Ele não tinha a presunção de alcançar nada sozinho, mas sim trabalhar para acordar e mobilizar as massas para que se alcançassem esses objectivos colectivamente. São inegáveis as vitórias que assim obteve, apesar de toda a repressão e mais tarde reacção que teve de enfrentar toda a sua vida.
OS GRANDES PORTUGUESES - episódio de Álvaro Cunhal: Parte1, Parte2, Parte3, Parte4, Parte 5.
No programa "Os Grandes Portugueses", foi eleito Salazar como o maior português de todos os tempos, com Álvaro Cunhal em segundo lugar. Muitos leram isso como um voto de revolta do povo contra o governo de então e o rumo geral do país. Presumo que Salazar ganhou também porque a direita, temente de ter Cunhal eleito como o maior dos portugueses, se terá unido em torno de Salazar. Não há nenhum partido português fascista actualmente com expressão popular e ainda bem, mas como eles temem o PCP é uma coisa incrível! Ainda no domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa comentava uma sondagem publicada no Expresso e dizia, convicto, "o PCP está fortíssimo!". Quando se falou de percentagens, o PCP tinha 11% de intenção de voto para as legislativas. Isto para a Direita é um PCP fortíssimo demais para o goste dela (para mim, é um PCP ainda demasiado fraco para ser efectivo), mas isto só para realçar com um exemplo o quanto a Direita não quer dar espaço aos Comunistas. Ainda assim, valeu a pena ouvir aquelas palavras pelo Advogado de Cavaco Silva, precisamente no dia do centenário de Cunhal. Quem me dera que tivessem mais substância por trás. Mas eis as reacções à vitória de Salazar no programa:

Interessante ver que até na morte, há uma reacção generalizada nos votos contra o Álvaro Cunhal. É de notar também que os ingleses pelo menos, no programa equivalente britânico, tiveram juízo e nomearam Winston Churchill e não a Dama de Ferro, por exemplo. Curioso também notar que, segundo a wikipédia, Mário Soares ou mesmo Cavaco Silva ou Sá Carneiro, não estão em nenhumas das primeiras 10 posições. Mário Soares aparece em 12º, depois de Salgueiro Maia, e Sá Carneiro em 16º(com Pinto da Costa logo a seguir??). Não quero atirar achas para a fogueira mas o Cavaco ficou em 27º. Qualquer destes teriam sido possivelmente instrumentalizados pela direita para impedir Cunhal de ser o primeiro, o que dá tese a que o voto em Salazar foi de protesto face a PS(D).
Pegando noutro filme de Banderas, o "The 13th Warrior", a certa altura um líder constata que morrerá um homem pobre. Um rei promete-lhe um funeral digno de um rei, mas o líder guerreiro diz para quem estivesse na sala "Um homem poderia considerar-se rico se alguém desenhasse a história dos seus feitos." O personagem interpretado por Banderas, o único de entre os presentes que sabe escrever percebe que está a ser interpelado e diz "Um tal homem poder-se-ia considerar rico com certeza!", aceitando a comenda que lhe fora feita. O que não faltam por aí são livros sobre Álvaro Cunhal, sendo um dos mais conhecidos e badalados, a biografia não autorizada nem acompanhada escrita por Pacheco Pereira. Álvaro Cunhal nunca quis escrever as suas memórias.
Neste ano de 2013, ano em que Álvaro Cunhal faria 100 anos caso fosse vivo, o PCP honrou de várias formas a memória do seu líder histórico. Eu presenciei a exposição sobre a Obra e a Vida do Álvaro Cunhal, como testemunham muitas das fotos com que procurei colorir este texto. Mas houve também uma na faculdade de Letras de Lisboa, onde Cunhal cursou e no qual estimulou os movimentos estudantis. Várias palestras sobre a sua obra foram também lá apresentadas no decorrer no centenário. Recolhi os vários vídeos e aqui também os reúno através de links para vossa apreciação:
As várias intervenções: Sessão de Abertura, Congresso Parte1, Congresso Parte2, Congresso Parte 3, Álvaro Cunhal, movimento estudantil e importância académica da obra.

O Público recolheu também as impressões da malta mais jovem e como é que estes conhecem Álvaro Cunhal (link para o vídeo), isto penso que entre membros da JCP. E a esses testemunhos adiciono este (link aqui), que me parece particularmente incisivo, com discurso mais seguro e cuidado, e que fala do que é um comunista hoje.
O "Até amanhã, Camaradas" passou este ano de série a filme e estreou nos cinemas Portugueses. Eu, no passado dia 10 de Novembro, a título de um acenar respeitoso ao camarada Cunhal, escrevi e publiquei num outro bolgue onde participo, o 74rte, que trata única e exclusivamente de cinema, a crítica ao "Até amanhã, Camaradas" e também ao "Cinco dias, Cinco noites", outro filme inspirado pelos romances homónimos de Manuel Tiago, pseudónimo do Álvaro. Para o caso de as quererem ler, aí as têm.
O "Até amanhã, Camaradas" teve uma antestreia invulgar, tendo sido projectado no Salão Nobre da Assembleia da República, para os deputados, governo, o elenco e a equipa, Eugénia a irmã de Cunhal, e outros, no decorrer das comemorações do Centenário.
Durante este ano, foi também oficializada numa cerimónia, uma avenida da capital, que já há alguns anos tinha sido baptizada com o nome de Álvaro Cunhal.
O presidente alfacinha também deu ares de sua graça na inauguração e brindou os presentes com um discurso (vídeo "linkado" aqui:Avenida em Lisboa homenageia Álvaro Cunhal).
Ao nível internacional, a Exposição sobre a Obra e a Vida de Cunhal também viajou, tendo sido exposta no Parlamento Europeu, segundo o Público. E no dia do centenário do seu nascimento, Cunhal foi relembrado em Comício do PCP, no Campo Pequeno. O Público chamou-lhe uma "romaria".

DOS CRÍTICOS DE CUNHAL
Contudo, longe de mim calar as vozes daqueles que criticam Álvaro Cunhal, pois nenhum homem é isento de defeitos, nem tão pouco julgo concordar com tudo o que Cunhal achava e fez. Dou portanto dois exemplos nacionais dessas críticas, que encontrei durante a execução deste texto, um que apenas achincalha sem acrescentar nada e outro um tanto ou quanto mais incisivo e profundo. E para terminar, darei também um exemplo internacional de crítica ao PCP.
Sobre este primeiro artigo, que de tão pouco diz e nada acrescenta, lê-se em menos de 1 minuto. Ataca Cunhal por conspirar para transformar Portugal numa "Bulgária ocidental" (lengalenga é a mesma de outros mas com expressões diferentes, como "fazer do Alentejo uma Cuba", ou "fazer de Portugal mais um satélite da Rússia", etc...) sem oferecer qualquer prova disso mesmo. Talvez ele acredite em Mário Soares pura e simplesmente, que tal afirmou também sem provas, mas não o vejo correr a escrever um texto a reforçar a ideia de Soares que Cavaco tem de ser julgado por crimes...huh... incertos com provas inexistentes ou testemunhas credíveis. Depois ataca Cunhal por promover o PREC e destruir a economia portuguesa!! Esta é estonteante, porque o problema da economia portuguesa é o mesmo desde, pelo menos, o século XIX:
Portanto, quem destrói a economia portuguesa é quem a hipoteca em vez de a tornar produtiva. E aqui sim, o Cavaco pode e deve ser acusado de ter criado as políticas para destruir a pesca e a agricultura em Portugal, algo que o PREC desejava melhorar. Mais uma vez 2 anos de alegado PREC, em que surgiram 6 governos, não é experiência válida para dizer se funcionaria ou não. O próprio Cunhal disse o que achava sobre isso e ao que vim a descobrir fez uma leitura na altura experimentando o acontecimento próxima da que eu faço pelo olhar crítico à nossa história:
Adiante. A última acusação é a de "O inimigo da Europa". Ora bem, concordo se estivermos a falar da Europa actual, a que sobre disfarce duma benéfica aliança, os países mais desenvolvidos se enchem dos países menos desenvolvidos. Ou de onde acham que vieram os dinheiros para que os nossos agricultores não produzissem? Ou de onde vieram as sanções no passado por produzirmos leite a mais? Ou quem nos anda a emprestar dinheiro a juro, querendo forçar uma agenda de federalismo europeu, a par dos EUA, quando nos EUA há uma transferência de dinheiro 10 vezes maior dos países de centro (isto é mais ricos) para os países periféricos do que a que existe na União Europeia? Se é dessa Europa que falamos, também eu estou contra ela. Se falamos da Europa enquanto povos e locais que a compõem, é simplesmente estúpido. Cunhal apenas achava que devíamos cooperar com os outros povos europeus, mas não enquanto bloco económico e militar. O que o torna muito menos imperialista e estalinista que este seu tipo de detractores, por muito de direita que digam ser. Ainda que, é minha opinião, que o espectro político não é uma recta mas um círculo, pois os extremos tocam-se. Logo se calhar eles são de uma direita extrema que toca mais no que se passa agora na China, alegado país comunista, que é portador de um capitalismo selvático e como tal está, enquanto estado, a prosperar num mundo capitalista e é o paraíso para o capitalista puro (mão de obra barata quasi-escrava, sindicatos proibidos por lei, ditadura estatal), que no Salazarismo. Os extremos tocam-se. Enfim, eu podia atirar os diamantes contra o Mário Soares, o filho dele ainda recentemente falou disso na televisão ao falar-se da crise com Angola, mas a verdade é que isso são rumores e boatos dos quais não há provas, por isso não é ataque válido. Fale-se sim do que as pessoas realmente afirmaram e depois no que realmente fizeram! E aí mostrem-me o ditador Álvaro Cunhal, sem ser meramente baseado em suspeitas anti-comunistas, com provas, com algo que ele tenha escrito nesse sentido, e eu render-me-ei às evidências se se comprovarem serem de fonte fidedigna. A comparação feita no título e no corpo desse artigo de opinião, entre Cunhal e um rei, é tão patética (desculpem a repetição, mas não há melhor palavra) que nem vale a pena comentar.

Ora, aqui temos outro artigo que visa criticar Cunhal, com receio, começo a achar, que durante o seu centenário, já o homem morto e queimado há 8 anos, o povo decida votar nele para Primeiro Ministro ou Presidente da República. Embora goze, este artigo não deixa de ser mais incisivo e provocador de pensamento, muito mais digno que o anterior. Como tal, é uma crítica que tem de ser levada mais a sério.
Começa por criticar Álvaro Cunhal por este ter escrito em 1939 um apoio ao pacto de não agressão germano-soviético, raciocinando que uma guerra entre as potências imperialistas era bom para a internacional comunista. Ora, em termos puramente de Arte da Guerra, se ele argumentou isso, estava correcto. É sempre positivo deixar que os inimigos se destruam uns aos outros. Quanto à 2ª Guerra Mundial(WWII, sigla inglesa), Trotsky, membro da Troika Original, ao lado de Lenine e Estaline, procurou avisar a internacional comunista sobre os perigos do Nacional Socialismo. Infelizmente, após a morte de Lenine, Estaline tomou poder e perseguiu até à morte Trotsky. A História podia ser hoje muito diferente, se Estaline não tivesse levado a sua avante. Mas ainda assim, foi a Rússia de Estaline que derrotou o Hitler. E o tempo que esse pacto de não agressão ganhou para Estaline se preparar para a guerra, pode ter sido decisivo. Seja como for, em 1939 ainda não se sabia o terror que a WWII viria a gerar e Cunhal era novo. Por muito estudioso e intelectual que fosse, estava a argumentar do campo teórico, da perspectiva dum raciocínio frio e calculista. Mas atenção, até Churchill chegou a apoiar Hitler por ele ser anti-comunista, antes de perceber o que ele era. Erros destes são cometidos na política internacional, onde o principal é perceber quem são os inimigos e os aliados, o que não é tarefa fácil.
Ataca o Cunhal por este ter criticado um relatório produzido nos dias de Krushev que dava conta dos crimes de Estaline. Sobre isso, sinceramente não me posso pronunciar porque não sei, nem é dito, em que termos foi criticado nem o quê. Mais uma vez, os argumentos são suportados por o que alguém disse que Cunhal fizera, neste caso citando Pacheco Pereira e Carlos Gaspar (politólogo). Em seguida, afirma que Cunhal é anti-democrático e explicita-o assim:
"Após o 25 de Abril, Cunhal continuou obcecado com a revolução russa,  sonhando repetir a experiência de Lenine. Deixou que as eleições para a Assembleia Constituinte se realizassem em 1975, pensava que o PCP as ganhasse mas ficou em terceiro lugar (com apenas 12%, a seguir ao PS e PSD)."
"Deixou que as eleições (...) se realizassem?", muito poder roga este senhor a Álvaro Cunhal!!! Continua a citar quando dá jeito Pacheco Pereira, presume-se, para dar um ar substanciado àquilo que são apenas boatos, reafirmando a convicção de outros de que Cunhal tendo perdido eleições fomentou o 25 de Novembro de 1976 para criar "uma república comunista integrada por Lisboa, Setúbal, Évora e Beja, com território contínuo, um Portugal do Sul, dividido do norte democrata." Tudo claro como água e contradito nos documentários que eu aqui coloquei sobre o PREC, feito pela RTP, dito por pessoas que não Cunhal ou os seus camaradas, e negado pelo próprio Cunhal quando questionado.
Por último, e esta foi a questão que realmente nunca antes tinha visto abordada, Álvaro Cunhal é acusado de homofobia:
"No campo dos costumes, há também que recordar aquilo em que o PCP nunca tocará. Referimo-nos à  a famosa frase de Álvaro Cunhal sobre a questão da homossexualidade numa entrevista a Carlos Cruz na década de 1980: "é uma coisa muito triste".  
É certo que Cunhal era um homem de outra geração, nascido no princípio do século, numa sociedade fechada e conservadora. No entanto, como líder político, de uma vanguarda de esquerda, tinha a obrigação nos anos 1980 de ter ultrapassado o preconceito em relação à homossexualidade.  
Esta opinião de Cunhal tem, aliás, forte relevo político. Estão por estudar a fundo as circunstâncias da expulsão de Júlio Fogaça, que era homossexual, do PCP , onde se podem ter misturado questões políticas com questões homofóbicas. Também está por perceber a razão de o PCP lidar ainda hoje com visível incómodo com o tema da homossexualidade, ao invés do que acontece com o Bloco de Esquerda.", escreveu o opinador.
Ora, a expressão usada na entrevista com Carlos Cruz está fora de contexto e infelizmente, como acontece com o debate com Soares, a entrevista com MST, esta última entrevista também não está no youtube na íntegra, por isso não sei enquadrá-la e o comentador esforça-se por nessa posição manter os seus leitores. Quanto ao segundo parágrafo que citei, dizer que Cunhal tinha a obrigação de estar à frente do seu tempo, contrário à época em que cresceu e viveu, e ter ultrapassado qualquer preconceito em relação à homossexualidade, eu devo dizer não em defesa de Cunhal mas em meu detrimento que eu, que nasci em 1985, não fui sempre como sou hoje e já há alguns anos defensor da causa gay. Precisei antes de perceber que ser gay não é uma escolha ou um capricho, mas uma natureza. Que as marchas homossexuais não eram compostas apenas por bichas que se queriam mostrar e obter atenção. Mas percebi-o. Por outro lado, o meu avô (e quando soube disso já era eu a favor da causa homossexual), que tem 89 anos (é portanto da geração de Soares), ainda hoje não entende os gays. "O que é que isso dá para o país?" pergunta ele, sem conseguir dar sentido àquilo. E o meu avô noutras coisas é bem progressista, acha por exemplo que os padres deviam ser homens casados e pais de família, para que não enveredassem pelos caminhos do adultério e da pedofilia. Se calhar foram anos a mais com a Igreja e a Sociedade a censurarem comportamentos homossexuais e depois sair desse espaço mental seja complicado. Mas dei-me ao trabalho de ver até os comentários dos leitores, alguns deles interessantes mesmo vindo de pessoas que pelo que escrevem são totalmente opostas a Cunhal. Quanto às questão dos gays veja-se:
Aqui, o senhor Pasternak, cuja visão da história contrasta completamente com a minha interpretação pessoal, diz que mais tarde Cunhal pediu desculpas por ter instrumentalizado ou denegrido a homossexualidade. É claro que nem Pasternak diz de onde obteve esse "Parece que mais tarde...", nem tão pouco se coibiu de dotar tal acto de uma cínica estratégia política. Ora, fala-se isto dum homem que chocou precisamente por não querer deixar reformar o seu partido, como os restantes partidos comunistas europeus fizeram após a queda do Muro, possivelmente para detrimento político. Hoje, o PCP é o partido político com mais peso institucional na Europa, daí as afirmações do Marcelo, "os comunas estão fortíssimos", parafraseio. Mas à época essa indisponibilidade para mudar, tornou o PCP mais facilmente alvo das críticas do costumo, de que está desactualizado, de que é um relíquia, bla bla bla... Ou seja, o Durão Barroso que foi do MRPP, mudou-se para o PSD para chegar onde chegou. O Soares saiu do PC para fundar o seu partido, o PS, pois viu que através do Álvaro não chegava ao poder. Até o Sócrates começou na JSD. O tipo que permaneceu fiel a um ideal mal visto pela maioria dos portugueses e com uma péssima campanha de relações públicas, é que disse uma coisa só para parecer bem. Toda a lógica, sem dúvida!!! Digam-me em Portugal quantos políticos teriam a hombridade de reconhecer em público que erraram e ainda mais pedir desculpa por isso?? Se é que todo o episódio, desde a acusação ao pedido de desculpas, aconteceu mesmo, acho que só diz bem de um homem que percebe que errou e procurou fazer emendas.
Finalmente no terceiro parágrafo citado, é criticado o PCP e não Cunhal, mas é muito dito que é impossível dissociar o PCP de Cunhal. Ainda assim, seria uma crítica boa (foi à época), não tivesse recentemente o PCP, juntamente com PS e BE, votado a favor do projecto lei da Co-Adopção Homossexual no Parlamento. Eu por exemplo, sou bem mais picuinhas. Eu critico o PCP por não ter votado contra o Acordo Ortográfico em vez de meramente se ter abstido. Mas isso é uma crítica que poderá de futuro ser também minimizada se levarem uma proposta ao Parlamento para destituir um acordo com quem a maioria discorda. E aí o PCP estará contra o PS e o BE, mas ao lado dos 60% a 80% dos portugueses que são contra o AO90.
Como não podia deixar de ser, fala-se nos comentários do suposto desejo de Cunhal de transformar o país na Cuba Europeia e eis o que diz outro comentador à cerca disso:
Note-se que o New Dawn (como se intitula o leitor que deu a opinião acima) começa por dizer que Cunhal é obsoleto (id est, não é um comunista), mas ainda assim revela, tendo uma visão crítica da História, que não concorda com essas afirmações de que Cunhal alguma vez achasse que conseguiria fazer isso, quanto mais não fosse pelas condições internacionais instaladas à época.
Há ainda esta outra opinião que culpa o Cunhal pelo retorno em força do Capitalismo Selvagem, ainda que eu não consiga perceber bem se é sarcasmo, ironia, ou se acredita mesmo no que está a dizer.
Interessante que não deixou de referir um artigo em que foram denotados os avisos de Cunhal sobre os perigos do euro, da desindustrialização, do abate da frota pesqueira, da desertificação, e da especulação imobiliária e financeira. Ou seja, o homem previu as nossas crises actuais, embora a maioria não lhe tenha querido dar ouvidos. Cavaco Silva, que é economista pelo menos no papel, potenciou-as. Não tenho como não estar à esquerda. E um dia destes farei aqui um post detalhado a explicar como cheguei à esquerda e porque é que ainda lá estou e continuarei, ainda que a minha ideia de esquerda é apartidária. Não sou militante de partido nenhum e tenho assim liberdade de criticar até aqueles que mais próximos estão das minhas ideias, como fiz acima. Por enquanto, sou aquilo a que os comunistas chamam "um amigo do Partido". Se me começar a desagradar o Partido, com facilidade deixo de o ser. Mas nesse outro post, falarei também do PCP, do Marxismo enquanto teoria, dos vários ramos ou ideologias que dele derivaram, etc...
A última crítica a Cunhal, a que tem carácter internacional, surge pelas mãos de um outro marxista que eu admiro e sobre o qual fiz também já um post nesta rubrica (http://150anosportugaljapao.blogspot.com/2013/04/rapidographia-christopher-hitchens.html), também já falecido, também um intelectual, chamado Christopher Hitchens. Em 2004, quando nos visitou, ainda eu não sabia quem ele era, o Hitch disse o seguinte, falando do PREC:
"«Houve algo que me afectou muito, talvez porque sou jornalista: o caso do República, em 1975, quando a extrema esquerda tomou conta do jornal e expulsou os "socialistas moderados" do PS. Havia muita gente que dizia que não era censura, eram só os trabalhadores a tomar conta do seu jornal. Mas para mim foi o teste: aquela gente só estava interessada na liberdade de imprensa se a pudesse controlar... Como as eleições livres, era considerada por eles uma liberdade burguesa - e ver isso mudou a minha maneira de pensar. Na altura era membro de uma organização trotskista, e deixei-a. » Foi o seu momento orwelliano? «Sou um grande admirador de Orwell e não posso arrogar-me a sua capacidade de análise, a sua intuição.
Mas de facto percebi aí que a política do PCP, de Cunhal, de Vasco Gonçalves, era essencialmente estalinista. Pensei: talvez seja verdade que Mário Soares é um "socialista da NATO", e bem conservador, mas prefiro-o de longe aos socialistas do Pacto de Varsóvia.
»
" Considerando que Hitchens, tal como Orwell, eram Trotskistas (aliás Hitchens achava que Orwell escrevera o Animal Farm para defender a ideia de que devia ter sido Trotsky a ficar no poder soviético e não Estaline), portanto faziam parte da esquerda anti-totalitária ou como o Hitch fraseava a resistência à esquerda a Estaline. Diga-se de passagem que Hitchens uns 10 anos antes de morrer se tornou apartidário, sem nunca renegar o marxismo, mas assumindo a morte do movimento socialista internacional. Eu acho que foi pena o Hitch e o Álvaro nunca terem falado. Talvez não o tivesse achado tão conservador como achou Soares, o "socialista da NATO". Não sei se os dois se entenderiam, desconfio que não, ah mas que debate podia ter sido! Eu por mim gosto de consultar as obras e opiniões dos dois, de forma crítica e aberta, e estou muito no início tanto num como noutro, porque afinal é na dialéctica em que se baseia o Marxismo e a dialéctica é nada mais que a "interpenetração de ideias ou posições diferentes e as consequências disso mesmo", parafraseio Hitchens. Para além disso, é interessante notar que o Le Monde (que apoiou Miterrand numas eleições, e o Hitch dizia ser da mesma família política que Miterrand foi dos poucos em toda a imprensa internacional, que culpou o PCP pelo caso República, quando era socialista) publicou a favor do PCP, dizendo que esse movimento de tomada de controlo do República não fora comunista, mas antes levado a cabo pelos trabalhadores do jornal. Diga-se de passagem que isso deu muito jeito ao Mário Soares & Co.
Seja como for, Cunhal está hoje ainda vivo, no sentido figurado, no PCP, na sua obra artística, literária e política, que aparentemente ainda fascinam as pessoas:
Está no top 5 dos livros não ficção da Wook, que por ironia é liderado por outro marxista (já) não militante chamado Ricardo Araújo Pereira.
Na secção de não ficção da FNAC, aparece em primeiro com o livro da Judite Sousa e depois mais abaixo novamente um outro livro sobre ele e a sua relação com Breznev que já mencionei acima.
Estes livros levaram os Indignados, ou pelo menos foi através dessa página no Facebook que eu obtive a imagem abaixo, a gozarem com a situação:

Mas brincadeiras à parte, termino esta minha longa mas, admito, puramente virtual e superficial dissertação sobre Cunhal, não menos completa ou abrangente contudo que muitos artigos de jornal, contra ou a favor, que outros escreveram durante este ano (e nalguns dos quais me apoiei até), deixando um sumário de como vejo o Álvaro.
Acho que é um homem incontornável da História Portuguesa, um guerrilheiro, um político, um intelectual, um humanista, que de certa forma foi um Orwell português (não querendo assim minimizar a singularidade e individualidade de ambas as figuras que comparo), não que tivessem uma visão de mundo completamente igual, mas antes por ambos serem marxistas e tirem tido o mérito de apontar e prever as crises das suas épocas e de combaterem o fascismo com alma e coração, dando não só a alma mas também o corpo ao manifesto. Enquanto uns, muitos, acham que ele teria sido um Estaline em ponto pequeno, se calhar um Fidel, eu desconfio que ele tinha tudo para ser o nosso Mandela.
Não se admirem de ver o Mandela sorridente entre os Comunistas, afinal foi a CIA que o denunciou ao Regime Sul Africano e foram comunistas sul-africanos que lhe deram guarida na clandestinidade. Tal como Malcom X e Martin Luther King, Mandela tinha fortes ligações marxistas. Álvaro Cunhal queria reunir os portugueses democratas em torno do ideal comunista, para fazer de Abril uma sociedade de socialismo democrático, como indica por exemplo o comentário abaixo onde se diz contra a perseguição religiosa de qualquer tipo, sendo ele próprio ateu assim com é o pensamento marxista:
Mas não pôde consumar a sua revolução porque a verdade é que o povo nunca abraçou a revolução. Esta foi feita apesar do povo e foi por isso que o 25 de Abril não mais conseguiu que dar-nos o direito de falar, ainda que os governantes que defendem os interesses do 1% não nos ouçam na mesma. O povo não fez o 25 de Abril, bateu-lhe palmas. O povo não queria o socialismo, provavelmente ainda hoje grande parte do povo nem sabe bem o que isso é e quão grande é a hipocrisia actual do nome do Partido Socialista, mas na altura do PREC bateu-lhe palmas. Tal como batia palmas ao Estado Novo antes, ainda que também não o quisessem. O nosso mal é que as revoluções, que nunca passaram de golpes de estado neste país, têm sempre sido feitas por uns poucos e depois perdem-se p'lo caminho dos muitos que não sabem bem o que querem fazer com a liberdade que alguém lhes dá e vão na melhor cantiga de bandido que ouçam.
Álvaro Cunhal, usando uma metáfora cinematográfica e parafraseando o discurso final do "The Dark Knight": "... era o herói que Portugal precisava, mas que o Povo Português recusou. Por isso o perseguiram. Mas ele aguentou. Porque ele não foi o nosso herói. Foi um acérrimo defensor. Um visionário aconselhador. Um Cavaleiro das Trevas." Ainda (ab)usando das deixas desse belo filme, ele foi alguém que viveu o tempo suficiente para se ver tornado aos olhos doutros num vilão. Mas ainda assim, ele foi também daqueles que, como o Poeta disse, "por obras valorosas se vão da lei da morte libertando".

Enquanto ele desejou que nós conseguíssemos realizar os nossos sonhos, eu deixo-vos com o sonho dele e despeço-me com um alegre e sincero "Até amanhã, camaradas"! ;)
P.P.S.: Esta entrada contém além das fotos minhas, imagens retiradas de artigos do Expresso e do Público, e ambos os jornais são supracitados e "linkados". O youtube foi também indispensável.