segunda-feira, 21 de maio de 2012

Eclipse de 20 de Maio de 2012

Lembro-me de que aqui há uns anos, penso que antes de 2003 mas já neste século, ter havido um eclipse que embora parcial se viu bem de Portugal. Ainda tenho lá em casa óculos especiais e descartáveis, que se podiam na altura comprar em farmácias e que possibilitavam observar o eclipse sem que a vista corresse riscos. Nunca se deve olhar o Sol directamente, pois o Olho de Rá é demasiado potente para nós mortais e pode mesmo deixar-nos cegos. Como tal, esta série de imagens começa precisamente por mostrar os métodos usados para observar o eclipse de hoje, visível do Pacífico.
Reparem que na segunda imagem, as pessoas seguram óculos especiais para ver o eclipse sem comprometer a segurança das suas retinas. É MUITO IMPORTANTE ESSA NOÇÃO!


A girl with her mother observes a solar eclipse, focused onto a white card through a telescope, at Takayama village in Gunma prefecture, north of Tokyo on May 21, 2012.
Source:AFP/JIJI PRESS
Uma rapariga com a sua mãe, observa o eclipse solar, projectado num cartão branco através dum telescópio, na aldeia de Takayama, na perfeitura de Gunma, a Norte de Tóquio, a 21 de Maio de 2012.
Fonte: AFP/JIJI PRESS (via Facebook)



People watch annular eclipse in Grand Canyon National Park
Pessoas a ver o eclipse anular no Parque Nacional do Grand Canyon (USA).


Annular solar eclipse seen through the clouds in Kawasaki, surburban Tokyo, on May 21, 2012.
Eclipse solar anular, visto através das nuvens, em Kawasaki, subúrbio de Tóquio, a 21 de Maio de 2012.


This combination picture shows an annular solar eclipse seen from Tokyo on May 21 2012
Esta combinação de fotos mostra um eclipse solar anular visto de Tóquio, a 21 de Maio de 2012


Image of today's eclipse from Kiyomizudera in Kyoto
Imagem do eclipse de hoje de Kiyomizudera em Kyoto

Para quê procurar milagres, que por definição são a suspensão da ordem natural, quando essa mesma ordem natural é tão majestosa e bela, que nos enche de espanto e maravilha só por si?

Alex, signing off! ;)


domingo, 20 de maio de 2012

Mega Sismo: Quando o Infinito encontra o Zero!

Tróia, no dia da sua derrota, cercada pelos exércitos invasores do rei grego Agamémnon, como esteve durante dez longos anos de guerra, protegida pelas enormes muralhas que a encerravam. Sete anéis de muralhas, se a memória não me falha, mas nem esse sortudo número lhe valeu, pois a sua sorte foi madrasta. Eis que chega o Cavalo dos mitos e, contornando as suas defesas, abre as portas ao inimigo… mas que forma tem este cavalo? Há alguns anos atrás, historiadores e arqueólogos finalmente encontraram a há muito perdida cidade de Tróia, trazendo finalmente alguma luz à veracidade da grande epopeia de Homero. Havia até então quem dissesse que era tudo mito, quem dissesse que era factual, mas foram os que descortinaram uma história romanceada baseada em factos que acertaram. De facto, Tróia existiu, de facto tinha vários e impressionantes anéis defensivos que tornavam impossível a sua conquista, mesmo por um exército muito mais numeroso que o que a defendia. Os arqueólogos descobriram nos seus anéis muitas setas e corpos, sinais óbvios de batalha. Mas descobriram outra coisa também. Um vestígio geológico de ocorrência de um sismo no mesmo período de tempo em que a guerra terá acontecido. Os gregos achavam que Posídon, Deus dos Mares, Irmão de Zeus, era a divindade que controlava os terramotos e os maremotos. E por sinal, o Cavalo era o seu símbolo por excelência. Estranho, não é? Eu também não sabia, vi num documentário do canal História. Anos mais tarde, séculos até, Homero reúne as informações que existem sobre essa incrível guerra de antanho e constrói uma história, ou melhor dizendo uma estória, que lhe confere a imortalidade, tal como a via Luís Vaz de Camões: “Aqueles que por obras valorosas se vão da Lei da Morte libertando” O que se presume hoje é que, a certa altura, durante (ou antes) da guerra de Tróia ocorreu o sismo naquela região. Esse sismo foi responsável por brechas nas muralhas defensivas da cidade, o que permitiu ao exército invasor penetrar na cidade e, com a sua superioridade numérica, conquistá-la. Os gregos terão visto neste golpe de sorte a ajuda de um deus, Posídon. Homero, que a mim me parece um humanista mais que um politeísta, usou da sua liberdade poética e conjurou uma incrível figura: Ulisses. O homem que não possuindo nenhuma ligação a deuses (como Aquiles, Hércules, Perseus e outros heróis clássicos sempre tinham), não possuía nenhum poder extra ou supra humano, tendo sim um intelecto acima da norma. Ulisses ficou famoso por se ter lembrado do Cavalo de Tróia, uma artimanha que hoje todos conhecemos e que até dá nome a certo tipo de viroses informáticas. Homero tirou a glória de uma batalha ao Fado, aos Deuses, e deu-a a um homem de vasta inteligência! A ideia do cavalo, podemos hoje facilmente deduzir, surgiu da associação de conceitos: sismo => Posídon = Cavalo. Et voilá…
Depois desta introdução, vamos lá falar de sismos de um ponto de vista mais rigoroso e actual! No mês de Março, tive o gosto e o interesse de participar na Sessão Evocativa do Grande Terramoto do Leste do Japão, que ocorreu a 11 de Março de 2012, um ano depois da Calamidade. Já fiz menção destes procedimentos no mês passado e agora venho partilhar convosco o que aprendi na conferência de Sismologia que fez parte do evento. A conferência, intitulada “Sismos e Tsunamis – Experiências do Japão e de Portugal”, contou com palestras de dois ilustres, um japonês e outro português (pela ordem em que falaram na conferência).
Palestra I
A primeira palestra foi dada pelo Professor Atsushi Tanaka, da Universidade de Tóquio onde é professor. No seu currículo conta com várias publicações na área de Gestão de Catástrofes, Informação Pública e Psicologia de Comportamento Colectivo. É director do Centro de Pesquisa em Informação Integrada de Catástrofes e membro da Iniciativa Inter-Universitária para os Estudos da Informação. Quando se apresentou, o professor explicitou bem que a sua área era no campo da Psicologia e não da Sismologia, mas também que este campo tem vindo a ganhar cada vez mais proeminência na Sismologia devido às suas aplicações práticas nas alturas de ocorrência destes eventos. Como de certo saberão, o Japão está localizado numa zona muito fustigada por actividade sísmica e como tal a sua experiência, tanto prática como teórica, neste campo é mais vasta que a nossa. O objectivo desta conferência foi o de precisamente partilharmos as perspectivas de um povo e de outro sobre o assunto, de forma a fazer progredir os avanços na área.
A palestra do Professor Tanaka começou então com um modelo de computador, uma animação, que nos ia mostrando a evolução da frente de onda sísmica, desde o primeiro momento e do epicentro, e os vários momentos e áreas atingidas sequencialmente pelo sismo. Qual o interesse disto? Bem, o professor queria demonstrar a importância do Early Warning System (Sistema de Aviso Rápido. De hora em diante usarei a sigla EWS) que existe hoje no Japão. Para tal, mostrou-nos um vídeo de uma sala onde pessoas se preparavam para ver uma palestra, momentos antes de o sismo ocorrer. O EWS funciona através de telemóvel e todos os japoneses podem gratuitamente fazer download do software para o seu telemóvel. Assim que o sismo ocorre, é enviado um alerta da ocorrência. Esse alerta chega meros segundos antes da frente de onda sísmica, mas esses segundos podem ser a diferença entre a vida e a morte. Podem, por exemplo, permitir uma pessoa abrigar-se debaixo duma mesa ou na ombreira da porta, ou mesmo sair para a rua. E se nada mais, retiram a surpresa de quando a onda sísmica chega e permite à pessoa agir com menos pânico, evitando assim muitos problemas. No vídeo que vimos, as pessoas estavam sentadas, de repente manda tudo a mão ao bolso e alguns segundos depois, começa tudo a abanar. Houve gritos na mesma, como é de esperar, mas não um pânico avassalador. Estima-se que o sistema deu cerca de 16 segundos de preparação aos que estavam na sala. Mas este valor depende da localização onde se está em relação ao epicentro. Por exemplo, tendo sido o epicentro em Miyagi, a central nuclear mais próxima teve 30 segundos de aviso, mas Sendai uma cidade mais próxima teve apenas 12 segundos.
Como ao longo do século passado, o Japão foi compilando informações relativas a sismos prévios, já havia em 2011 um mapa com previsões de sismo. Baseada na informação recolhida, estimava-se que havia 99,9% de haver um sismo forte (8, na escala de Richter) na zona de Miyagi, nos próximos 30 anos. Há agora a probabilidade de 70%, segundo os mesmo cálculos, de que venha a haver um sismo em Tóquio, com magnitude a rondar os 7,2 na escala de Richter. Disse-nos o professor, que o governo ponderou se devia ou não dar esta informação ao público, pois teve medo do impacto desta a nível das bolsas e mercados internacionais. Ainda assim, acabou por decidir ser melhor avisar a população.
De seguida, na palestra, surgiu uma tabela com várias datas de eventos catastróficos no Japão ao longo dos anos. Eis alguns que consegui apanhar:
1945: Sismo em Showa Nankai
1959: Tufão Ise-Wan
1964: Sismo em Nigata
1995: Sismo
Devido à ocorrência de tantas catástrofes naquela zona, os japoneses recorrem muito, desde os anos 60, ao seguro contra catástrofes. Mas depois do sismo de 1995, foram criados mecanismos governamentais para cobrir estragos privados das pessoas atingidas por estas desastres naturais.
Nos meios técnicos, e para além do sistema EWS, existe também a funcionar no Japão um Sistema de Alerta de Maremoto. O professor Tanaka aqui fez uma breve menção ao Terramoto de Lisboa em 1755, dizendo que segundo dados históricos, se estima que o maremoto atingiu a cidade cerca de 30 minutos após o sismo. Mas como no Japão já se viu o tsunami surgir apenas 7 minutos depois do sismo abalar a terra, o alerta de tsunami é dado 3 minutos após a ocorrência, para garantir a eficácia do alerta.
De seguida, o professor apresentou o Ciclo de Gestão de Desastre:

Por exemplo, na parte da Preparação, em grandes centros urbanos, criam reservatórios de água subterrâneos que são aprovisionados para as emergências. Numa nota engraçada, o professor mostrou uma imagem duma série policial japonesa e disse (parafraseando): “Quando estão vazios, são usados para filmar séries de TV, particularmente cenas de acção.” [risos da audiência]. Na área da Mitigação, além de materiais anti-sísmicos nas construções, são construídas barreiras anti-tsunami, que no Japão atingem os 10 metros (sensivelmente 3 andares). No Japão, trabalham mais na coluna do lado esquerdo (imagem), ou seja na prevenção, procurando dessa forma minimizar os efeitos, até porque o governo só presta os serviços da coluna da direita se a intensidade do evento assim exigir. Está comprovado que esta atitude reduz muito as mortes e gastos posteriores aos desastres. O professor Tanaka mostrou um gráfico demonstrativo para o caso de Miyagi. Como já havia a previsão do sismo, os preparativos incluíram até um reforço intenso a nível da construção. Como consequência directa, nenhuma escola desabou perante o sismo brutalíssimo de 2011. Essas escolas foram depois usadas como centros de acolhimento para os sobreviventes, além de terem salvo a vida das crianças que nelas se encontravam. Por outro lado, as barreiras anti-tsunami falharam. O problema no caso do tsunami de 2011 foi que as ondas superavam em muito os 10 metros de altura, antecipados. As ondas chegaram aos 16 metros de altura (altura calculada com base na altura a que se encontraram posteriormente destroços arrastados).
E aqui chegamos a um ponto importante da palestra. É que o tsunami de 2011 foi muito além das previsões do Mapa de Previsões Japonês. Mas como este mapa era do conhecimento geral da população, houve muita gente que simplesmente não procurou sair da zona onde estava, pois SABIAM (ou pensavam saber) que as barreiras os protegeriam do tsunami. Outras simplesmente por se acharem fora da zona de perigo segundo o mapa, deixaram-se ficar, pensado-se em segurança. Assim sendo, todo o sistema teve de ser repensado. A informação que as pessoas vão recebendo nos telemóveis era deste género:

- aos 3 minutos: alerta Tsunami (ondas de 3 metros em Iwate e de 6 metros em Miyagi);
- aos 17 minutos: ******** (ondas de 6 metros em Iwate e de 10 metros em Miyagi).

Agora a informação que segue para os telemóveis, são possíveis intervalos de altura de onda, para que as pessoas “não se fiem na virgem” e fujam para zonas mais seguras, caso tenham essa possibilidade. Exemplo hipotético: ondas entre 6 e 13 metros. Ainda sobre este sistema de informação: 76% das autoridades locais, no Japão, têm ao seu dispor nas ruas sistemas de altifalantes que continuamente (desde que os sismos não os incapacitem à partida, algo que ocorre pontualmente) vão dando informações actualizadas da situação, funcionam sem fios (wireless) e mesmo em caso de falta de energia (blackout), sendo um sistema robusto o suficiente para ser eficaz; por outro lado, existe uma lei que obriga as estações televisivas a continuamente fazerem boletins informativos sobre a ocorrência. Mais uma vez see prova que informação é poder, neste caso o poder de se agir decisivamente evitando a morte. Mas basta uma má informação e…
O professor Tanaka mostrou ainda um quadro com 3 tipos de padrão de comportamento assumido pelas pessoas e os efeitos que esses comportamentos têm na sua sobrevivência aquando de um sismo desta magnitude:

Padrão A – os que fogem após o sismo: 60% sobrevivem;
Padrão B – os que fogem após o sismo, mas antes tentam fazer algo (malas, salvar pertences, etc…): 30% sobrevivem, 7% são apanhados pelo tsunami, 64% estavam fora de casa;
Padrão C – os que fogem só quando o tsunami já está a cair sobre eles: 10% escapa, 49% são apanhados (onde 30% destes estavam conscientes do tsunami).

Esta última percentagem, 30% de pessoas que estão conscientes da vinda do tsunami mas não fogem, são tipicamente pessoas que se preocupam mais com o bem-estar de outros que com o seu próprio. Pessoas que estavam fora de casa, mas assim que recebem o alerta tentaram chegar à família, ou bombeiros e outros servidores do público que estavam a actuar para salvar pessoas.
Ainda foram mostrados vídeos de maquetes à escala que procuram simular o sismo de 2011 e a resistência dos materiais ou reforço estrutural anti-sísmico, mostrando a eficácia destes últimos mesmo face ao mais destrutivo dos sismos registados. Contudo, é preciso ter noção de que nunca se consegue salvar 100% das pessoas nestas ocorrências. Estas catástrofes tendem a atacar os pontos fracos das nossas sociedades e por isso é preciso eliminar essas fraquezas, por exemplo, aumentando a robustez dos prédios antigos e zonas históricas, encontrando o equilíbrio entre manter o passado e proteger as pessoas no futuro. Mas também mantendo em contínua prontidão os serviços de emergência e ao mesmo tempo fortalecendo a educação nas escolas, para ensinar as novas gerações sobre o que podem e devem fazer individualmente nestas situações. E por último, a divulgação destes conhecimentos que é essencial!
No Japão, segundo o professor Tanaka, estuda-se também como obter a atenção das pessoas que pura e simplesmente não se interessam pela prevenção destes eventos. Não se estuda só a engenharia mitigadora, mas também nos campos da sociologia, psicologia e gestão, quis ele frisar.
Em jeitos de conclusão e finalização da palestra, o professor Tanaka indica que o maior problema deste tipo de sismo (idêntico em escala, estima-se agora, ao de 1755 em Lisboa) só acontece uma vez em cada 3 mil anos. Mas como o ser humano tem tendência a esquecer coisas más, é preciso resistirmos a esse hábito e termos consciência de que estes terríveis eventos já aconteceram e tornarão a acontecer, e como tal é preciso prepararmo-nos para os enfrentar o melhor que esteja ao nosso alcance fazê-lo.

Palestra II
A segunda palestra ficou a cargo do professor Carlos Sousa Oliveira, do Instituto Superior Técnico, onde é professor e investigador de Engenharia de Estruturas, Território e Construções. É autor de vasta publicação na área se risco sísmico e foi consultor da ANPC (Autoridade Nacional de Protecção Civil), tendo acompanhado a elaboração dos planos de risco sísmico da Área Metropolitana de Lisboa e do Algarve. O objectivo da palestra do professor Oliveira foi relacionar o sismo de 2011 em Miyagi com o sismo de 1755 em Lisboa. A palestra andou em passo acelerado devido à falta de tempo, face ao estipulado pela organização, o que para mim foi uma pena, pois ficou muita informação pelo meio por veícular.
Uma das primeiras coisas que o professor disse foi que provavelmente os japoneses levarão uma década a analisar toda a informação recolhida neste último sismo. Segundo alguns dados já apurados, o sismo tinha uma aceleração de 2G no epicentro. No Japão, os prédios estão preparados para absorver acelerações entre 30% e 40% de G, enquanto que em Portugal o intervalo é de 20% a 30% de G. Os modelos de sismos prévios a este terramoto de 2011, previam sismos com duração de 10 a 30 segundos, mas o de Miyagi foi 10 vezes maior em duração, gerando esforços de fadiga penosos nas construções. Por exemplo, edifício com 70 metros de altura, abanava 1 metro para o lado. Os dados históricos do sismo de 1755 apontam para esta duração, mas os cientistas não acreditavam que fossem dados factuais até serem corroborados pelo sismo de 2011. Deduz-se também que a topografia litoral tem uma influência imensa nos efeitos do tsunami. O professor arranjou uma maneira muito elegante de se referir a este tipo devastador de sismos: é um sismo cuja probabilidade tende para zero mas que, quando acontece, tem um poder destrutivo que tende para infinito.

0 .

Quando o Zero se encontra com o Infinito, nunca é bom como saberão decerto da matemática de 12º ano. Ora, como na Matemática esse problema é coisa que nem sábios nem governantes conseguem resolver.
Voltando aos aspectos técnicos, concluiu-se também que zonas propícias a liquefacção, terrenos arenosos, provocam problemas de resistência nos alicerces das construções. Após o terramoto de 1995, o Japão enquanto nação preparou-se a nível de construção para aguentar fisicamente muita força e mesmo assim muitos prédios foram destruídos.
O professor Oliveira mostrou então fotografias da zona atingida no Japão, 1 ano depois do evento. As infra-estruturas foram restabelecidas, mas a regeneração dos espaços (limpos de destroços mas agora vazios) ainda está por fazer. O problema prende-se com a decisão de se se reconstrói a urbe que lá existia ainda mais reforçada e reforçam-se também os diques ou barreiras de tsunami OU se pura e simplesmente não se reconstrói lá nada e as pessoas se mudam para zonas mais seguras? Esta resposta não é fácil de dar, uma vez que pode voltar a ocorrer outro sismo daqueles já amanhã ou só daqui a mil anos. Uma outra fotografia mostrava um autocarro no topo dum prédio. Uma casa inteiramente tombada para o lado, ou seja a estrutura não ruiu mas tombou como um todo. O lixo e escombros resultantes ainda estão amontoados em pilhas e também são um fardo resultante de difícil resolução.
Até ao ano de 1958, as cintas de aço nas estruturas dos prédios ainda eram feitas com demasiada distância entre os ferros. Hoje as normas de segurança exigem que essa distância seja menor e como tal mais resistente, mas o problema é que ainda há prédios muito antigos em todo o mundo. A Baixa Pombalina tem esse problema.
Outro problema no Japão, é que muita gente um ano depois ainda está em alojamento temporário.
Um outro problema importante é o das centrais nucleares. Toda a zona afectada ainda se encontra com concentrações de césio muito elevadas, que não será possível limpar nos próximos 60 anos. Na altura da conferência, o professor Oliveira deu a indicação que o Japão se preparava para fechar as cerca de 60 centrais nucleares do país, que produzem 30% da energia produzida no Japão. O fecho, hoje em dia já uma realidade (como as notícias abaixo testemunharão), é para avaliação de se devem continuar com o seu programa nuclear de produção de energia ou se o Japão deve mudar para processos mais seguros embora menos eficazes de produção de energia, como as eólicas e solares. Um outro problema económico poderá surgir daqui, uma vez que a falta de energia poderá pôr em risco alguma da indústria japonesa ou no mínimo a sua capacidade produtiva.
Em Portugal, já se está a implementar um Early Warning System para Tsunamis, que o professor Oliveira prevê entrar, ou espera que entre, em funcionamento em breve, e que aconselha também a que se prepare um EWS para sismos de seguida. Sines é uma região sobre grande risco sísmico e esforços extras devem ser lá feitos para a proteger. Considerando o que aconteceu em Lisboa em 1755, é importante erguer barreiras nas zonas de risco, pois estima-se que os estragos não foram maiores na Lisboa do século XVIII por causa da Muralha que Lisboa possuía na costa e que mitigou os efeitos do tsunami. Essa muralha já não existe!! Estuda-se também a interconectividade dos vários sistemas de Apoio e Salvamento que actuam nestas eventualidades. O professor aludiu ao facto de ser óptimo ter escolas reforçadas que resistem ao sismo, mas se depois não tivermos meios capazes de lá levar socorro, comida e água, de nada servirá. Recordo eu o problema que o Bush teve nos EUA, aquando do furacão Katrina, que por falta de meios ou da lentidão na resposta, muita mais gente morreu posteriormente ao desastre natural.
Nesta altura, o professor Oliveira deu-nos mais alguns dados históricos apurados dos relatos da altura do Marquês de Pombal:
- teve 8 a 10 minutos de duração;
- uma intensidade estimada de 9 na escala de Richter (face às construções da época);
- quanto ao número de mortos estimam-se que tenha sido a rondar os 20000, sendo que o governo português da época dizia apenas 6000, e a literatura estrangeira coloca valores entre os 30 e os 70 mil mortos;
- o fogo matou imensa gente, no pós sismo.
A resposta por parte do Marquês de Pombal foi feita em tempo recorde, tendo envolvido:
- extinção de fogos;
- evitar epidemias;
- apanhar presos escapados dos calabouços;
- salvar os conteúdos da Torre do Tombo;
- foi feito um inquérito com 13 perguntas junto da população, que era quase igual aos hoje utilizados no pós-sismo para avaliar a intensidade do mesmo entre outros aspectos;
- a reconstrução aprendeu com os erros passados, surgindo a famosa Gaiola Pombalina, o corta-fogo, fazerem-se as fundações em cima de escombros, as estacas que os aumentos actuais do Metro vieram a pôr em causa recentemente;
- foi feito o primeiro regulamento/código de construção e urbano e criaram-se novos sistemas de saneamento.
Segundo Voltaire, esse outro grande humanista, surgiu deste evento também uma nova forma de ver o mundo. O professor Oliveira não elaborou...
Segundo o professor Oliveira, se o sismo de 1755 ocorresse hoje, os gastos seriam de N vezes o valor do PIB.
Outro campo de estudo a ser desenvolvido em Portugal é na área dos simuladores de sismos:
- estudos liderados pela Protecção Civil;
- com o objectivo de prever o que poderá acontecer;
- analisar que recursos podemos utilizar para a prevenção (incluindo mais uma vez a própria educação das crianças).
Existe hoje aprovada (em Julho de 2011) a recomendação AR 103/2010 que infelizmente ainda está por implementar.
Sessão de P&R
Houve depois uma pequena cessão de perguntas e respostas abertas à audiência, que se centralizaram muito na questão nuclear mas também na questão humanitária. Que iria acontecer às pessoas que por exemplo trabalhavam a terra na zona do sismo, que agora ou está radioactiva ou impregnada de sal marítimo, por exemplo? É um outro problema ainda em resolução, sendo que alguns desses agricultores simplesmente abandonaram a área e, com ajuda do seguro e/ou do governo, compraram terrenos noutras regiões e recomeçaram a sua vida. Eis uma  notícia interessante sobre este último problema:
O Engenheiro José Oliveira, director Nacional do Planeamento de Emergência da ANPC, moderador do debate, informou-nos ainda de que a Protecção Civil ainda este ano, salvo erro, fez um simulacro de sismo no Algarve, estando então a manter-se de prontidão para essa eventualidade e também promove actividades nas escolas para educar a criançada sobre o que se deve fazer nestas situações. O engenheiro falou também de se estar a pensar implementar nas zonas de risco em Portugal esses sistemas de altifalantes de emergência nas ruas.

Todos os intervenientes concordam que o essencial é a prevenção e a divulgação da informação e como tal, cá está mais uma vez o N.I.N.J.A. Samurai a fazer o que pode, informando-vos de tanto quanto ele sabe. Num futuro breve, espero deixar aqui também um link para um pdf com informação sobre os comportamentos que devemos tomar em caso de sismo, que circulou em email aqui há uns tempos em Portugal. Por hoje é tudo,

Alex, signing off… as usual!

Update( umas horas mais tarde): eis o link para o pdf:

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Festa Japonesa em Belém e Desacordo Técnico em crescendo


Olá, pessoal!
Bem sei que o blog tem estado MUERTO (esta escolha de palavra não é ao acaso :) este mês, mas ainda vai ressuscitar antes do fim! Tremam, meus compatriotas terrenos, tremam!
Entretanto, aproveito para relembrar o vindouro evento da Festa do Japão em Lisboa. Se querem ir para fora cá dentro, se gostam de se deixar imergir em culturas diferentes da nossa, aproveitem a oportunidade no dia 2 de Junho de 2012. Eis os pormenores, fresquinhos e directamente da Embaixada do Japão:

Face ao enorme êxito da Festa do Japão em Lisboa em 2011, a Embaixada do Japão, a Câmara Municipal de Lisboa, a EGEAC e a Associação de Amizade Portugal-Japão, com o apoio da JapanNet e da 'Japan Foundation', organizam este ano a 2ª edição deste evento, no âmbito das Festas da Cidade de Lisboa.
Pretende-se celebrar a amizade e a cultura entre o Japão e Portugal, no espaço existente do Jardim do Japão em Belém, aproveitando a sua excelente localização para dar a conhecer mais a cultura japonesa em Portugal.
Os visitantes poderão usufruir das várias expressões da cultura japonesa, quer tradicional quer pop,  através de concertos de música japonesa (tambores e 'shamisen'), demonstrações de Ikebana, Shodo (caligrafia), artes marciais, poesia Haiku, Origami, Furoshiki (técnica de embrulho), brinquedos japoneses, como vestir Yukata (o kimono de Verão), Cosplay (expressão da cultura pop), concursos, exposições de Bonsai, tendas de gastronomia japonesa (para venda de sushi, carê udon, takoyaki, dorayaki - doce de soja, sakê, cerveja japonesa etc.), representação de empresas japonesas, entre outras. VER PROGRAMA
A edição deste ano contará igualmente com a gentil participação de Fernando Tordo, Filipa Pais e Carlos Mendes, na apresentação de 'Memorial', com o tema 'Biombo de Namban'."


Só acrescentar numa outra nota a boa nova duma pequena mas, espero eu, significativa vitória para todos aqueles que como eu partilham do sentimento anti-Acordo Ortográfico. A Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico votou esta semana em assembleia geral de alunos declarar-se publicamente contra o Acordo Ortográfico, contra a sua implementação no IST (para começar ehehhe) e anunciou o intento em procurar levar este sentimento a outras associações de estudantes de forma a gerar uma frente unida contra este (des)acordo por parte dos estudantes actuais, líderes do amanhã! Momentos destes levam-me a ter orgulho em dizer que sim, estudo no Instituto Superior Técnico, uma universidade de engenharia onde os alunos se preocupam com a cultura do seu país, independentemente de estarmos em crise económico/social ou de não estudarem letras eles próprios. Mas se soubesse o comum dos mortais que a Matemática a sério é mais letras que números, ninguém diria que não estudamos Letras! Além disso, não há nada pior que um texto técnico atabalhoado e mal escrito... eles já são complicados o suficiente estando bem escritos e numa ortografia tanto menos ambígua quanto possível.
Também muito me agradou quando descobri termos no IST um grupo de estudantes que dá pelo nome de Desacordo Técnico, que foi o primeiro pólo do IST publica e activamente contra este acordo (a página deste grupo é fácil de encontrar no facebook):
Assim sendo, continuemos a resistir, de canetas e teclados empunhados quais espadas e vitória a vitória, a guerra será vencida por nós!
Não se esqueçam de assinar a "ILC contra o AO90". São necessárias 35 mil assinaturas. É uma iniciativa de cidadãos e não uma mera petição. Tem de se assinar em papel, sendo que todas as informações sobre para onde enviar e o formulário a assinar, se podem encontrar no blog desta Iniciativa ( http://ilcao.cedilha.net/ ). Ainda ando a recolher algumas assinaturas junto dos meus amigos e familiares para enviar juntamente com a minha! Vamos lá!

Até à próxima… que espero que seja em breve!
Signing off

P.S.: O parágrafo que acompanha o cartaz da Festa do Japão e está a itálico, é citação directa do boletim informativo da Embaixada do Japão.