sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Otori, São Valentim e Ginkgo?


Eu estou a gostar muito d’«A Saga dos Otori» (originalmente chamada “Tales of the Otori”), criada pela escritora Lian Hearn, ao ponto de ter finalmente decidido fazer uma crítica aos 4 de 5 livros que já li da supracitada obra, sendo que desde que no Natal me foi oferendado a prequela desta história (o quinto e último livro a ser publicado) não só li a prequela como reli os volumes 1 e 2 da trilogia original e já iniciei o terceiro.
A saga passa-se no Japão Medieval dos Samurai, mas não no Japão Histórico. Antes a acção decorre num Japão alternativo e imaginário, em tudo igual ao Histórico excepto nos intervenientes e nalguma da geografia do país.
Temos portanto um país dividido em feudos, que existem em constante guerra uns com os outros perante um fraco imperador que é descrito como desprovido de poder, arrecadado algures numa capital longínqua. De facto, o Japão foi assim durante imensos anos, nos dias do Xogunato. Lidamos também com um Japão já infectado por missionários cristãos, gerando assim uma nova minoria no Japão, prontamente a ser perseguida por uma classe guerreira temerosa de pessoas que não os considera como seus superiores mas antes como seu iguais (atitude explicada no livro pelo versículo bíblico "todos somos criados iguais", parafraseio). Assim, ao longo de todos os livros desta história, vamos tendo vislumbres de tópicos ou questões que ainda hoje atormentam ou, porque não?, assombram a Humanidade: guerras de classes, perseguição religiosa, direitos das mulheres, os abusos dos poderosos, a austeridade servida às massas através de impostos cada vez maiores... parece-vos familiar?
Tudo isto surge no decorrer da constante luta de uma facção do clã Otori, liderada inicialmente por Otori Shigeru, justo herdeiro do clã, afastado do poder graças a traições e maquinações políticas, por parte dos seus tios. 
A prequela, intitulada originalmente “Heaven’s Net is Wide”, que em Portugal foi chamada “O Fio do Destino” (vá-se lá saber porquê?!?), conta-nos essencialmente como é que Shigeru perdeu o governo do seu clã, ou melhor, como não chegou a herdá-lo. Mas também nos mostra como o seu carácter foi forjado, derivado a uma educação espectacular, digna de um rei, temperada com um sentido de responsabilidade pelo e proximidade para com o seu povo. Ao contrário dos seus tios, que lhe usurpam o poder do clã, ele não vê os seus súbditos como posses, mas antes como pessoas cuja segurança deve ser mantida e a quem a justiça e a prosperidade são devidas. Ou pelo menos, a consciência que cabe ao governante o dever de fazer o seu melhor para proporcionar condições para que o povo goze desses três direitos. São também falados os seus amores e desamores, as suas frustrações e pequenas vitórias. Mas grande parte do livro é o relato da vida de um homem destinado a herdar um grande poder que se tem de adaptar a novas circunstâncias da sua vida, ocultando a sua força com uma máscara de fraqueza, enquanto muito pacientemente aguarda o momento de exercer a sua vingança e recuperar o plano que tinha em jovem para a bem-aventurança do seu povo.
E é assim que chegamos a Otori Takeo, herdeiro de Shigeru, e principal personagem da trilogia e da sequela (o 4º livro da Saga, aquele que ainda não li), e que se torna alvo de todas as esperanças de êxito de Shigeru, bem como a sua ferramenta, ou melhor dizendo arma, para atingir o seu objectivo. É de facto só na trilogia que conhecemos o destino de Shigeru e da sua amada e aliada de pleno direito, a senhora de Maruyama Naomi (um outro feudo), mas também é quando conhecemos (e tão bem quanto Shigeru ou Takeo) Kaede, a herdeira de Shirakawa (ainda um outro feudo, cujo clã governante é familiar de Maruyama) e futura amada de Takeo. É através desta personagem principalmente que vemos a perspectiva feminina de uma feminista que procura sobreviver num mundo dominado por machistas.
Estes são livros muito românticos, mas que não contêm romances propriamente cor-de-rosa. As paixões e amores desta história são sempre forçados a enfrentar tudo e todos para existirem, sendo por vezes forçados a existirem apenas em segredo. A força do desejo sexual puro, a líbido, não é colocada de parte como num filme da Disney, mas antes usada para tornar mais realista a vida destas personagens. A própria sociedade e a sua organização e costumes surge como um obstáculo, que impede os poderosos de fazerem o que lhes dá na real gana no que diz respeito ao amor. Os casamentos estão sempre a ser combinados por pessoas que não os noivos, em prole desta aliança ou daquela necessidade de aplacar uma ofensa para com um aliado em riscos de se tornar inimigo. É essencialmente o que acontece na série de tv “Jogo dos Tronos” e nos livros que a inspiram. Uma outra semelhança que “A Saga dos Otori” tem com o universo de RR Martin, é que Hearn também não tem medo de sacrificar uma personagem com quem acabou de gerar muita empatia perante o leitor. Assim, o leitor é forçado a sentir o medo das personagens quando elas arriscam algo ou quando se decidem a afrontar a sociedade que os impede de ser felizes ou de atingirem os seus objectivos.
No que diz respeito à ligação entre a trilogia original (os volumes 1, 2 e 3) e a prequela, esta está mais bem feita que a ligação entre a trilogia original da Guerra das Estrelas e a trilogia mais moderna dessa mesma saga. Os mais pequenos pormenores estão atados com uma precisão admirável e sempre muito subtilmente. De tal forma, que é até melhor começar a ler “A Saga dos Otori” pelo o último dos seus livros a ser publicado, a prequela. É que ao contrário da Guerra das Estrelas, não há nenhum momento de “Luke, I am your father”, para ser estragado.
Além das várias classes sociais do Japão Medieval e das minorias como os barakumin e os conversos cristãos (neste universo intitulados de Ocultos), o livro recebe ainda uma outra dimensão que é o mundo hermético da Tribo, um conjunto de famílias que se organizou como uma rede de espiões e assassinos ao serviço de quem lhes pagar mais, sem quaisquer lealdade excepto à própria Tribo. Essencialmente, ninjas.
A autora decidiu-se por dar um toque de espiritualidade e fantástico a uma, de resto, história muito realista. Esse toque materializa-se nalguns destes ninjas que são dotados de poderes que rivalizariam os de um Jedi e na existência de profetas e profecias entre os Ocultos, cujo único poder é a sua total convicção e entrega à causa dos ensinamentos do seu Deus.
O facto de Otori Takeo ter uma ascendência que une os Ocultos, os Samurai, e os Ninja, numa mesma pessoa, tornam-no o ponto óbvio de confluência da trama. Ele é o herdeiro adoptivo de Shigeru, o mais popular dos nobres que conseguiu sempre manter a seu lado o apoio das classes mais baixas; é também alguém cuja mãe pertencia aos ocultos, uma minoria que Shigeru e Naomi (a senhora de Maruyama) decidiram proteger, e foi então criado entre eles até quase à maioridade; e herdou de seu pai os mais altos poderes da Tribo, organização que o cobiça e exige a sua lealdade sob ameaça de morte. Em perigo constante tanto da Tribo, como dos senhores feudais, é nos seus poucos aliados nobres mas essencialmente nas classes baixas que Takeo terá de procurar a sua base de poder.
Enquanto isso, Kaede, herdeira do único feudo que permite as mulheres governarem, está ela também em risco constante, daqueles que desejam usurpar o seu dote e daqueles que ela insulta meramente por recusar pedidos de casamento.

Em suma, temos uma buffet de tópicos, tratados pela perspectiva de personagens com as quais facilmente se empatiza, todo o romantismo da Era Medieval mas num contexto em que os nobres, mesmo os mais pérfidos ou maquiavélicos, são cultos (ao contrário da nossa era medieval europeia, em que a classe governante era maioritariamente inculta e só sabia mesmo “andar à porrada”). É um rodizio que se torna coerente por uma escrita que tem tanto de bela como de fluida e simples. O facto de haver algum ateísmo no meio de tantas personagens místicas ou espirituais, também me aliciou na leitura destes livros. Na vida social, todos fingem ter algum tipo de credo, particularmente budista ou shintoísta. Contudo, algumas das personagens, quando falam com o seu círculo interno de amigos ou com “os seus botões”, dão-se à liberdade de afirmações de descrença ou cepticismo, como demonstra o diálogo escrito no scan seguinte:
Claro que é sempre um bónus para quem, como eu, vibra com os folclore e mitos medievais japoneses, esta história estar cravejada de ninjas e samurai. A única pena que tenho é que seja dado tão pouca atenção aos lutadores sumo, sendo que até agora só apareceu uma referência a uma escola de lutadores, mas sem grande profundidade ou interesse para a história central. É apenas uma episódio de passagem. Sendo que a cerimónia pouco conhecida por detrás do Sumo, no Japão Medieval, tive pena que a autora não a usasse mais. Um dia destes abordo o tema aqui.
E se bem que se o Japão Medieval aqui apresentado é imaginário em pessoas e locais, o espírito japonês está extremamente bem representado nestes livros. O valor da honra, a desonra da derrota e o ter de lhe sobreviver, o choque de culturas onde o suicídio é hábito com outras em que este é proíbido, mas também os ensinamentos da arte da guerra (não declarados mas subtilmente escritos das entrelinhas das acções dos actores da história), o ateísmo e o choque de religiões, as classes e as suas ligações, etc…
A tradutora Isabel Nunes está de parabéns. Acho que nos quatro livros, até agora, detectei apenas uma gralha. Em vez de caractér, aparece carácter. Os títulos é que estão um bocado mal traduzidos, mas não sei se foi culpa dela ou da editora. Já indiquei o título da prequela, eis os restantes:
- Livro 1: Across the Nightingale Floor (tradução literal: Através do Chão do Rouxinol) passa a “A Tribo dos Mágicos”;
- Livro 2: Grass for is Pillow (t.l.: Erva para a Almofada Dele), eu colocaria algo como “Erva como Almofada”, mas a tradução foi “O Desafio do Guerreiro” (alguém deve ter visto o Braveheart nessa semana!!);
- Livro3: Brilliance of the Moon (t.l.: Luminosidade da Lua) passou a “As Cinco Batalhas”;
- Finalmente a Sequela, que eu ainda não li: The Harsh Cry of the Heron (t.l.: O Rude Grito da Garça”) passou a “O Voo da Garça”.
Eu até concordo que alguns dos títulos portugueses são melhores que os originais, mas detesto quando o marketing se sobrepõe ao autor, como me parece ser o caso. Não esqueçamos que estes são apenas subtítulos, pois o título é “A Saga dos Otori”.
Seja como for, como o último dos livros oriunda de 2007, facilmente se encontram sem acordo ortográfico!!
Note-se, aludindo às imagens directamente abaixo e acima, que para algumas mulheres, aquelas a quem eu enquanto homem daria preferência de um ponto de vista psicológico e cultural, dão extrema importância à língua (full pun intended):
Assim sendo e como se avizinha o dia de St Valentim (mais um santo desencaminhado pelos mestres do marketing), este é também um belo presente para um(a) namorado(a) que goste de ler e até um presente que, caso quem oferece também goste de ler, pode ser algo que ambos os membros do casal possam desfrutar conjuntamente. Eu sou da opinião que tanto mais romântico é o presente do dia dos namorados quanto possa ser uma prenda que se desfrute a dois.
Por falar no dia dos namorados, eu escrevi no ano passado um post sobre isso, a afirmar o quão era um dia não de romantismo mas de comércio, e qual não é o meu espanto quando este ano revisitei esse meu post e reparei que tenho lá um único comentário e que é precisamente um link para uma oferta comercial relacionada com o Dia dos Namorados. É tão bom quando nos provam correctos! :D Se quiserem ver é só seguirem este link:




Quero ainda acrescentar mais uma prova, if you will, que faz o meu caso acerca da natureza comercial do Dia dos Namorados, ou de São Valentim se preferirem. Uma ex-colega de trabalho minha colocou, por piada, a imagem acima no facebook dela. Ela é solteira e achou por bem brincar com a cena. Embora não sirva apenas para esse dia, vários países desenvolveram de facto um nicho de mercado no aluguer de namorados ou namoradas. Acontece na China (Link aqui), no Brasil (Link aqui), com uma sucursal em Portugal trazida para cá por um alumnae do Instituto Superior Técnico, a minha alma matter, (Link aqui), e finalmente no Japão, como demonstra o vídeo abaixo.
Agora já ninguém precisa de se sentir socialmente inferior por não ter a seu lado a sua alma gémea no dia de São Valentim ou noutra ocasião social qualquer, desde que claro tenha dinheiro! Felizmente, este mundo ainda não está perdido e outra amiga "facebookiana" publicou uma outra imagem dedicada àqueles que são, não só desavergonhada mas também, orgulhosamente solteiros.
Mudando de assunto drasticamente, quando estava a ler a prequela, descobri lá um termo de origem chinesa que desconhecia: Ginkgo. Fui pesquisar e percebi que era uma árvore. Segundo a wikipédia a palavra quer dizer em chinês “damasco prateado”. Não liguei mais na altura. Uns dias depois, surge-me este artigo (Link aqui) no news feed do facebook precisamente sobre as Ginkgo. Não teria ligado ao artigo, não tivesse reconhecido o nome e teria ficado a perder gravemente com isso. É fácil então de perceber o que levou o Jung a acreditar no seu Sincronismo! A vida tem destas coisas
As Ginkgo parecem ser as mais antigas árvores existentes. No artigo acima linkado, Roger Cohn, seu autor, começa por afimar:
“Reverenciadas pela sua beleza e longevidade, as ginkgo são fósseis vivos, imutáveis durante mais de 200 milhões de anos.”
Segue-se então uma entrevista concedida à Yale Environment 360 pelo botânico Peter Crane, que diz ter escrito uma biografia destas árvores raras e estranhamente únicas, e sobre a qual eu aqui deixo um resumo.
Muitos milhares de moradores citadinos conhecerão a ginkgo por ser uma árvore de rua, com elegantes folhas em forma de leque ou abano, frutos malcheirosos, e nozes desejadas pelas suas qualidades medicinais, mas Peter Crane vê esta árvore como algo mais que isso. Para ele é uma raridade na natureza devido ao facto de ser uma espécie única de árvore sem qualquer parente vivo, um fóssil vivo nas suas palavras que privou (isto é, coexistiu) com dinossauros e que não mudou em 200 milhões de anos de existência, mas também um exemplo perfeito de como a Humanidade pode ajudar uma espécie a sobreviver.
Sendo reitor da Escola de Yale para Estudos da Floresta e do Ambiente, Crane tem vindo a escrever uma biografia desta árvore ao longo dos milénios. Ginkgo: The Tree That Time Forgot, é o título do seu novo livro que conta como esta árvore se espalhou pelo Mundo.
O botânico afirma que, como só existem 5 grupos de plantas de semente e a Ginkgo compõe um deles, é impossível que alguém que persiga um sério interesse em plantas não se cruze com ela algures nos seus estudos. Por outro lado, acrescenta, que uma vez que se veja a folha tão característica desta árvore, nunca mais se esquece. É muito estranho que a ginkgo não tenha quaisquer parentes vivos de fácil distinção. Tal não acontece com as cerca de 350000 espécies actualmente vivas. Crane procurou explicitar no seu livro que de facto já existiram várias formas de parentes da ginkgo, mas que todas essas árvores aparentadas à ginkgo se tornaram extintas e só esta última chegou aos dias de hoje. Num breve à parte, parece-me a mim que esta árvore é o equivalente vegetal do crocodilo, que também oriunda dos tempos dos dinossauros e subsiste nos dias de hoje, embora ameaçado pelo Homem.
Foi através do registo fóssil que os cientistas como Crane e também um seu colega chinês paleobotânico chamado Zhou Zhiyan, chegaram há conclusão que a ginkgo não se alterou muito em 200 milhões de anos de existência. Zhiyan terá descoberto algumas diferenças na forma como as sementes estaria agarradas à planta via os fósseis, mas não era nada de marcante. Já Peter Crane afirma que nos fósseis que ele estudou, com cerca de 65 milhões de anos, não há quaisquer diferenças. Os fósseis mais antigos das ginkgo têm pouco mais de 200 milhões de anos.

Quanto ao terrível cheiro dos seus frutos, que Crane diz ser semelhante ao do vómito, julga-se que se trata de um agente dispersivo, isto é, uma forma de atrair animais que venham comer o fruto e depois larguem as suas sementes com as fezes noutro local, dispersando as ginkgo pela Terra. Deduz-se isso porque há histórias de cães a comerem frutos desta árvore, ficando depois indispostos. O botânico deixa então a pergunta no ar, as ginkgo ainda vivem, mas será que os animais que as ajudavam a dispersar-se ainda subsistem ou já estarão extintos?
 
O que parece ser certo é que estas árvores ainda retêm a capacidade de se dispersar pela Terra, portanto ainda terão algum agente dispersor. Há relatos de castores e esquilos a comerem frutos das ginkgo, o que segundo Crane não é de admirar, pois após ter passado o mau cheiro, que é produzido pela parte externa das sementes, as sementes em si são atraentes (assemelham-se a um pistachio) e são muito nutritivas e suculentas. Estas sementes costumam cair à terra no final do Outono, no caso norte-americano, portanto em finais de Novembro, inícios de Dezembro. E a única salvação do cheiro é o facto do solo congelar, avança o botânico. Contudo, apenas as sementes das ginkgo femininas cheiram mal, pelo que hoje em dia as ginkgo masculinas é que são mais cultivadas. As lojas botânicas normalmente têm é sementes masculinas (imagem acima deste parágrafo).
A melhor estimativa de desde há quanto tempo o homem cultiva a ginkgo é desde há 1000 anos, na China. Deduz-se isso porque há registos de cultivo de outras plantas na China há mais tempo, mas a ginkgo só surge nos registos a partir de há mil anos atrás. Supõe-se também que tal se deva ao facto de a ginkgo ser uma árvore rara desde sempre. Deverá ter sido primeiro notado pelas suas bolotas e também devido a elas terá começado a ser cultivada, durante muito tempo só na China, só chegando no século XIV ou XV, pelas rotas comerciais, à Coreia e ao Japão. O primeiro ocidental a encontrar-se com uma ginkgo de que há registo, que tenha escrito sobre isso, Engelbert Kaempfer (sobre o qual vale a pena uma visita à sua página da wikipédia) que estava com a Companhia das Índias Orientais Holandesa no seu posto comercial no sul do Japão em 1692 (muito tempo depois de Portugal ter perdido o monopólio do comércio com o Japão, uma história para outro dia). Ao retornar à Europa, ao escrever sobre a sua estadia no Oriente, ele foi o primeiro a usar a palavra ginkgo e também a apresentar uma ilustração da árvore. Podemos ver abaixo um facsimile de uma das suas ilustrações. É provável, indica-nos Crane, que só umas décadas depois a árvore tenha sido introduzida na Europa, pelos 1730-50.
Quanto às suas propriedades e usos medicinais, das quais goza a reputação de auxiliar ou aumentar a memória, o botânico de Yale diz-nos que há duas vertentes, uma ocidental que se foca em extractos das folhas, e outra tradicional chinesa que se centra nas propriedades das sementes. No Ocidente e segundo Crane, têm sido feitos estudos sobre se os derivados das folhas de ginkgo realmente produzem algum efeito positivo medicinal, mas até agora os resultados têm sido algo que ambíguos, nem provando nem negando tais propriedades.
Quanto à ginkgo em si, Crane não sabe exactamente o que a torna tão resistente. O que lhe parece verdade é que as pestes que atingem outras árvores parecem desgostar das folhas da ginkgo que e embora as suas raízes não recebam muito oxigénio nas ruas de cidades, mas sim muito sal e sabe-se lá mais o quê, estas árvores parecem aguentar-se bem perante tais privações e ataques químicos. Tal faz com que seja uma planta muito usada, por todo o lado, como árvore de rua. Encontra-se por toda a Tóquio, por toda a Seoul e por toda a Manhattan, para dar alguns exemplos. Mas note-se que também em Lisboa temos árvores ginkgo, como exemplificado neste link! O livro de Crane também aprofunda a temática das árvores num contexto urbanístico, alegando por exemplo o efeito psicológico que surge de ter árvores de ambos os lados da estrada, criando a ilusão da estrada ser mais estreita e levando os condutores a andar mais devagar, ou a mera produção de sombra que diminui o calor na cidade, podendo prolongar a passagem, doutra forma rápida, das pessoas por uma zona de comércio, ajudando à actividade económica por exemplo. Mas também fala noutros efeitos menos utilitários, como simplesmente tornar mais agradáveis os passeios citadinos, permitindo aos cidadãos, especialmente aos mais novos, todos os efeitos positivos de andar na rua potenciados por uma vasta sombra nos dias solarengos de Verão. No livro, Crane conta uma história de uma moradora do Harlem que tem uma ginkgo à frente da sua casa e que encontra sempre pessoas em redor da árvore independentemente do cheiro. Crane explica que tal é natural de pessoas cujo passado cultural seja familiar com as ginkgo. É comum, diz ele, pessoas da Coreia, da China ou do Japão procurarem uma ginkgo no Outono e apanharem as suas sementes, na maioria das vezes para consumo próprio e não para venda. Muitas vezes nem esperam que as sementes caíam da árvore e antes promovem a sua queda com o auxílio de uma vara.
Contudo, para uma pequena proporção da população em geral, as bolotas e sementes da ginkgo são tóxicas, não sendo então aconselhável comer muitas destas sementes. Ainda que concedendo isso, Crane afirma que o número de pessoas a que isso acontece é mesmo muito pequeno e que ele já comeu sementes de ginkgo em diversas ocasiões sem lhe causarem mal algum.


Peter Crane afirma ainda no seu livro, que o cultivo mesmo fora do habitat natural das ginkgo, embora a manutenção da existência da espécie neste último também seja importante, é uma óptima ferramenta para garantir a sobrevivência desta planta rara e tão única. O botânico confessa que esta árvore, devido à sua intemporalidade face à espécie humana, o ajudou a pensar para além do “aqui e agora”. Ele acrescenta também que a ginkgo é para ele um equivalente temporal aos esboços espaciais da Via Láctea com uma seta a apontar para um pontinho que diz “Estás aqui”, recordando-nos de quão pequenos somos, quão curta é a nossa passagem pelo Universo do qual não somos o centro e no qual existem coisas bem mais antigas que nós. Um pensamento fácil para um ateu, mas extremamente confuso para um crente dos monoteísmos, acrescento eu.
Devido a um trabalho que o reitor fez sobre um fóssil de Ginkgo, um colega seu teve a gentileza de dar o seu nome a uma espécie de ginkgo: Ginkgo Cranei. Crane contudo permanece céptico de que isso dure, inseguro de que as diferenças subtis que o estudo revelou sobre a espécie fossilizada na verdade venham a ser inexistentes, denotando-se que realmente só existe uma espécie de ginkgo e que o nome do fóssil reverta para o simples Ginkgo Biloba. No fim das contas, quem não gostava de ter um bocadinho que fosse de imortalidade, mesmo que apenas (ou especialmente por isso mesmo!!) simbólica?
Na página da wikipédia portuguesa sobre a Ginkgo, é também indicado que a planta só começou a suscitar verdadeira curiosidade no Ocidente depois de ter sido constatado que esta árvore sobreviveu à radiação da bomba nuclear de Hiroshima. Além disso, aprofunda no uso farmacêutico dado aos derivados desta planta. A página em inglês da mesma enciclopédia virtual detém ainda mais informação, para quem esteja interessado em pesquisar mais.
Despeço-me por agora, deixando-vos com uma memória de tempos idos, dum costume brasileiro intitulado de "cartão de paquera", mas a que eu chamaria "o amor espressado em forma burocrática". Bons romances!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma Cultura de Rebanho prá Matança

Algumas sugestões para os meses vindouros, para várias partes do país:
- uma maratona BTT marcada 6 de Abril em Castelo de Vide:
Inscrição na prova: 8€
Almoço (atletas e acompanhantes): 6€
Maratona de 100km
Meia-Maratona de 50km

- em Leiria, já dia 13 de Fevereiro, temos teatro:
«“As Muralhas de Elsinor” já tem estreia marcada, dia 13 de Fevereiro em Leiria partindo depois para digressão por todo o país. Com um elenco jovem e muito talentoso. Rodrigo Trindade (Escola Profissional de Teatro de Cascais, protagonista Mundo ao Contrário - TVI, Woyzeck - Teatro Experimental de Cascais) Marco Mendonça (Escola Superior Teatro e Cinema), Sara Cecília (Escola Profissional de Teatro de Cascais, I Love it - TVI, Woyzeck - Teatro Experimental de Cascais), João Leiria (Escola Profissional de Teatro de Cascais, Morangos com Açúcar - TVI, Podia Acabaro Mundo - SIC e Miguel Babo que encena e que completa o elenco. O texto original do, também jovem, Hugo Barreiros, aborda os temas existenciais expressos por dois guardas, cujos diálogos alimentam a expressão dramática do autor em relação a estes mesmo temas. Uma abordagem criativa e plena de humor que prende o público na utilização original do cenário dramático de “Hamlet” de Wiliam Shakespeare onde se enquadra todo o desenrolar da peça. Uma peça para todas as idades (M12) com a particularidade de ter uma banda sonora original, feita propositadamente para esta encenação, assinada por Nuno Simões. O conhecido músico de David Fonseca, criou temas excelente que se integram também de forma excelente na encenação.», informação dada pela única actriz neste elenco, a Sara Cecilia (imagem abaixo).
"E se a história de "Hamlet" fosse contada na perspectiva dos dois guardas? É precisamente isso que acontece nesta peça, que dá a conhecer o outro lado da história, a partir do olhar de Bernardo e Francisco, personagens que aqui ganham uma densidade emocional que contrasta com a pouca importância que lhes é dada. A banda sonora, da autoria de Luís Albuquerque, é interpretada ao vivo." in Público.
Eis um vislumbre dos Bastidores da peça, em tempo de ensaios:

- e em Almada, a peça Worms volta a estar em cena, já nos próximos dias 7, 8 e 9:
 
Por falar em teatro, particularmente na peça Worms, que eu já aqui referi e à estreia da qual fui de facto, no Teatro da Comuna, tenho de reportar que foi um tanto ou quanto decepcionante. A São José Correia dá o seu melhor, única coisa que impediu os procedimentos de terem sido um completo desperdício do meu tempo e dinheiro! A peça é um monólogo, algo dificílimo de fazer. Espera-se que o que seja declamado a par com a forma como tal declamação é produzida, sejam suficientes para prender os espectadores aos seus assentos. O problema aqui é que o texto é uma verborreia incoerente de uma personagem que não chegamos a perceber se é louca e está a imaginar alguma coisa, se vive no agora e está a passar por uma catástrofe, se a acção se passa num futuro pós-apocalíptico… não chegamos a perceber. Enquanto a São está montada numa estrutura de ferro, que não deve ser nada agradável, entregando o discurso com uma fluência e entregas completas, nós não podemos senão sentirmo-nos despegados do que se está a passar. Oh, há umas piaditas sobre o Papa que eu até curti, umas tiradas ultra-ligeiras, quiçá superficiais, sobre a crise, mas depois toda uma conversa paranóica sobre moscas… Depois há a questão da actriz estar ali montada, como uma jarra numa mesa, imóvel, auxiliada apenas por uma câmara que espelha a sua face num grande ecrã para que melhor a possamos ver… ou seja, vou ao teatro ver televisão… e uns efeitozecos com laseres (nada de concreto) e umas quantas de emissões de fumo e vapor de água. Dito assim, pode parecer que acontece muita coisa, mas não. E o facto de ela não se poder mexer retira dimensão à peça. Enquanto experiência teatral é interessante, mas na minha opinião a única conclusão desta experiência é que o esquema, o aparato, não resulta. O texto teria de ser melhor, o aparato melhor usado, os efeitos teriam de ter alguma finalidade para além de encher. Repare-se que é possível fazer muito do pouco. Isto não é teatro, mas reparem nesta curta, por exemplo:
Embora tenha duas vozes, eventualmente dois actores, a maior parte da curta é o diálogo (grande parte monólogo) e ambas as personagens estão presas no local. Mas funciona.
Quanto aos efeitos e ao suporte metálico (que eu devia de ter fotografado mas não levei máquina, telemóvel merdoso), se isso está a fazer as vezes do cenário do teatro clássico, então deveriam ser melhor pensados para ajudar a história e não simplesmente serem atirados para o palco como o pó mágico da Sininho ou uma macheia de areia para os olhos.
- Em Lisboa, no próximo dia 12 de Fevereiro (imagem acima), na Assembleia da República "estala à bomba, qu'o foguete vai no ar, arrebenta, fica todo queimado", dizia o poeta. Uma exposição de arte pelo camarada (na luta contra o AO90 e pela alma de Portugal) Gastão de Brito e Silva, que procura denunciar o estado do país e tentar melhorá-lo, ao que parece já com alguns resultados. Ler link abaixo e os comentários ao post, se quiserem saber mais:

- como, por incrível que pareça dado o dilúvio tempestivo que vai na rua enquanto escrevo estas palavras, o Verão se aproxima e as Festas de fim de ano não perdoam na balança, eis um guia para não ser embarrilado pelos ginásios. Cortesia da Deco e da Visão (atenção, possibilidade de acordês presente):


Finalmente, queria deixar uma espécie de mensagem de Ano Novo (notoriamente atrasada, mas hey a minha vida não é isto!). Gostava de ter algo inspirador para dizer, mas a verdade é que me parece, ao contrário de muito boa gente, que os sinais positivos de que muitos falam, pecam tanto por ser demasiado pequenos como por serem demasiado tardios.
A verdade é que não se sabe quanto destas baixas da taxa de desemprego (ou serão taxas de crescimento de desemprego?, fico sempre confuso!) se devem à emigração desesperada e massiva que Portugal sofre nos dias de hoje. Estamos a sangrar a massa trabalhadora e contributiva do país, ao mesmo tempo que os politólogos afirmam que vamos ter problemas demográficos devido à baixa de natalidade. Isso é tudo lindo, mas se somos 10.5 milhões sensivelmente e já não há trabalho para 17%, o que raio quereriam eles fazer com mais demografia? Para quê? Para a mandarmos emigrar? Para termos mão de obra ainda mais barata como a China?
Mas o relógio de Portas contínua a sua contagem decrescente, em Passos de bebé birrento, para o grande momento de Independência de um país que não controla a moeda que usa, que não lhe é permitido alavancar as suas enormes reservas de ouro para negociar a dívida com os seus credores, que está vinculado por tratados com outras nações e que está (e continuará a estar porque nada estrutural foi alterado no Estado) às sopas dos subsídios comunitários… não sei o que fazer com tanta independência, a sério.
À PARTE: aposto que a Troika, desde da cerimónia do relógio, anda a bombar o vídeo abaixo!

A Reforma do Estado, chutada para fora, pelo CDS; o anular do Acordo Ortográfico chutado para prolongamento pelo CDS; a Co-Adopção para Casais Gay chutada para canto pela JSD; sem falar na privatização de cotas de empresas que davam dinheiro ao Estado, em prole de rendimentos extraordinários para aparentar um decréscimo do défice, enquanto o contribuinte contínua a pagar as PPP’s, os SWAP, toda a minha gente é absolvido no caso dos submarinos, as empresas que dão prejuízo não são nem privatizadas nem reestruturadas, o combate à corrupção não só não é feito como é ainda mais impossibilitado com a crescente falta de meios nas polícias e a não simplificação da Lei e da burocracia, e a cidadania é vendida a troco de negócios de imóveis!
Se Portugal conseguiu um aumento brutal nas suas exportações, NÃO FOI POR CAUSA DESTE GOVERNO, FOI APESAR DELE! Tudo o resto é medíocre propaganda e quem nela cai é parte do nosso problema colectivo.
Se Portugal tem aguentado, muitos portugueses não têm, ou têm passado fome, falta de medicação, falta de um tecto, etc…
Todos os nossos problemas continuam por resolver, sendo que perdemos capital humano, perdemos qualidade na Saúde e Escolas públicas, perdemos coesão social e, a médio prazo (10 anos no caso dos CTT), o Estado perdeu fontes de rendimento.
Mas se querem encontrar os culpados, como diria a personagem V do filme “V de Vingança”, “you need only look into a mirror!” (tradução = precisam apenas de olhar para um espelho!).
O povo português continua a ser facilmente distraído com patéticas e vis manobras de diversão políticas, com as classes política e jornalística a usarem assuntos sérios mas de fácil resolução para mentes sérias e honestas, como munição mediática. O referendo da Co-Adopção Gay, a lei dos Animais que era para ser mas afinal não, e agora a histeria das Praxes.
Sobre isso, aqui está das poucas opiniões sóbrias que encontrei (pena o acordês em que está escrita):
Segundo o Público, já desde o século XIX que pessoas se queixam das praxes. Nessa época, tal tradição só existia em Coimbra. Depois, generalizou-se às restantes universidades, segundo a alegada noção de que “é tradição”. Pois eu quando vim para a faculdade, vinha preparado e decidido a não ser praxado. De facto não o fui, mas também não cheguei a ter a oportunidade de bater o pé. Cheguei em Segunda Fase e na minha altura isso queria dizer começar as aulas em finais de Outubro, inícios de Novembro, já muito após terem acabado as praxes. Contudo, descobri, no meu segundo ano, que as praxes do meu curso, Engenharia Aeroespacial no IST, não eram de todo a vulgar cópia da tradição académica de Coimbra. Não, os alunos de Aero haviam feito uma coisa muito sua, muito sui generis. Para nós, as praxes não tinham formalidade, ninguém era obrigado a trajar para praxar, ninguém era humilhado, não havia qualquer tribunal de praxe, embora este fosse sempre ameaçado. Eu praxei no segundo e terceiro anos, sem nunca ter sido praxado. E foi só na penúltima vez que fui à praxe que fui baptizado com outros caloiros, apenas por me apeteceu. Ainda estava calor. O que fazíamos? Estas figuras:


Já agora, aquela senhora ao pé do carro da polícia de camisola amarela é Mãe de um dos caloiros desse ano e andou connosco alguns dias, curiosa e querendo partilhar da experiência do filho. E já agora, se repararem, o sinal está verde! Como podem ver só se vê um trajado e não é ele o veterano mais velho, é o rapaz que vai a segurar o avião. Não havia cá Dux’s nem prepotências dessas. No final, o que interessava era que os caloiros se conhecessem uns aos outros, conhecessem alguns dos veteranos, tivessem um padrinho ou madrinha que lhes abrisse caminho, e que nos tratássemos de igual para igual daí em frente, colegas que somos. No fim de contas, a mítica integração! Até há bem poucos anos, o meu curso nem ia no cortejo do IST. Não sei como as coisas estão agora, porque chegou-se a uma altura que não me fazia sentido continuar a ocupar o lugar, além de começar a não gostar de certas alterações. Uma maioria de “batman’s” (como eu chamo aos alunos trajados. Confesso que partilho da opinião do Miguel Torga sobre o traje) formou-se e decidiram por voto que íamos começar a ir com a manada ao cortejo de caloiros do IST. Portanto, não sei quanto as coisas já descambaram para a típica imitação da alegada tradição. Ou para coisas piores, como aquelas que já outros falaram. Espero que não. De resto, também há outras experiências de praxe que terão sido boas. Saquei a imagem abaixo dum Facebook duma desconhecida, mas como estava publicado para quem quisesse ver, coloco aqui o print screen como testemunho:
Por isso, dada a minha experiência do que a praxe pode ser (muito embora consciente de ser um caso mais excepcional que habitual [link para exemplo na origem - Coimbra]) e dado que as praxes são extracurriculares (ainda me lembro quando as proibiram dentro do IST e nós as viemos fazer para a Alameda D Afonso Henriques, acho que as imagens acima são dessas praxes mesmo), a ideia avançada por alguns de proibir as praxes é simplesmente idiota. Não dá para se proibir. É como proibir a marijuana, quem a quiser vai obtê-la. E o que é conduta ilegal já o é e pode e deve ser tratada dentro do âmbito da Lei. Além disso, a ilegalidade pode levar a que as coisas passem a ser feitas às escondidas e mais tragédias como as do Meco (se é que realmente foram no âmbito de Praxes) sucedam, ao invés de menos.
Seja como for, é preciso relembrar que isto não é de agora e já antes deste caso do Meco que tinham havido incidentes menos, digamos, de acordo com a Lei. Mas eis que agora veio o histerismo. Estranhamente, ninguém fala (por exemplo) da famosa Queima das Fitas em Coimbra… nem imagino quantas comas alcoólicas, quantas overdoses e acidentes se dão nesses tradicionais procedimentos académicos, mas como isso não teve a mesma atenção mediática que a tragédia do Meco, who cares, right? Ninguém fala em proibir isso… e ainda bem.
O Estado pode e, na minha opinião, deve não só mas também de ser uma rede de segurança para os seus cidadãos, mas nunca pode ser uma sala fechada e almofadada e/ou um colete-de-forças, perdido na intenção de salvar o cidadão de si mesmo! Senão corremos o risco do estado totalitário, que trata os seus cidadãos como crianças a quem não se pode dar responsabilidade sobre si mesmas. A verdade é que se queremos ser livres não podemos, como disse a personagem Simon Phoenix, no filme “Homem Demolidor”, tirar o direito às pessoas de serem idiotas.
A verdade é que as pessoas, tipicamente (há casos em que são mais novos), vêm para a faculdade com idade para votar, para conduzir, para beber, etc… São, ou espera-se que sejam, adultos. Se chegam à faculdade e não são capazes de dizer que não à pressão de grupo e fazem coisas com as quais não se sentem bem ou que os colocam em perigo de vida, ou que atentam à sua dignidade, então o problema é da Educação (e não me refiro à que é dada na Escola) que levaram que não lhes deu a proverbial espinha dorsal que qualquer pessoa precisa na Vida. Tanto da parte do caloiro que se deixa levar, como da parte do veterano indigno desse nome, que respectivamente sejam abusados e abusem nas e das praxes, há uma incrível falta de cultura e de pensamento individual que levem a um carácter autónomo, livre e solidário. É se calhar por isso que, quando chega a altura de votar, a maioria vai com a manada. É a velha história do:
- Porque fizeste isso?
- Porque o João fez…
- E se o João se atirar para dentro dum poço, tu também te atiras?

Quem nunca ouviu isto quando era criança?
Quem não entendeu à primeira?
Quando deixarmos de ser um rebanho de ovelhas ávidas a alinhar com a maioria ou, pelo menos, incapazes de lhe resistir, e passarmos a ser um colectivo de pensadores independentes (com opinião formada e convicção de pensamento, capazes de tomar conta de si mesmos), mesmo com a tenra idade de 18 anos, aí sim!, teremos uma hipótese de realcançar, enquanto nação, um esplendor não só tão grande como maior que o dos nossos antepassados. Antes de voltarmos a ser independentes externamente, teremos de nos tornarmos independentes mentalmente. Cada um de nós. Como eu disse acima, ainda temos os problemas todos por resolver.
Feliz e próspero 2014! E deixo-vos na companhia sempre alegre do Bruno Nogueira, com a sua tirada sobre o tipo de praxes que eu estarei sempre pronto a renegar:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=3653080

P.P.S.: E quanto à rapariga do Prós e Contras? Eu cá gostei da forma como ela argumentou. Muito inteligente, controlou a sala e dominou o momento. Se o Relvas ainda fosse ministro, ela tinha trabalho garantido!