Recordar-se-ão os leitores
assíduos aqui do Samurai que eu fiz em temos um post sobre as origens do Godzilla intitulado Hibakusha II: O Rei dos Daikaiju.
Desta volta, vou apenas limitar-me a fazer uma crítica de cinema
relativa ao novo filme do Rei dos Daikaiju.
O filme chega-nos pela visão e
direcção de Gareth Edwards, realizador que fez o filme “Monsters” que estreou
em 2010 e captou a atenção dos cinéfilos de todo o mundo pois foi o primeiro a
conseguir efectivamente criar no seu quarto todos os efeitos especiais digitais
do filme, mas com a qualidade ao nível de Hollywood. Para aqueles de vocês que
sejam fluentes em inglês sugiro-vos a entrevista que o Dr Mark Kermode fez ao
então jovem realizador exactamente devido a esse feito, que vos deixo aqui linkada.
O novo “Godzilla” tem muito do
carácter do filme de estreia do realizador, por isso é bastante interessante
ver os dois filmes de seguida e por ordem de data de estreia. Ambos os filmes
procuram centrar-se em personagens humanas, através das quais experimentamos
uma Terra onde monstros enormes e poderosos existem abertamente e causam
problemas aos humanos. Mas enquanto em “Monsters”, o filme não evolui dessa
dinâmica, em “Godzilla” o próprio monstro torna-se uma personagem, pela qual
começamos a torcer, e como que se torna mais importante que os humanos que
temos anteriormente andado a seguir durante o filme. Considerando o título do
filme, não só foi uma boa jogada, como era a única jogada de sucesso.
Uma outra coisa interessante em
“Godzilla”, e que também o diferencia em “Monsters”, é o facto dos humanos
surgirem literalmente como se fossem colónias de formigas desesperadamente a
fugirem dum luta de dois humanos sobre a sua metrópole. É que neste filme os
humanos nada podem contra os monstros, tal como as formigas nada podem contra
humanos.
É notório nos bonecos relativos aos dois últimos filmes do Godzilla essa diferença. Na primeira adaptação americana, os bonecos que sairam eram tipo GI Joe, com os homens tão importantes ou mais que o Godzilla (figura à direita). Nesta última versão, os monstros é que interessam e os humanos estão lá como se fossem cenário (figura à esquerda).
Como não podia deixar de ser num
reboot (recomeçar) da frandchise, que já agora já tem confirmada uma sequela
com o mesmo realizador ao leme, a história procura reintroduzir o Godzilla e,
portanto, é uma história de origem. Assim a origem do rei dos monstros é
recontada. Acaba por não se distanciar muito do original, mas ao invés de ser
um produto da radiação de bombas nucleares sobre animais, acaba por ter uma
inclinação ecológica e dizer que estes monstros precederam os dinossauros e
viviam num era onde a radiação à superfície terrestre era muito mais elevada.
Assim, quando os americanos começaram a mandar bombas e muitos países a fazerem
reactores nucleares, os sobreviventes ou descendentes dessas raças acordam de
hibernação. Essa premissa, algo que defeituosa devido à escala de tempos envolvida,
já foi antes usada para explicar os dragões em “Reign of Fire”, o meu filme
favorito com dragões, mas depois encaixa bem numa explicação de cadeia
alimentar que completa o sentido lógico da história.
A ideia de que há uma conspiração em que os governos estão a esconder algo das populações que dizem servir e toda a paranóia que acompanha essas ideias, talvez não tão descabidas quanto isso como a realidade nos mostra(refiro-me, por exemplo, ao programa de espionagem norte-americano), é muito bem instrumentalizada para dar corpo ao início do filme. Isso e uma certa consciência do horror do desastre natural de Fukushima e de como as uzinas nucleares quando destroçadas pela Natureza podem, literalmente, envenenar a Terra. Simplesmente, em vez de movimentos da crosta terrestre, o que causa a destruição são as alimárias pré-pré-históricas que dão mote ao filme. Mas o governo local ter de evacuar as pessoas de uma zona radioactiva, deixando vidas inteiras para trás, casas desprovidas de vida, mas cheias de memórias, completamente mobiladas, cidades inteiras tornadas urbes fantasmas, tudo isso surge abertamente reforçando a credibilidade do filme, recordando os terríveis acontecimentos do passado muito recente.
A ideia de que há uma conspiração em que os governos estão a esconder algo das populações que dizem servir e toda a paranóia que acompanha essas ideias, talvez não tão descabidas quanto isso como a realidade nos mostra(refiro-me, por exemplo, ao programa de espionagem norte-americano), é muito bem instrumentalizada para dar corpo ao início do filme. Isso e uma certa consciência do horror do desastre natural de Fukushima e de como as uzinas nucleares quando destroçadas pela Natureza podem, literalmente, envenenar a Terra. Simplesmente, em vez de movimentos da crosta terrestre, o que causa a destruição são as alimárias pré-pré-históricas que dão mote ao filme. Mas o governo local ter de evacuar as pessoas de uma zona radioactiva, deixando vidas inteiras para trás, casas desprovidas de vida, mas cheias de memórias, completamente mobiladas, cidades inteiras tornadas urbes fantasmas, tudo isso surge abertamente reforçando a credibilidade do filme, recordando os terríveis acontecimentos do passado muito recente.
A única coisa que me chateou no
filme, ou que achei idiota, foi os militares continuarem a armar-se com metralhadoras e pistolas
quando já sabiam o que enfrentavam e que nem bombas nucleares os matavam. Algo
que estúpido. Os militares não têm a tendência de carregar armas
desnecessárias.
Também achei desnecessário a ida para São Francisco. Aquela ponte já foi mais vezes destruída nos filmes que o cagar da ameixa, passo a expressão, e não era necessário americanizar mais ainda o filme.
Quanto ao boneco, o Godzilla está
engraçado, uma mistura de gorila e dragão de Komodo. Embora eu não me junte nem
ao grupo que odiou a versão anterior do Godzilla, a que os japoneses chamaram
só Zilla porque acharam-no muito pequeno ahaha, nem ao grupo que achou este
Godzilla gordo (parece que assim aconteceu entre espectadores nipónicos… nunca
estão satisfeitos ahaha), não desgostei desta nova encarnação e o CGI está bem
feito e não temos a sensação de falta de peso no boneco, tal como ela não havia
no filme do Guillermo Del Toro “Pacific Rim” (ler a minha crítica a esse filme aqui) com os seus kaijus e robots
gigantes (criticado por mim aqui). E isso e o sentido de escala é o essencial
nestes filmes.
Gostei da banda sonora e do tom
negro e mais sério do filme, que contrasta com a versão americana anterior. Os
actores estão todos de parabéns, sem que haja nenhum que sobressaía durante o
filme, excepto talvez o próprio Godzilla. A cena da qual se vê um pouco no
trailer do salto HALO é magnífica num grande ecrã.
Resumindo, é um óptimo filme,
próprio para qualquer idade e que merece o grande ecrã. Eu vi em 2D e IMAX. Não me parece que o 3D lá contribua nada, para além da eventual coisa pontiaguda a sair do ecrã, mas como não vi em 3D não afirmo, só suspeito. Aguardo com altas expectativas (o que nunca é bom) a
continuação.
De salientar, numa outra nota, que o Godzilla tem agora um planeta com o seu nome!
De salientar, numa outra nota, que o Godzilla tem agora um planeta com o seu nome!
E, para os mais nerds de nós, eis
também uma curiosidade, da qual o mérito não é meu, sobre quando estreou o primeiro
filme do Godzilla, o original japonês, em Portugal, ainda nos dias do Estado
Novo e com um título idiota:
Se tiver tempo e pachorra, traduzirei aquele vídeo da entrevista do Kermode ao Edwards e depois linko-o aqui também!
Para lá do filme e como já não
venho cá há demasiado tempo, deixo-vos aqui também umas actividades para este
fim-de-semana e para o resto do mês:
-. esta sexta e este sábado, 20 e 21 respectivamente de Junho, a iniciativa 24 Horas, no Pavilhão do Conhecimento. Notem que o site está sem Acordo Ortográfico... yeah!! :D
- sábado, dia 21 de Junho, a partir das 16h, no Jardim do Japão em Belém, para lá da Torre de Belém, à beira Tejo e ao lado do CCB, a Festa do Japão terá novamente lugar:
- uma oportunidade para os que tiverem condições para isso, até dia 25 de Junho ainda se podem inscrever nas bolsas para estudar no Japão. Toda a informação no link abaixo:
- por último, uma produção de Sandra Fanha, com realização de José Barahona, dia 27 de Junho no MU.SA (MUSEU DAS ARTES DE SINTRA), estreia "Vianna da Mota", numa projecção ao ar Livre (mais informações abaixo). "Um músico prodígio nascido no século XIX...":
E por hora me despeço, senhoras e senhores, irmãos e irmãs, camadaras e amigos, que amanhã tenho um dia inteiro de despedida de solteiro do meu melhor amigo, do qual tenho também a honra de ser padrinho de casamento. E para isso, com'é lógic' (grande Jorge Jesus!!), não vos convido.
Sayonara, tomodachi! ;)
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