quarta-feira, 15 de maio de 2013

As Senkaku e a Política Externa

Os direitos desta imagem pertencem à Agência Reuteurs. Obtive-a via site do Público.

Há pessoas que adoram dizer que são “cidadãos do mundo” do mundo como se hoje em dia não o fossemos todos. Com o advento da poluição global, do poder atómico e da globalização, hoje todos, quer o queiramos quer não, cidadãos do mundo.
Como tal, mesmo para a maioria de nós que em nada influência as decisões ou os acontecimentos no palco mundial, é imperativo mantermo-nos informados do que se passa lá por fora. Por exemplo, o Pacífico tem andado algo que belicoso ultimamente. E é interessante ver como uma crise acaba por interromper outra. Refiro claro à disputa das ilhas Senkaku, que aqueceu no final do ano passado e início deste ano, mas que entretanto foi esfriada pela arrogância lunática da Coreia do Norte.
Mas antes de mais, impõe-se um pouco de História e Geografia, ladies and gents!


As ilhas em questão ficam no mar da China, grosseiramente a leste da China Continental, a oeste de Okinawa e a norte da ponta sudoeste das ilhas Ryukyu. Em Japonês, as ilhas têm três variações do seu nome 尖閣列島 Senkaku-rettō, 尖閣群島 Senkaku-guntō, Senkaku-shotō. Senkaku quererá dizer Pináculos em Pavilhão ou Pavilhão de Pináculos, segundo a wikipédia inglesa (daí a minha dificuldade na tradução). As ilhas foram oficialmente anexadas pelo governo Japonês em 1895, sendo que só após os EUA descobrirem nas ilhas reservas de gás natural em 1968 e, acrescente-se, apenas depois do Tio Sam devolver a soberania ao Japão em 1972, é que a República Popular da China decidiu reclamar estas ilhas como sua propriedade. Num post anterior, escrevi uma pequena tirada sobre como todas as nossas disputas acabam por ser derivadas de necessidades energéticas. Esta não é excepção. Excepção seria uma guerra religiosa, que não tivesse nenhum interesse materialista no seu âmago. Portanto, algo que não existe, pois estas últimas parecem ser sempre pelo controlo de terras, quer neste Verso, quer no plano astral ahahha.
Mas disse eu também, e nessa mesma entrada, que a civilização humana vai necessitar de gerar muito mais energia no futuro próximo, o que possivelmente levará a mais disposição belicosa para obter recursos energéticos. Por exemplo, muito subtilmente está a decorrer uma nova corrida à Lua, ainda em fase embrionária, tanto por parte dos EUA como da China, devido principalmente ao desejo de obter uma substância altamente energética que se julga existir em maior abundância na Lua, chamada Hélio 3, um gajo raro. Portanto, amigos, a próxima corrida espacial não vai acabar com um “For all Mankind!”

Uma nota interessante que retirei da Wikipédia sobre as Senkaku é que, em meados da primeira década do século XX, um empreendedor japonês, de seu nome Koga Tatsushirō (古賀 辰四郎), estabeleceu, nessas ilhas, uma central de processamento de pesca do Bonito. Sim, o Bonito é um peixe e assim que ouvi falar dele e que descobri que este é aparentado da sardinha, veio-me logo à cabeça que o nome tenha vindo da palavra portuguesa Bonito, tal como “arigato” é um japonesismo de “obrigado”. Mas a Wiki não me confirmou ou negou tal intuição.
As tensões entre a China e o Japão já não são de agora. De facto, a 18 de Setembro de 1931, o Japão Imperial pré Segunda Guerra Mundial, serviu-se do Incidente de Mukden, também conhecido como Incidente da Manchúria (Kyūjitai: 滿洲事變, Shinjitai: 満州事変, Manshū-jihen), como pretexto para invadir a Manchúria e lá instalar um seu governo fantoche. Tal como os estados totalitários, também os estados imperialistas vivem de clichés. Muitas vezes são um no mesmo. A suposta razão para a invasão foi uma explosão criada numa linha de caminho de ferro nipónica. A explosão foi criada de tal forma que nem danificou a linha e foi preparada por um tenente japonês, mas culpada em dissidentes chineses. Desde então e até à derrota do Japão na II Grande Guerra, em 1945, rebentou o conflito entre as duas nações. E até aos dias de hoje, comentadores chineses afirmam que o Japão ainda não se arrependeu do seu papel nessa guerra nem pediu desculpas ou fez as devidas reparações às suas acções perante as vítimas das mesmas. Este conflito actual das Senkaku, conhecidas como Diaoyou na China, terá vindo meter achas numa fogueira cujas brasas nunca esmorecem, embora possam por vezes ficar escondidas entre as cinzas do seu descontentamento.
Analise-se agora, o presente deste conflito. Simon Tisdall do The Guardian, afirma que os Norte-Americanos, que ainda hoje se vêem como a maior potência na zona asiática do Pacífico, andam a ficar cada vez mais nervosos com esta situação. Leon Parnetta, secretário de defesa norte-americano, terá dito recentemente numa visita ao Japão que qualquer “comportamento provocador” por quaisquer dos lados pode levar a malentendidos, violência e potencialmente guerra aberta. Ecoou assim as afirmações de Hilary Clinton que disse que deve haver contenção e diálogo entre a China e os vários países com os quais esta última mantém disputas territoriais. Durante a sua visita, contudo, Parnetta confirmou que de facto as Senkaku estão previstas no tratado de defesa Nipónico-Americano, o que implícita que os EUA, se o pior acontecer, terão de ajudar o Japão a defender as ilhas que a China afirma terem sido ilegalmente anexadas. Isto reforça também a ideia chinesa de que o Japão faz parte duma agenda geo-estratégica secreta norte-americana na zona, que pretende conter ou limitar o crescimento do poder chinês. Diga-se de passagem que não andam muito longe da verdade, pois durante a Guerra Fria, os Estados Unidos usaram mesmo o Japão dessa forma, para atrofiar a expansão comunista. Ou no mínimo, para terem um aliado na zona. Ainda na opinião de Tisdall, historicamente, rixas deste género entre estes povos têm sido seguidas de um decréscimo de agressividade e reparação das relações entre os dois estados. Até porque entre estes últimos, existe uma balança comercial de enorme peso e torna-se do próprio interesse nacional de ambos, fazerem a manutenção dessa balança comercial.



Contudo poderá ser diferente desta volta. Mrs Clinton terá anunciado que era do interesse nacional dos EUA que houvesse livre passagem pelo sudoeste do Mar Chinês, algo que o governo Chinês tomou como uma provocação, assim como achou “intolerável” a oferta de compra das ilhas por parte do Governo Japonês (desta jogada, falar-se-á em pormenor mais à frente). Entra como factor nesta história, que como a administração Obama tem alargado relações comerciais com o Vietnam, a Tailândia e a Indonésia, e restringido a Coreia do Norte (aliada da China), a China ficou ainda mais reticente na sua relação com o Japão e com os outros seus vizinhos e mais preocupada com a sua própria segurança nacional.
Desta volta, temi eu, podemos não ter um final feliz, particularmente derivado a mudanças políticas internas do Japão que levaram à decisão de avançar com a compra pelo governo (ou nacionalização à la capitalismo) destas ilhas com ideias ou fito de as começarem a explorar. O primeiro-ministro Yoshihiko Noda foi quem avançou com essa iniciativa. A China, como seria de esperar, respondeu:


O P.M. Noda parece manter uma posição inflexível de que as Senkaku são território japonês e pronto. Apelou à calma da China, mas sem se mostrar disposto a quaisquer negociações ou concessões sobre o assunto. Eis a posição oficial do governo japonês:
O diplomata norte-americano Stephen Harner terá dito à Forbes que a tensão entre a China e o Japão atingiu níveis assustadores. Harner é da opinião que Noda, embora tenha sido exemplar na política interna do país (debatível considerando que é pró nuclear quando a maioria japonesa parece não o ser), tem levado o Japão a ser o principal causador da elevar das tensões entre os dois países.
Stephen Harner é de facto um contribuidor da Forbes e escreveu também um artigo nesta revista cujo cabeçalho diz: “Os Estados Unidos podiam ter evitado a crise Senkaku/Diaoyou. Porque não o fizeram?”. Uma boa pergunta e uma afirmação interessante. Ele começa por dizer que, à parte da corrida a armas nucleares por parte da Coreia do Norte e do Irão, esta disputa é a mais proeminente causa para guerra no Mundo actualmente e que é provável que assim se mantenha por tempo indefinido. O diplomata, embora reconheça que todas as partes interessadas teriam a ganhar em não fazer crescer a crispação entre si, afirma que os EUA podiam ter vetado a decisão japonesa de nacionalizar as ilhas, decisão esta que foi o que volatilizou toda a já tensa situação. Harner diz-nos ainda que o actual embaixador japonês nos EUA, declarou numa entrevista, a 31 de Outubro de 2012, que ao questionar os EUA sobre a compra obteve a resposta de que a América não se iria opor, dando assim “permissão” ao Japão para agir como agiu. É ainda da opinião do diplomata que se os Estados Unidos não tivessem concordado, Noda teria impedido a oferta de compra de acontecer. Stephen Harner postula depois que a culpa será atribuída ao facto das relações entre a China e a América terem vindo a deteriorar e a tornar-se cada vez mais abrasivas, com a tomada de posição dos EUA em retomar o imperialismo naquela zona do mundo e a reanimar os velhos planos contra os aliados de inimigos d’outrora. É uma opinião.

Contudo, toda esta crise foi abafada pelo súbito crescer de tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul/EUA, pois o novo Pequeno Líder (que como decerto sabem é a encarnação do pai, que fora a encarnação do avô… esse sim um Grande Líder -_-) quis mostrar aos seus generais que tem um míssil nuclear em vez dum pénis. A Coreia do Norte, como bloco Orwelliano que pretende ser, barafustou imenso, mostrou as suas armas, até atirou testou mísseis de longo alcance e expulsou sul-coreanos de um complexo industrial que até então era usado por ambos os países, de tal forma que até a China, sua aliada, lhes teve de dizer: “Deixem-se de birras, pá!” Se não leram o 1984, a guerra é usada pelos blocos totalitários para manterem os seus respectivos povos sob o jugo do medo e da miséria constantes. O mesmo se passa na Coreia do Norte, onde o Líder declarou ao seu povo que as ajudas humanitárias que os EUA e outros lhes enviaram em troca deles cessarem o seu programa de armamento nuclear, eram uma respeitosa e temerosa oferenda ao Grande Líder.
Já desde a administração de Bush Júnior, que a política dos EUA para com a Coreia do Norte consiste em procurar mantê-los controlados via China. Como? Bem, reforçando a ideia de que se os Norte coreanos realmente obtiverem armas atómicas de longo alcance, então rapidamente o Japão construirá as suas, o que para a China não é uma perspectiva nada confortável.
No meio de tudo isto, as Senkaku aparentemente ficaram esquecidas… por hora. Mas esta questão voltará à baila, podendo levar a uma Guerra no Pacífico entre super potências com capacidade nuclear. Ora é aqui que entra a parte GLOBAL da coisa! O que é que a Guerra Fria nos ensinou? Que se houver uma guerra nuclear não haverá neutros. A precipitação radioactiva alastrará as consequências dum tal conflito para o resto do mundo. Como tal, será bom levarmos a questão a sério. Cheguei a sugerir num outro post, que talvez Portugal, considerando as boas relações que mantém com a China e o Japão e que não terá nenhum outro interesse além de promover a paz entre dois seus aliados económicos e culturais, pudesse servir de mediador externo para a resolução deste berbicacho. Mas depois, como dizem os meus amigos d’Além Mar, “caí na real, cara!”. Com que credibilidade o faríamos?
Video com as declarações do Passos sobre a Força de Resposta Rápida e uns extras divertidos
Não me refiro ao facto de estarmos às sopas de bancos estrangeiros e de agências de rating, apenas. Refiro-me essencialmente ao facto de a nossa política externa actual ser uma anedota pegada.
Para fundamentar esta afirmação, comecemos por falar na nossa reacção e conduta aquando do recente golpe de estado na Guiné-Bissau. Paulo Portas surgiu na televisão, vi e ouvi eu, a reclamar que o golpe de estado era ilegal. Péssima escolha de palavra, uma vez que não há nenhum golpe de estado que seja legal, senão não era um golpe, era apenas uma mudança de governo depois de eleições. Em seguida, e para mérito das nossas forças armadas, despacha uma força de resposta rápida para Bissau em bom tempo útil, ficando esta ancorada ao largo da costa guineense uns tempos para depois voltar de rabo entre pernas. O pretexto? A salvaguarda da segurança dos portugueses que residem na Guiné-Bissau. Até aplaudiria não fosse o resultado. Não houve necessidade de trazer ninguém, aparentemente ninguém se sentiu ameaçado.
Paulo Portas de seguida, com o apoio pelo menos da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), pediu na ONU uma intervenção para restituir a legalidade democrática no país. Mas eis que surge a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e assume controlo da situação. Despacha para lá uma força nominal de algumas centenas de homens para, alegadamente, policiar a transição de poder, decide quem será o chefe de estado na transição e, efectivamente, enxota a CPLP e Portugal para fora da jogada, também evitando qualquer intervenção, enquanto Portas ainda andava a pedir a força de intervenção na ONU. Resultado disto: a CEDEAO já adiou várias vezes a data para as eleiçõesque reporão a democracia na Guiné-Bissau, enquanto mantém o seu “escolhido” no poder. Uma completa não-resolução do problema. Enquanto isso, o problema da droga na Guiné-Bissau contínua a ser confrontado pelos EUA. Afinal para que serve a CPLP? Para justificar o AO90 talvez? E que credibilidade teve Portugal, ao despachar o seu poderio militar para nada? Não há pior demonstração de fraqueza que é fazermo-nos fortes e deixarmos que o nosso bluff seja comprado. É como quem tem uma arma. Se não a está disposto a usar, mais vale não sacá-la, sempre me disse o meu pai. A nossa força de NÃO intervenção, a mon avis, foi mais uma humilhação que Portas comprou para Portugal, esta última criada pela sua falta de traquejo:

Depois temos a Guerra contra o Islamofascismo. A França, nossa suposta aliada em todas as organizações internacionais excepto a CPLP por razões óbvias, faz uma intervenção no Mali, enviando tropas e equipamento para o terreno e Pedro Passos Coelho dá-se ao LUXO de ir visitar a França, dar uma palmadinha nas costas do seu homologo francês e dizer: “Hollande, mon ami, nós vamos ficar de fora desta, ‘tá? N’há guito, ‘cebes? Se precisares podemos depois mandar os nossos instrutores ensinar os nativos a dar uns kicks, yá?! Ma friend!” e veio-se embora, congratulando-se pela missão cumprida depois de afirmar que Portugal apoia esta acção da França… em espírito. País tão católico que me faz querer vomitar coisas que já me esqueci de ter comido (parafraseando o Hitch).
Ok, é verdade. Não temos dinheiro para andar a policiar o Mundo. Mas não se trata disso. A política externa trata-se de fazer jogadas no palco internacional de forma a fortalecer relações de mutuo interesse e cooperação, com determinados países, de forma a assegurar os nossos interesses. O que é certo é que os Fascistas com Face Islâmica (mais uma vez parafraseio o Hitch) não vão esquecer o nosso papel na libertação de Timor Lorosae. Eu lembro-me de ver com orgulho os nossos Pára-quedistas a darem cabo dos islâmicos no noticiário da RTP1, era eu puto. Eles, que querem restaurar o seu antigo Califato (que incluída a Andaluzia e o Algarve), não esqueceram o nosso papel na sua perda dessas terras. Esta guerra é nossa, quer nós a queiramos quer não. E os nossos rapazes precisarão de experiência de campo, quanto mais não seja para a passarem às próximas gerações de militares portugueses. Temos dos melhores militares do mundo e sabemo-lo! Sempre que há exercícios da NATO, lá estão os ‘tugas entre os mais bem cotados, quando não são o topo da tabela. Tivemos dinheiro para mandar uma frota dar uma proverbial volta ao bilhar grande, não temos agora para mostrar aos fundamentalistas que temos valores tão vinculados quanto os deles e que estamos aqui para lutar por eles?
 Resta-me só analisar o corrente Ministro dos Negócios Estrangeiros, el Paulinho das Feiras, o sr Paulo Portas, líder assumido da Direita Cristã Portuguesa. Ora este último já revelou ser um mentiroso (Clicar para comprovar a afirmação anterior) de oportunidade, um hipócrita histórico (clicar aqui para comprovar afirmação anterior), cujos princípios, se é que os tem, variam conforme está na oposição ou no governo (ver imagens). E só não lhe chamo corrupto porque isso, infelizmente, ainda não tenho como provar e não estou disposto a ser levado a tribunal por difamação (cof cof submarinos cof cof... estas mudanças de clima súbitas dão cabo da minha renite).
Politicamente, é aquele tipo que traça uma linha na areia e depois apaga-a ele próprio (dadas as últimas notícias sobre as novas medidas de austeridade acho que não preciso dizer mais). Já as suas anteriores declarações, desde que está no governo, desde que assumiu o poder que na sua juventude dizia odiar acerrimamente, só resultaram em que ele tenha andado a engolir sapos, que um Coelho da Páscoa e um Gaspar, o Fantasma Hostil, alegremente lhe vão enfiando goela abaixo.


Quanto ao AO90, foi dos corajosos (palavra escrita com um abuso de sarcasmo) que se abstiveram aquando da votação na Assembleia da República, mas agora que tem um tacho no governo, está constantemente a afirmar que tem de ir para à frente e vai mesmo, tendo-se tornado desde que assumiu funções um fervoroso mAO90ista! Não se preocupem, o mAO90ismo é perfeitamente compatível com qualquer outra religião. Aliás, a sua defesa e aplicação é pura questão de Fé.
Por fim, é claro, vamos abordar a nossa única política externa imperialista: o Acordo Ortográfico de 1990, que já todos sabemos bem o desastre anedótico que é.

Com estes vendedores de automóveis usados como governantes, só podemos esperar da nossa política externa uma completa vassalagem a Broxelas (deve ser erro ortográfico, deve) e pedinchar umas esmolas aos restantes na forma de compra da nossa dívida externa. Ai, se o Dom Afonso Henriques ou o Marquês de Pombal nos vissem agora…

Sem comentários:

Enviar um comentário