terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Geishun ou Gashou? - Parte 1


Em Janeiro, deste ano fiz uma entrada no blog sobre o Natal e o Ano Novo no Japão. A verdade é que o post ficou incompleto, porque realmente há muito para falar! Por exemplo, na imagem acima vemos um templo japonês super protegido contra espíritos malignos! Uma autêntica fortaleza! (Não, não estou doido, continuem a ler :)
Como em tudo o que é costume japonês, a preparação da festa celebrativa do Ano Novo é, nada menos, que um complexo ritual!
Já agora, o período das festas de Ano Novo, a que nós simplesmente chamamos por As Festas, no Japão é chamado: Oshougatsu.
O link abaixo faz ligação ao post de Janeiro supramencionado.
http://150anosportugaljapao.blogspot.com/2011_01_01_archive.html

Antes de mergulharmos no ritual de preparação do Ano Novo Japonês, vejamos primeiro uma festa que ocorre no final do mês de Dezembro, geralmente entre amigos ou colegas de trabalho. Chama-se Bounenkai e a sua origem oriunda do período Meiji. A palavra Bounenkai tem três significados como “esquecer a velhice”, esquecer os acontecimentos do ano que está a acabar” e “esquecer a diferença de idades entre as pessoas”. Essa festa proporciona um ambiente descontraído entre superiores e subalternos no local de trabalho, pois durante a mesma não se liga a postos hierárquicos. Com isso em mente, as pessoas beneficiam dum ambiente festivo e descontraído, que lhes permite para ter uma atitude mais extrovertida com os colegas e superiores do trabalho, fortalecendo assim os laços sociais no local de trabalho. A festa tem como pilares o sake, acompanhado de karaoke, e apresentações de habilidades especiais por partes dos convivas, como por exemplo números de ilusionismo ou dança. Como membros duma sociedade ultra-regulamentada, os japoneses aproveitam esta festa para descontrair do stress acumulado ao longo do ano, através de uma sensação de liberdade conseguida pelo relaxamento das regras sociais.
Outro costume é o da troca de cartões Nengajo, postais para desejar um bom ano novo a familiares, amigos e colegas estimados. Foi este costume que originou o título para este post. A tradição é enviar os cartões de desejos de um próspero Ano Novo durante o mês de Dezembro. O costume é tão intrinsecamente importante na sociedade actual japonesa que mesmo que uma pessoa coloque o cartão no correio a 1 de Dezembro, a pessoa ao qual este é destinado só o recebe a 1 de Janeiro. O que acontece é que os Serviços de Correios Japoneses acumulam os Nengajo e fazem uma massiva entrega no dia 1 do Ano Novo. De facto, o Ministério de Correios e Telecomunicações japonês (yuuseishou) edita alguns Nengajo especiais, designados pela expressão otoshidama-tsuki nenga hagaki, que possuem números para um sorteio de Lotaria. Contudo é considerado má educação enviar um desses cartões a alguém que perdeu um familiar nesse ano. Nesse caso, o costume diz que se deve contactar a pessoa antes da passagem de ano e dizer “ii otoshi wo omukae kudasai” que significa “tenha uma boa passagem de ano”. Depois do 1º de Janeiro, a frase usada deve ser “akemashite omedetou gozaimasu” (parabéns pela passagem de Ano).
Os Nengajo tem como premissa de concepção, por norma, o animal zodiacal, eto, que indique o ano presente. O eto deste ano é a Lebre, simbolizado pelo caracter 卯, e a sua direcção é o Leste. Cá em Portugal tem sido o Ano do Coelho e a direcção é para baixo direito ao inferno! Não resisti! Continuando... Existem muitos cartões diferentes à escolha, dependendo também das formas literárias de desejar uma boa passagem de ano e um feliz ano novo:
- Tsutsushinde shinnen no oyorokobi o moushiagemasu – transmito a minha alegria pela passagem de Ano;
- Shinshun no Goshukushi o Moushiagemasu – desejo-lhe um próspero Ano Novo;
- Gashou – uma saudação ao Ano Novo;
- Geishun – uma expressão que dá as boas vindas ao Ano Novo.
Outro costume impossível de falhar é a entrega ao chefe de um presentinho, chamado Oseibo, que é responsável pelo aumento de vendas nas lojas nesta altura!

Ataquemos agora os rituais do fim de ano!
Começa-se pela Oosouji, uma limpeza intensa que ascende ao nível de verdadeira purificação. Numa casa tradicional japonesa, as donas de casa livram-se dos tatamis velhos e substituem o papel dos painéis que compõem as divisórias da habitação. Até nos escritórios esta limpeza tradicional é observada e são os próprios trabalhadores a limpar os seus cubículos. Como é tradição, ninguém se queixa… pelo menos, de forma oficial ou audível!



Feita a purificação, há que afastar os espíritos malignos, pois como diz o meu sábio avô “Todo o cuidado é pouco!”. Para tal, as portas e portões são protegidos com decorações de corda feita de palha de arroz entrelaçada. Essas decorações são denominadas de shimenawa, que significa literalmente “corda que encerra”, e são usadas em rituais de purificação do sistema de crenças Shinto. Os templos xintoístas usam-nos para separar o mundo em geral dos lugares sagrados. São tidas como protecções contra espíritos malignos, sendo então frequentemente vistas em templos, lugares cerimoniais ou portões torii. Uma versão diferente das shimenawa é usada à cintura pelos yokozunas (os campeões de Sumo, imagem acima). Outro uso que têm é o de assinalar árvores tidas como sendo moradias de Kodama (espíritos malignos) e as quais é melhor não cortar, reza a crença.
(LEGENDA: A gravura vista em cima à esquerda é uma representação dum Kodama. E em baixo e à direita temos uma árvora portadora de Kodama!)



Decidi dividir este post em dois para não ficar enorme. Contudo, vou postar a sequela já de seguida.
Até já!

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