terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma Cultura de Rebanho prá Matança

Algumas sugestões para os meses vindouros, para várias partes do país:
- uma maratona BTT marcada 6 de Abril em Castelo de Vide:
Inscrição na prova: 8€
Almoço (atletas e acompanhantes): 6€
Maratona de 100km
Meia-Maratona de 50km

- em Leiria, já dia 13 de Fevereiro, temos teatro:
«“As Muralhas de Elsinor” já tem estreia marcada, dia 13 de Fevereiro em Leiria partindo depois para digressão por todo o país. Com um elenco jovem e muito talentoso. Rodrigo Trindade (Escola Profissional de Teatro de Cascais, protagonista Mundo ao Contrário - TVI, Woyzeck - Teatro Experimental de Cascais) Marco Mendonça (Escola Superior Teatro e Cinema), Sara Cecília (Escola Profissional de Teatro de Cascais, I Love it - TVI, Woyzeck - Teatro Experimental de Cascais), João Leiria (Escola Profissional de Teatro de Cascais, Morangos com Açúcar - TVI, Podia Acabaro Mundo - SIC e Miguel Babo que encena e que completa o elenco. O texto original do, também jovem, Hugo Barreiros, aborda os temas existenciais expressos por dois guardas, cujos diálogos alimentam a expressão dramática do autor em relação a estes mesmo temas. Uma abordagem criativa e plena de humor que prende o público na utilização original do cenário dramático de “Hamlet” de Wiliam Shakespeare onde se enquadra todo o desenrolar da peça. Uma peça para todas as idades (M12) com a particularidade de ter uma banda sonora original, feita propositadamente para esta encenação, assinada por Nuno Simões. O conhecido músico de David Fonseca, criou temas excelente que se integram também de forma excelente na encenação.», informação dada pela única actriz neste elenco, a Sara Cecilia (imagem abaixo).
"E se a história de "Hamlet" fosse contada na perspectiva dos dois guardas? É precisamente isso que acontece nesta peça, que dá a conhecer o outro lado da história, a partir do olhar de Bernardo e Francisco, personagens que aqui ganham uma densidade emocional que contrasta com a pouca importância que lhes é dada. A banda sonora, da autoria de Luís Albuquerque, é interpretada ao vivo." in Público.
Eis um vislumbre dos Bastidores da peça, em tempo de ensaios:

- e em Almada, a peça Worms volta a estar em cena, já nos próximos dias 7, 8 e 9:
 
Por falar em teatro, particularmente na peça Worms, que eu já aqui referi e à estreia da qual fui de facto, no Teatro da Comuna, tenho de reportar que foi um tanto ou quanto decepcionante. A São José Correia dá o seu melhor, única coisa que impediu os procedimentos de terem sido um completo desperdício do meu tempo e dinheiro! A peça é um monólogo, algo dificílimo de fazer. Espera-se que o que seja declamado a par com a forma como tal declamação é produzida, sejam suficientes para prender os espectadores aos seus assentos. O problema aqui é que o texto é uma verborreia incoerente de uma personagem que não chegamos a perceber se é louca e está a imaginar alguma coisa, se vive no agora e está a passar por uma catástrofe, se a acção se passa num futuro pós-apocalíptico… não chegamos a perceber. Enquanto a São está montada numa estrutura de ferro, que não deve ser nada agradável, entregando o discurso com uma fluência e entregas completas, nós não podemos senão sentirmo-nos despegados do que se está a passar. Oh, há umas piaditas sobre o Papa que eu até curti, umas tiradas ultra-ligeiras, quiçá superficiais, sobre a crise, mas depois toda uma conversa paranóica sobre moscas… Depois há a questão da actriz estar ali montada, como uma jarra numa mesa, imóvel, auxiliada apenas por uma câmara que espelha a sua face num grande ecrã para que melhor a possamos ver… ou seja, vou ao teatro ver televisão… e uns efeitozecos com laseres (nada de concreto) e umas quantas de emissões de fumo e vapor de água. Dito assim, pode parecer que acontece muita coisa, mas não. E o facto de ela não se poder mexer retira dimensão à peça. Enquanto experiência teatral é interessante, mas na minha opinião a única conclusão desta experiência é que o esquema, o aparato, não resulta. O texto teria de ser melhor, o aparato melhor usado, os efeitos teriam de ter alguma finalidade para além de encher. Repare-se que é possível fazer muito do pouco. Isto não é teatro, mas reparem nesta curta, por exemplo:
Embora tenha duas vozes, eventualmente dois actores, a maior parte da curta é o diálogo (grande parte monólogo) e ambas as personagens estão presas no local. Mas funciona.
Quanto aos efeitos e ao suporte metálico (que eu devia de ter fotografado mas não levei máquina, telemóvel merdoso), se isso está a fazer as vezes do cenário do teatro clássico, então deveriam ser melhor pensados para ajudar a história e não simplesmente serem atirados para o palco como o pó mágico da Sininho ou uma macheia de areia para os olhos.
- Em Lisboa, no próximo dia 12 de Fevereiro (imagem acima), na Assembleia da República "estala à bomba, qu'o foguete vai no ar, arrebenta, fica todo queimado", dizia o poeta. Uma exposição de arte pelo camarada (na luta contra o AO90 e pela alma de Portugal) Gastão de Brito e Silva, que procura denunciar o estado do país e tentar melhorá-lo, ao que parece já com alguns resultados. Ler link abaixo e os comentários ao post, se quiserem saber mais:

- como, por incrível que pareça dado o dilúvio tempestivo que vai na rua enquanto escrevo estas palavras, o Verão se aproxima e as Festas de fim de ano não perdoam na balança, eis um guia para não ser embarrilado pelos ginásios. Cortesia da Deco e da Visão (atenção, possibilidade de acordês presente):


Finalmente, queria deixar uma espécie de mensagem de Ano Novo (notoriamente atrasada, mas hey a minha vida não é isto!). Gostava de ter algo inspirador para dizer, mas a verdade é que me parece, ao contrário de muito boa gente, que os sinais positivos de que muitos falam, pecam tanto por ser demasiado pequenos como por serem demasiado tardios.
A verdade é que não se sabe quanto destas baixas da taxa de desemprego (ou serão taxas de crescimento de desemprego?, fico sempre confuso!) se devem à emigração desesperada e massiva que Portugal sofre nos dias de hoje. Estamos a sangrar a massa trabalhadora e contributiva do país, ao mesmo tempo que os politólogos afirmam que vamos ter problemas demográficos devido à baixa de natalidade. Isso é tudo lindo, mas se somos 10.5 milhões sensivelmente e já não há trabalho para 17%, o que raio quereriam eles fazer com mais demografia? Para quê? Para a mandarmos emigrar? Para termos mão de obra ainda mais barata como a China?
Mas o relógio de Portas contínua a sua contagem decrescente, em Passos de bebé birrento, para o grande momento de Independência de um país que não controla a moeda que usa, que não lhe é permitido alavancar as suas enormes reservas de ouro para negociar a dívida com os seus credores, que está vinculado por tratados com outras nações e que está (e continuará a estar porque nada estrutural foi alterado no Estado) às sopas dos subsídios comunitários… não sei o que fazer com tanta independência, a sério.
À PARTE: aposto que a Troika, desde da cerimónia do relógio, anda a bombar o vídeo abaixo!

A Reforma do Estado, chutada para fora, pelo CDS; o anular do Acordo Ortográfico chutado para prolongamento pelo CDS; a Co-Adopção para Casais Gay chutada para canto pela JSD; sem falar na privatização de cotas de empresas que davam dinheiro ao Estado, em prole de rendimentos extraordinários para aparentar um decréscimo do défice, enquanto o contribuinte contínua a pagar as PPP’s, os SWAP, toda a minha gente é absolvido no caso dos submarinos, as empresas que dão prejuízo não são nem privatizadas nem reestruturadas, o combate à corrupção não só não é feito como é ainda mais impossibilitado com a crescente falta de meios nas polícias e a não simplificação da Lei e da burocracia, e a cidadania é vendida a troco de negócios de imóveis!
Se Portugal conseguiu um aumento brutal nas suas exportações, NÃO FOI POR CAUSA DESTE GOVERNO, FOI APESAR DELE! Tudo o resto é medíocre propaganda e quem nela cai é parte do nosso problema colectivo.
Se Portugal tem aguentado, muitos portugueses não têm, ou têm passado fome, falta de medicação, falta de um tecto, etc…
Todos os nossos problemas continuam por resolver, sendo que perdemos capital humano, perdemos qualidade na Saúde e Escolas públicas, perdemos coesão social e, a médio prazo (10 anos no caso dos CTT), o Estado perdeu fontes de rendimento.
Mas se querem encontrar os culpados, como diria a personagem V do filme “V de Vingança”, “you need only look into a mirror!” (tradução = precisam apenas de olhar para um espelho!).
O povo português continua a ser facilmente distraído com patéticas e vis manobras de diversão políticas, com as classes política e jornalística a usarem assuntos sérios mas de fácil resolução para mentes sérias e honestas, como munição mediática. O referendo da Co-Adopção Gay, a lei dos Animais que era para ser mas afinal não, e agora a histeria das Praxes.
Sobre isso, aqui está das poucas opiniões sóbrias que encontrei (pena o acordês em que está escrita):
Segundo o Público, já desde o século XIX que pessoas se queixam das praxes. Nessa época, tal tradição só existia em Coimbra. Depois, generalizou-se às restantes universidades, segundo a alegada noção de que “é tradição”. Pois eu quando vim para a faculdade, vinha preparado e decidido a não ser praxado. De facto não o fui, mas também não cheguei a ter a oportunidade de bater o pé. Cheguei em Segunda Fase e na minha altura isso queria dizer começar as aulas em finais de Outubro, inícios de Novembro, já muito após terem acabado as praxes. Contudo, descobri, no meu segundo ano, que as praxes do meu curso, Engenharia Aeroespacial no IST, não eram de todo a vulgar cópia da tradição académica de Coimbra. Não, os alunos de Aero haviam feito uma coisa muito sua, muito sui generis. Para nós, as praxes não tinham formalidade, ninguém era obrigado a trajar para praxar, ninguém era humilhado, não havia qualquer tribunal de praxe, embora este fosse sempre ameaçado. Eu praxei no segundo e terceiro anos, sem nunca ter sido praxado. E foi só na penúltima vez que fui à praxe que fui baptizado com outros caloiros, apenas por me apeteceu. Ainda estava calor. O que fazíamos? Estas figuras:


Já agora, aquela senhora ao pé do carro da polícia de camisola amarela é Mãe de um dos caloiros desse ano e andou connosco alguns dias, curiosa e querendo partilhar da experiência do filho. E já agora, se repararem, o sinal está verde! Como podem ver só se vê um trajado e não é ele o veterano mais velho, é o rapaz que vai a segurar o avião. Não havia cá Dux’s nem prepotências dessas. No final, o que interessava era que os caloiros se conhecessem uns aos outros, conhecessem alguns dos veteranos, tivessem um padrinho ou madrinha que lhes abrisse caminho, e que nos tratássemos de igual para igual daí em frente, colegas que somos. No fim de contas, a mítica integração! Até há bem poucos anos, o meu curso nem ia no cortejo do IST. Não sei como as coisas estão agora, porque chegou-se a uma altura que não me fazia sentido continuar a ocupar o lugar, além de começar a não gostar de certas alterações. Uma maioria de “batman’s” (como eu chamo aos alunos trajados. Confesso que partilho da opinião do Miguel Torga sobre o traje) formou-se e decidiram por voto que íamos começar a ir com a manada ao cortejo de caloiros do IST. Portanto, não sei quanto as coisas já descambaram para a típica imitação da alegada tradição. Ou para coisas piores, como aquelas que já outros falaram. Espero que não. De resto, também há outras experiências de praxe que terão sido boas. Saquei a imagem abaixo dum Facebook duma desconhecida, mas como estava publicado para quem quisesse ver, coloco aqui o print screen como testemunho:
Por isso, dada a minha experiência do que a praxe pode ser (muito embora consciente de ser um caso mais excepcional que habitual [link para exemplo na origem - Coimbra]) e dado que as praxes são extracurriculares (ainda me lembro quando as proibiram dentro do IST e nós as viemos fazer para a Alameda D Afonso Henriques, acho que as imagens acima são dessas praxes mesmo), a ideia avançada por alguns de proibir as praxes é simplesmente idiota. Não dá para se proibir. É como proibir a marijuana, quem a quiser vai obtê-la. E o que é conduta ilegal já o é e pode e deve ser tratada dentro do âmbito da Lei. Além disso, a ilegalidade pode levar a que as coisas passem a ser feitas às escondidas e mais tragédias como as do Meco (se é que realmente foram no âmbito de Praxes) sucedam, ao invés de menos.
Seja como for, é preciso relembrar que isto não é de agora e já antes deste caso do Meco que tinham havido incidentes menos, digamos, de acordo com a Lei. Mas eis que agora veio o histerismo. Estranhamente, ninguém fala (por exemplo) da famosa Queima das Fitas em Coimbra… nem imagino quantas comas alcoólicas, quantas overdoses e acidentes se dão nesses tradicionais procedimentos académicos, mas como isso não teve a mesma atenção mediática que a tragédia do Meco, who cares, right? Ninguém fala em proibir isso… e ainda bem.
O Estado pode e, na minha opinião, deve não só mas também de ser uma rede de segurança para os seus cidadãos, mas nunca pode ser uma sala fechada e almofadada e/ou um colete-de-forças, perdido na intenção de salvar o cidadão de si mesmo! Senão corremos o risco do estado totalitário, que trata os seus cidadãos como crianças a quem não se pode dar responsabilidade sobre si mesmas. A verdade é que se queremos ser livres não podemos, como disse a personagem Simon Phoenix, no filme “Homem Demolidor”, tirar o direito às pessoas de serem idiotas.
A verdade é que as pessoas, tipicamente (há casos em que são mais novos), vêm para a faculdade com idade para votar, para conduzir, para beber, etc… São, ou espera-se que sejam, adultos. Se chegam à faculdade e não são capazes de dizer que não à pressão de grupo e fazem coisas com as quais não se sentem bem ou que os colocam em perigo de vida, ou que atentam à sua dignidade, então o problema é da Educação (e não me refiro à que é dada na Escola) que levaram que não lhes deu a proverbial espinha dorsal que qualquer pessoa precisa na Vida. Tanto da parte do caloiro que se deixa levar, como da parte do veterano indigno desse nome, que respectivamente sejam abusados e abusem nas e das praxes, há uma incrível falta de cultura e de pensamento individual que levem a um carácter autónomo, livre e solidário. É se calhar por isso que, quando chega a altura de votar, a maioria vai com a manada. É a velha história do:
- Porque fizeste isso?
- Porque o João fez…
- E se o João se atirar para dentro dum poço, tu também te atiras?

Quem nunca ouviu isto quando era criança?
Quem não entendeu à primeira?
Quando deixarmos de ser um rebanho de ovelhas ávidas a alinhar com a maioria ou, pelo menos, incapazes de lhe resistir, e passarmos a ser um colectivo de pensadores independentes (com opinião formada e convicção de pensamento, capazes de tomar conta de si mesmos), mesmo com a tenra idade de 18 anos, aí sim!, teremos uma hipótese de realcançar, enquanto nação, um esplendor não só tão grande como maior que o dos nossos antepassados. Antes de voltarmos a ser independentes externamente, teremos de nos tornarmos independentes mentalmente. Cada um de nós. Como eu disse acima, ainda temos os problemas todos por resolver.
Feliz e próspero 2014! E deixo-vos na companhia sempre alegre do Bruno Nogueira, com a sua tirada sobre o tipo de praxes que eu estarei sempre pronto a renegar:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=3653080

P.P.S.: E quanto à rapariga do Prós e Contras? Eu cá gostei da forma como ela argumentou. Muito inteligente, controlou a sala e dominou o momento. Se o Relvas ainda fosse ministro, ela tinha trabalho garantido!

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