Um recente post por parte do
ilustre crítico de cinema britânico Mark Kermode, fez-me pensar sobre zombies.
Estive indeciso entre chamar a esta entrada
“Os Meus Versículos Satânicos: Ressurreição”, ou em deixar os dois
tópicos separados e optar por citar uma frase do filme Land of the
Dead. Essa deixa pertence ao vilão da história, um político demagogo e
ditatorial num mundo pós apocalíptico, encarnado por Dennis Hopper (aos 18 segundos):
Mas a estrutura deste post é tão parecida com a do "Os Meus Versículos Satânicos", post este que poderão encontrar de imediato simplesmente clicando com o cursor sobre a imagem da lapela do site (ver acima), que não resisti em torná-la numa adenda a esse post.
O que são afinal zombies? Mitos e
lendas? Histórias de terror? Matéria para filmes passíveis de serem feitos com
baixos orçamentos e pequeníssimos guiões? Metáfora social mascarada de filme de
terror? Ou, como muitas vezes surge na escolha múltipla, todas as respostas
anteriores?
Procuremos, como talvez diriam
uns quantos de gatos fedorentos, esmiuçar o assunto.
Começo por apresentar-vos o post do Dr Kay,
que me meteu a pensar nisto:
Portanto, será seguro, tendo em
conta a lógica deste videoblog, assumirmos que um zombie pode ser, e é, usado
como metáfora para crítica social. Mas quais as suas origens?
No cinema, são apenas mais um
monstro, como o vampiro, o lobisomem, e outros que tais. Criaturas que começam
por ser meros humanos, com tu ou eu, mas que ao receberem uma mordidela ficam infectados
com um mal, tradicionalmente sobrenatural mas recentemente virulento e
pseudo-científico, que os consome e os transforma numa criatura pérfida e/ou
psicologicamente desumana, que existe apenas para saciar necessidades primais. Mas
será que os zombies também existem no mundo real?
Bem, convenhamos que por enquanto
ainda ninguém congeminou um T-virus e esperemos que assim se mantenha. E não há
maldição que nos transforme em tal besta ou se há o seu segredo foi bem
escondido. Talvez, como postula George R R Martin, a magia só exista quando
existem dragões vivos. Têm visto algum?? oO
Contudo, o zombie tem, como o próprio vampiro, um fundo histórico e
verdadeiro. Pois tal como é dado histórico que Vlad Tepes (pronunciado tzé-pesh
e querendo dizer “empalador”), bebia o sangue dos seus inimigos, é facto
histórico que zombies andaram pela Terra, não por meio duma estranha virose ou
maldição capaz de nos dar uma espécie muito desagradável de morte para além da
vida, mas antes por uma antiga e estranha prática exercida ao mais alto nível
nos meandros daquele aglomerado de superstições e crenças a que chamamos
Voodoo. Nos países em que os sacerdotes voodoo controlam as mentes das pessoas
pelo medo, o castigo mais alto, mais temido, é o de te tornarem num zombie.
Reparem que aquelas pessoas não têm medo dos zombies em si, têm medo é que
venham a ser transformados num zombie elas próprias. Estes zombies reais nunca
morrem e voltam à vida, mas isso é contudo o que os crentes no Voodoo
acreditam, pois o ritual leva os sacerdotes a administrarem uma certa poção,
tida como mágica, feita com algumas toxinas naturais, uma tirada do peixe balão
por exemplo, que deixam o condenado num estado quasi-catatónico, aparentando a
morte. Ele fica incapaz de se mexer, o ritmo cardíaco baixa consideravelmente,
a respiração é mínima ou inexistente, enfim o suficiente para ao primeiro e
descuidado exame parecer morto. Depois, “como manda a lei”, enterram-no
enquanto nesse estado. Durante a sua “morte”, o condenado sofre privação de ar
no cérebro, cujo efeito é, não querendo ofender o Egas Moniz (um dos nossos
poucos prémios Nobel), em tudo parecido com o duma lobotomia. Basicamente,
quando o condenado é desenterrado e os sacerdotes o reanimam, ele “ressuscita”
um zombie: uma pessoa sem vontade própria… o perfeito escravo. Não pensa de
forma crítica ou mesmo auto-servente, não raciocina, não sente, é influenciado
por qualquer pessoa que passe por ele na rua. Não tem autonomia. Eu também temeria ser transformado
num zombie se vivesse num país com essa religião. É claro que este castigo,
este intolerável crime contra a humanidade, é reservado para os que ousam
contrariar os desígnios dos sacerdotes do Voodoo. Os criminosos a sério, que
praticam todos os crimes que não esse “crime sem vítima” que é a Blasfémia, são
deixados às autoridades normais. Por comparação, os outros líderes religiosos
são uns meninos, uns “copinhos de leite”.
Há a possibilidade de isto ainda
existir nos dias de hoje, em sítios como o Haiti ou a Jamaica, muito embora
possa ser oficial e legalmente criminalizado. A primeira vez que me deparei com
esta realidade foi através dum documentário que não acabei de ver, onde um
actor vai falar com os representantes dum sacerdote Voodoo e lhes encomenda um
zombie. Chega-se mesmo a falar de raptar uma pessoa para a “zombificar”. O
actor escolhido foi o que encarnava o Mr Giles na série “Buffy, a Caçadora de
Vampiros”, e a certa altura ele vira-se para a câmara e diz mesmo que não
acredita que estão mesmo a discutir aquele assunto como se mais não fosse que
um mero negócio do quotidiano.
Este é o retrato do zombie
histórico, do zombie original, da fonte do mito. E não, ele não é perigoso por
si mesmo. Qualquer pessoa o pode mandar matar-se e ele provavelmente vai, desde
que o seu cérebro retenha a capacidade para perceber o que lhe é dito.
Nos dias de hoje, a palavra pode
também ser usada para definir um tipo de atitude desumana levada a cabo por
humanos, crédulos nas fantasias que outros lhes “venderam”. Passo a citar e
traduzir Christopher Hitchens, na introdução do seu livro “Arguably”, uma
colectânea de artigos que escreveu:
“Especialmente no decurso dos
últimos dez anos, a palavra «mártir» tem sido completamente degradada pela
imagem lupina de Mohamed Atta: um zombie frio e sem vida – um assassino suicida
– que levou com ele tantos inocentes quantos conseguiu. As organizações que
encontram e treinam homens como Atta foram desde então responsabilizadas por
crimes inomináveis em muitos países e sociedades, desde a Inglaterra ao Iraque,
na sua tentativa de criar um sistema onde o zombie frio e sem vida fosse a
norma e a cultura estivesse morta. Eles clamam que irão vencer pois amam mais
a morte que a vida, e porque os amantes da vida são fracos e degenerados.
Praticamente todas as palavras que escrevi desde 2001, têm sido explícita ou
implicitamente dedicadas a refutar e a derrotar aquelas odiosas e niilistas
proposições, e todos aqueles entre nós que as tentam explicar.” Fim de citação.
Assim, o zombie é passível de ser transformado numa poderosa ferramenta do mal,
pois está sempre apto a seguir as ideias de outros, sem as considerar de forma
crítica ou moral.
Ao preparar-me para aqui trazer
este tópico, procurei, para fazer a ligação à essência geral do N.I.N.J.A.
Samurai, pela forma japonesa da palavra zombie. Descobri que é muito simplesmente
Zombi, embora exista também um termo japonês que indica “um morto-vivo ou um
morto reanimado” e que é Kyonshi. Na busca por esta curiosidade linguística,
encontrei por acaso outra definição para zombie, desta volta sendo a palavra
utilizada na gíria ou no jargão técnico da Economia. Isto para mim foi ouro
sobre azul. Encontrei vários links para posts de opinião e também para um
artigo de ciência económica, que parecem afirmar e contra-argumentar sobre se o
Japão é um país zombie ou não. “Oh Diabo!”, pensei eu de imediato “Então mas já
destruíram os 7 selos? Já soou a trombeta do Gabriel? Já rasgaram os céus as
montadas aladas dos cavaleiros do apocalipse? Ter-se-ão as águas do Pacífico
metamorfoseado em sangue? E os céus do país do Sol Nascente terão entrado em
combustão? Será que os mortos andam animados pelo Japão, como acontece na Cuba
do filme Juan of the Dead? Que pasa?” Na verdade, não é tão fantasioso mas sim
bem mais real. O termo é usado para definir empresas e/ou corporações, que
sobrevivem apenas através de crédito, sem o qual ruiriam. Essas empresas estão
constantemente a sangrar os bancos, que por pressão política (pressões no
sentido de emprestarem mais dinheiro às PME’s para poder estimular crescimento
económico) e mesmo popular (a perceptibilidade de que se os bancos recusam
dinheiro às empresas necessitadas a economia não avança) continuam a
financiá-las com juros de empréstimos que não acompanham o risco dos créditos a
que estão agregados e como tal não servem de dissuasor a esse mesmo crédito nem
trazem lucros aos bancos. Esta prática é tida como tendo um efeito nefasto na
economia do Japão (ou assim alega o documento), sendo que o fenómeno foi de
facto primeiro detectado por académicos japoneses, num artigo científico de
Hoshi. Segundo o artigo, o efeito é castrador. A economia não cresce, estagna.
Vou citar e traduzir só uma pequena parte do artigo cujo link vos deixarei se
quiserem pesquisar mais aprofundadamente:
“Mantendo estes devedores que não
dão lucro (a que chamamos zombies) vivos, os bancos permitem-lhes distorcer a
competição por toda a restante economia. As distorções dos zombies surgem em
várias formas, incluindo a depressão dos preços de mercado dos seus produtos, o
aumento dos salários do mercado mantendo os trabalhadores cuja produtividade
nas actuais firmas declinou, e, de forma mais geral, congestionando os mercados
nos quais participam. Efectivamente, a crescente obrigação financeira do
governo proveniente de garantir os depósitos dos bancos que suportam os zombies
serve como uma muito ineficiente política de combate ao desemprego. Assim, o
normal desfecho competitivo no qual os zombies despediriam os empregados e
sofreriam desvalorização das acções é evitado. Mais importante, os baixos
preços e altos salários reduzem os lucros e colaterais que firmas novas e mais
produtivas poderiam gerar, desencorajando dessa forma a sua entrada e
investimento. Assim sendo, até bancos solventes não viram boas oportunidades de
empréstimo no Japão.” Fim de Citação. [Link: http://economics.mit.edu/files/3770]
Mais alguns links sobre este
assunto:
Eu não sei se concordo com o
artigo citado tendo em conta que, não sendo especialista em economia, mas
assumindo a premissa de que a economia japonesa estagnou, tenho que me
perguntar se isso é bom ou mau, ao contrário de automaticamente presumir que é mau. O facto é que sacrificando-se maiores lucros,
atingiu-se um equilíbrio (uma vez que o Japão era até recentemente e salvo erro
a 4ª maior economia a nível mundial) que permite aos japoneses combater o
desemprego, terem altos salários e produtos a baixos preços, o que a ser
verdade implica grande poder de compra e contínua circulação do capital. Quem
me dera isso em Portugal e com os mesmos resultados! Contudo, o que temos em
Portugal é um BPN a sugar o Estado para proveito de ninguém e para flagelo duma
população cada vez mais desempregada, cada vez com menos poder de compra e uma
sociedade com cada vez menos circulação de capitais, sempre a endividar-se cada
vez mais para com aqueles a que chamamos de amigos. O meu pai sempre me
ensinou: “Queres perder um amigo? Pede-lhe dinheiro emprestado.” Vidé Grécia!
Por isso, acho que concluo que ter zombies económicos talvez não seja assim tão
mau, se assumirmos a perspectiva de criar uma economia rica para muitos, mas
não centralizada no lucro de poucos. Provavelmente não poderá é durar? Ou
poderá? A ver vamos… De qualquer forma, cada vez mais sabemos que vivemos num mundo finito, com recursos a serem usados demasiado depressa e sem ser ao serviço do bem da Humanidade, mas antes para dar lucros ao 1%. Pois não há famintos por todo o mundo e infelizmente até mesmo em Portugal, que se diz de primeiro mundo? O consumismo e a filosofia do lucro ser riqueza são parte do que coloca em risco o futuro da Humanidade. E se os recursos são finitos, não devemos nós usá-los de forma mais sóbria do que para alimentar e fazer crescer a "máquina fazedora de lucros"? Mais uma vez corremos o risco de nos destruirmos a nós mesmos e mais uma vez por algo que é apenas conceptual e criado por mentes humanas para ganhar poder sobre outras mentes humanas. Pensem nisso.
Temos então 4 definições actuais
de zombie:
1) o cinematográfico;
2) o histórico;
3) o mártir terrorista;
4) o económico.
Mas eu aventurar-me-ia a aproveitar as definições de zombie para gerar
uma metáfora para um quinto tipo de zombie: o Zombie Social.
Vastos segmentos da população
mundial são de facto zombies, pessoas que vivem sob a influência dos outros,
dos media, dos lobbies, incapazes de pensar por si mesmas, de sentir
solidariedade pelo seu congénere. Pessoas cujo único objectivo é o consumismo e/ou
a satisfação das suas próprias e necessidades básicas, que não se preocupam com
o que é decidido por eles pelos seus governantes ou mesmo que outras pessoas
decidam quem são os seus governantes sem que eles contribuam nessa decisão.
Vivem eternamente “ao sabor do vento que prevaleça”. A sua mantra colectiva
incluiu tais ditados como “Se não os podes vencer, junta-te a eles.”, “A
ignorância é uma bênção.” e “Ah, sempre foi assim e sempre há-de ser!”.
São aquelas massas silenciosas
que esperam ser libertadas do cativeiro duma ditadura, mas que não estão
dispostas a arriscar a própria vida nessa causa, por exemplo. São pessoas
inundadas de apatia social, incapazes de criar o seu próprio estilo, mortinhas
(full pun intended) por ingressar num grupo que as defina ou de usar as roupas
que vêem outros usar na televisão, ávidos seguidores das modas que lhes impõem.
Na sua maioria optam por ser neutrais a quaisquer discussões que estejam a
acontecer na sua sociedade. Exempli gratia, o caso do acordo ortográfico na
nossa sociedade. Já saberão que sou contra o AO90, mas que respeito, embora discorde,
com a posição contrária. Os zombies são aqueles para quem pura e simplesmente o
assunto não interessa, como se nada fosse com eles. Que se estão marimbando
para o facto da sua identidade cultural e daquela que os seus filhos e netos,
se os tiverem, irão herdar, estar a ser decidida no presente.
O zombie social é o auge do servo
ao Poder, mesmo numa sociedade que respeite os direitos básicos duma
democracia. É aquele que segue de olhos fechados, desde que se possa alimentar
pelo caminho. E dessa forma coloca em risco a própria estrutura de um estado
democrático e laico, pela mera falta de interesse, pela mera inacção, pela
falta de opinião, por nada contribuir ao nível intelectual para nação. Quantas
vezes não ouvi eu já “A abstenção é enorme.” na cobertura noticiosa de
eleições, antes e depois de eu ter idade para votar?
O zombie social, que está no
centro dos problemas das sociedades actuais, serve de marioneta dos, ou como a
desculpa usada pelos, vampiros (políticos) que usam os seus cargos em proveito
próprio ao invés de servirem a nação. Ou pior ainda, quando os comentadores
políticos (cujo o nível de parasitismo igualo àqueles peixes que acompanham os
tubarões e subsistem a comer os micróbios e parasitas das peles dos tubarões,
mas sem sequer terem essa purificadora qualidade que poderia trazer alguma
redenção à sua existência) dizem que os portugueses merecem os líderes que têm
pois não se interessam pelos problemas da nação. E o problema é que é verdade,
há muitos que não se interessam… há muito zombie por aí. Ainda recentemente li
uma entrevista do Boss AC onde este dizia, e parafraseio, “O que mais me
chateia é a apatia do povo português!”. Agrada-me o pensamento, se bem que há
algo que me chateia ainda mais. As pessoas que não têm solidariedade para com
as outras. Concretizando, aquelas pessoas que quando vêem alguém fazer greve e
essa greve não lhes diz respeito nem as afecta, ignoram-na, talvez ainda pensando
“Que cambada de idiotas”. Mas que quando essa greve impede a sua vidinha
quotidiana, como por exemplo não ter autocarro para ir para o trabalho
(necessidade básica), a pessoa não-solidária fica toda chateadinha e não só não
tem essa solidariedade social para com o grevista ou manifestante, ajudando-o a
conseguir uma qualquer reivindicação ou pelo menos respeitando o direito deste último de o
fazer, que ainda usa todo e qualquer argumento para dizer que essa pessoa que
exerce o seu direito democrático de lutar pelos seus direitos é um crápula e um
vilão. Morde então na casaca daqueles que provavelmente também lutarão por ele,
quando o patrão o despedir daí a uns tempos. Zombie! No seguimento, é
interessante também analisar que nos países mais evoluídos do mundo, ou pelo
menos assim tidos como, os da Social Democracia Nórdica, têm 60% de
trabalhadores sindicalizados e níveis de desemprego abaixo dos 7%. Não admira
que lá haja menos corrupção, se os políticos lá se portarem como os nossos se
portam cá, descobrem que o poder está mesmo nas ruas, pois está organizado e
funciona. Por cá temos 30% de trabalhadores sindicalizados, e uma grande parte destes
últimos ou dessas organizações sindicais está sempre disposta a aceder às
propostas do 1% governante, abandonando o protesto e fazendo uma tímida paz
social, a que cobardemente chamam tréguas para parecer que ainda não se
renderam.
Por outro lado, vivo num país,
igual a tantos outros, onde não se gera riqueza mas sim ricos. Onde os poderosos
se ajudam uns aos outros a sugar a vida dos numerosos mais fracos. http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/combate-a-corrupcao-em-portugal-esta-abaixo-do-normal-e-ha-leis-viciadas-a-partida-1544831
Onde essa corrupção intrínseca dos mais altos níveis de governo já não é nem
criticada nem combatida, excepto na retórica uber inflamada mas de todo vazia
dos próprios hipócritas que a suportam e criaram, mas até é tida pelos zombies
como expectável… “sempre assim foi e sempre há-de ser”, lembram-se? É esta
permissividade dos zombies perante a corrupção que dá poder aos Vampiros, esta
falta de energia para qualquer tipo de resistência ao que está errado. E por
isso mesmo o Zombie social, como o seu primo da 7ª arte, só é problemático
quando em grandes números… fossem eles uma minoria e a coisa seria diferente.
Mas não, são uma horda de mortos vivos, ou uma manada (como lhes chamaram na
banda desenhada homóloga que originou a série televisiva “The Walking Dead”), o
que é engraçado uma vez que a própria Igreja Católica chama aos seus fiéis
rebanho e aos seus sacerdotes pastores.
Não admira então que os Vampiros
sejam mais audazes em terras lusas inundadas de Sol do que nas latitudes onde
durante 6 meses é noite! Gaita, eles cá até oram ao Grande Arquitecto! Onde o Zombie é numeroso, o Vampiro reina supremo.
Logo, podemos concluir que o zombie é o perfeito escravo do, e não um problema
para o, vampiro. E que ambos são maldições sociais para os Vivos.
Mas hey, aqui este ateu
permite-se a ter fé na Humanidade a que pertence. Não uma fé cega, mas baseada precisamente nesses
exemplos existentes de como podemos ser melhores. Na noção de que podemos, devemos, temos de exigir
mais e melhor tanto de nós mesmos como dos nossos governantes.
Sempre houve os que resistem, os
que lutam, e alegra-me ver que tanto em Portugal, como no Mundo, o número
desses cresce. Antes que atirem a primeira pedra, aviso já que não me refiro ao
crescimento do número de ateus, mas sim ao número de cidadãos, trabalhadores e
desempregados, jovens e velhos, de todos os credos e cores políticas (ou sem
cor política nem credo), de ambos os sexos e das várias orientações sexuais, e
de qualquer etnia, que saem às ruas para manifestar o seu desagrado, que
assumem posições e as defendem em debate racional, que criticam e objectam de
forma visível e audível contra o que acham estar mal, que lutam para manterem
direitos que outros conquistaram para eles em tempos idos, que se organizam e
usam a tecnologia e sem dúvida a solidariedade civil para gerar movimentos sociais
com o objectivo de obter maior justiça social, e que o fazem pela via pacífica
e democrática enquanto para isso tiverem liberdade. E, junto a estes, aqueles
que vivem em lugares onde lhes são negadas tais liberdades, mas que lutam por
elas arriscando até a sua própria vida. Esses, espalhados por todo o mundo, que falam nas mais diversas línguas, são todos eles o meu povo, a humanidade que não só sobrevive mas
que procura viver. Pertenço aos Vivos e não aos Zombies, que já morreram por
dentro só que ainda ninguém lhes disse nem eles se aperceberam. Eu pertenço
àqueles que dizem “eu estou cá para servir o próximo”, mas que se questionam,
não sem ironia, como questionou alguém cujo nome agora não recordo, “mas para
que raio está o próximo cá?” ahahaha
Nos últimos tempos, muitos
cidadãos portugueses externos a partidos políticos, começaram a organizar-se
espontaneamente para procurarem influenciar activamente a política em Portugal,
cansados que estão de estar entregues a sanguessugas. A Geração À Rasca entrou
em movimento. Uma geração da era da tecnologia e da informação, mais bem
formada academicamente que qualquer geração que a precedeu, procura agora
através do protesto, de petições, de iniciativas de cidadãos, melhorar o país.
Por outro lado, existe o movimento dos hacktivistas, entre os quais destaco os
Anonymous Portugal, que funcionam em conjunto com os Anonymous espalhados pelo
mundo e que recentemente pregaram uma partida ao site do partido do governo. O
seu anonimato permite-lhes levar o seu protesto um pouco mais além, mas ainda
assim fazem-no pela via pacífica e por isso merecem respeito. E nota-se que os
Vampiros já começaram a tremer, porque os números dos Vivos começam a crescer e
os números dos Zombies a diminuir!
Recentemente vi um vídeo no
Facebook, partilhado por uma amiga minha, que tenho agora de partilhar
convosco. É um manual sobre como estupidificar, quiçá zombificar, uma nação.
Deixo-o aqui ao vosso critério:
Relembro-vos só uma frase do senhor Franklin, aquando da construção de um estado democrático a que hoje chamamos USA: "A republic if you can keep it!".
Numa nota pessoal, já que o site é meu e tal, ainda não há pouco tempo, um dos
meus melhores amigos e eu entrámos em debate, porque ele achou que eu criticava
demasiado o governo. Achava ainda que me preocupava demais com coisas que não
podia controlar. “Carpe diem”, disse-me ele a certa altura “foste tu que me
ensinaste isso.” Eu fingi-me de parvo e disse “Não percebo a ligação.”,
procurando que ele elaborasse não querendo presumir nada. E ele disse que o que
queria era que os seus estivessem bem, que queria era ver o mundo e poder
divertir-se e que o resto se lixasse e, aparentemente, queria que eu pensasse da
mesma forma. Eu disse-lhe simplesmente que para mim o poder criticar o que
considero mal numa sociedade, o poder debater todo e qualquer assunto, por
vezes até reconhecendo mérito no argumento da posição que me é contrária ou
mesmo aceitando que estava errado e dar razão a essa mesma posição, não é para
mim um fardo mas sim uma alegria. Reconheço que sou um privilegiado, que nunca
viveu sob o jugo de uma ditadura de qualquer tipo, sendo que até me foi
permitido escolher qual fé, se alguma, eu seguiria quando fosse adulto. Mas
esse reconhecimento dá-me ganas de me bater pelos meus direitos, ou ajudar
outros a fazer o mesmo pelos seus quando posso, ou mesmo entrar em debate
nestes assuntos que, sem dúvida, não posso sozinho resolver ou mesmo
influenciar e ainda bem (ninguém deve ter tamanho poder). Tudo isso faz para
mim parte dessa majestosa filosofia de aproveitar o momento, de viver em pleno,
de viver a vida consciente e acordado, e não passá-la a dormir esperando uma
fátua recompensa no Além ou simplesmente imerso em prazeres que adormeçam os
sentidos para não sentir dor ou para ignorar o sofrimento que afecta tantos dos
meus congéneres.
O que eu posso fazer, faço, e sem
que seja necessário que me paguem para isso. Não é altruísta, mas sim na
esperança que outro, um dia que eu precise, esteja lá também por mim. Essa é a
essência de uma sociedade. Voto, assino as petições que com as quais concordo,
participo de protestos e manifestações que ache pertinentes e, por exemplo, escrevo
este blog sem assumir que alguém me lê, mas para que quem o queira fazer, que
tenha net, saiba ler português, e tenha interesse nos assuntos que trato, o
possa fazer. De facto, até a Google mudar os mecanismos internos do Blospot,
que agora dão estatísticas sobre quantas pessoas nos lêem e de onde surge
actividade online no nosso blog pelo globo terrestre, eu não fazia a mínima
ideia de que mais alguém me lia além dos meus dois seguidores. Gostei de
descobrir, admito, que tenho uma modesta mas continuada audiência espalhada por
todo o mundo, acreditando nas estatísticas da Google, claro. Considerando que
no Facebook (meu único meio de partilhar os posts) só tenho 88 pessoas
adicionadas, fiquei alegremente espantado. Mas isso não me estimula nem mais
nem menos a escrever, é apenas um bónus, uma alegria.
Eu convido o debate e a que me
contrariem pois só assim posso eu evoluir também. É por isso que me orgulho de
dizer que os meus amigos, poucos mas bons, são pessoas que têm sempre algo a
ensinar-me, que têm visões de mundo diferentes da minhas e com quem posso
partilhar não só copos e noitadas, mas especialmente debates políticos,
filosóficos, problemas da vida quotidiana, nunca me preocupando se eles
concordam comigo ou não (pois duma forma ou doutra, sei que estão lá) e sempre
aberto a verdadeiramente escutar e analisar os argumentos e raciocínios deles.
Orgulho-me ainda de dizer que ao longo dos tempos, mudei as minhas ideias
espero que para melhor, com base em demonstrações científicas ou lógicas que
superaram as mantinha anteriormente. De facto, agora que penso nisso, as
pessoas que me atraem são as diferentes de mim, as que detêm outros saberes,
mas que sabem expô-los de forma racional e lógica, e que estão abertos ao
debate e a aprender com esse debate.
Mas sou apenas humano e confesso
que nutri alegria do facto de ter descoberto recentemente tantas pessoas contra
o AO90, quando eu pensava, até à mudança no CCB, que já não havia mais ninguém
que se importasse como eu me importo e que quisesse lutar. Até a mim, que
procuro sempre ler nas entrelinhas, os Mass Media portugueses afectaram
negativamente. Não podemos baixar a guarda com estes gajos…
Outra coisa que me trouxe alegria
foi o facto de os ateus estarem a crescer em número pelo mundo, provavelmente
porque durante muito tempo via amigos e colegas meus na catequese, em
baptizados ou a terem Religião e Moral na escola (os meus pais perguntaram-me
se eu queria ter, eu disse que não), e achava-me a mim mesmo uma Ave Rara.
Felizmente há mais como eu, só que nós não sentimos a necessidade de nos
agregarmos para reforçar fés que testam toda a lógica.
É humano sentir a necessidade de
pertencer ou pelo menos de não estarmos sozinhos na nossa visão de mundo, mas é
preciso ter a coragem e talvez o estoicismo para fazer o que achamos certo mesmo
quando todo o mundo parece estar contra nós, ou que simplesmente somos os
únicos a pensar dessa forma, porque sem isso perdemos a Humanidade, a
individualidade, e tornamo-nos em apenas mais um Zombie numa manada desmiolada
e facilmente guiada pelos interesses maquiavélicos de alguns, eternamente
vagueando em busca da próxima dentada.
Antes de terminar, só duas
curiosidades:
Uma outra curiosidade de zombies
no Japão é a torre da mina de carvão Shime, na Prefeitura de Fukuoka. A mina já
não funciona desde 1964, contudo ficou recentemente conhecida na Internet como
a estrutura anti-zombies preferida dos cibernautas. O governo japonês considera
o local e a estrutura um monumento, mas um mero post no site Reddit, onde se
partilham imagens e comentários, no qual se elaborava sobre as qualidades de
abrigo anti-zombie que o edifício tem, foi o que lhe granjeou fama online.
Seria interessante gravar lá um filme de zombies. Fica a ideia.
A segunda curiosidade é a curta-metragem portuguesa “I’ll see you in my
dreams”, que é até à data o único filme de zombies português. Conta com
participações de São José Correia (que já foi minha vizinha :), Sofia Aparício,
João Didelet e Rui Unas, entre outros, tendo sido realizada por Miguel Ángel
Vivas, e escrita por este último e por Filipe Melo. Deixo-vos o trailer, creio
que o DVD ainda está à venda:
Não digresso mais. Termino com a
música Zombie dos The Cranberries, que é, se prestarem atenção, ainda outro uso
desta palavra para criticar uma determinada atitude humana… ou desumana neste
caso:
Alex, signing off, hoping for a better
tomorrow, where the living can live and not only survive, and the dead don’t
bother them @ all!
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