sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Takarajima = "Ilha do Tesouro"








Por alturas do Natal, eu fico sempre nostálgico e reencontro todos os anos a criança que há dentro de mim. É bom fazê-lo porque foi até hoje o melhor tempo da minha vida e memórias tão felizes têm força suficiente para nos escudar contra o cinismo que parece inerente ao ficarmos adultos. Daí os jovens serem mais idealistas e os adultos desdenharem os que acreditam em ideais. Não todos felizmente, apenas aqueles que foram derrotados ou envenenados pelas vicissitudes da Vida e que deixaram morrer a criança que outrora morou dentro deles.
Foi a melhor época da minha vida porque não tinha preocupações nenhumas e os meus pais viviam bem na altura em termos monetários, permitindo-me comprar brinquedos quase todas as semanas! Além disso, ainda tinha os meus 4 avós comigo e era o puto da família, sendo apaparicado por todos! Costuma-se dizer "Para criar uma criança é preciso toda a aldeia!". Bem, eu tive a aldeia e isso já ninguém me tira!
Aos sábados de manhã deleitava-me com desenhos animados épicos e heróicos como hoje já não há, nem no oriente nem no ocidente (e já explico esta afirmação). Às escondidas, via filmes, que o meu pai gravava no velho formato VHS, que não devia ver (Exemplos: Terminator I & II, Predator I & II, Robocop, The Fly, Evil Dead, Cyborg, Rambo) e também via outros que eram próprios para a minha idade (Exemplos: Karate Kid I & II, TMNT I & II, Caça Fanntasmas I & II, Army of Darkness, etc...). Pelo meio, via filmes de acção habituais do Van Dame, do Chuck Norris, do Jacky Chan, do Governator, do Bruce Willis e do grande Bruce Lee. Assim como também via séries como Os Imortais, O Justiceiro, Esquadrão Classe A e o grande McGyver! Por ver estes filmes e séries tantas e tantas vezes, acabei por aprender a falar inglês sozinho e quase como se fosse também uma primeira língua. Tudo começou porque eu tenho uma leve dislexia e quando era puto odiava ter de ler legendas. Como as pessoas da minhas geração saberão, em Portugal, os filmes não eram dobrados mas sim munidos de legendas. Então acabei por ir aprendendo. Por ouvir os meus primos dizerem Man uns para os outros e mesmo para mim (percebendo ser uma cena fixe), perguntei ao meu Pai o que Man queria dizer. "Homem", disse-me ele rindo-se. E eu disso "Homem?! Só isso?? Que tem isso de fixe?". Foi assim que comecei a despertar para a linguística.
Mas voltando ao que queria falar. Na década de 1990, o Anime começava a ganhar proeminência no Ocidente. Séries como os Cavaleiros do Zodíaco e a Ilha do Tesouro são as que melhor me lembro, sendo que gostei muito mais da que dá título a este post que dos Cavaleiros. É que Cavaleiros do Zodíaco tornava-se chato por ser incrivelmente repetitivo... e quase ninguém morria. Já na Ilha do Tesouro, pessoas chave morrem e logo desde os primeiros episódios, tal como no livro original. É isto de que falo quando falo de séries épicas. Hoje em dia a maior parte dos desenhos animados não lidam com a morte e depois admiram-se de crianças por vezes matarem colegas de escola por andarem a brincar ao Dragon Ball ou algo do género. É que nessas séries a morte é inconsequente, o pessoal pode sempre reavivar toda a gente. Ou então, mesmo depois de levar tanta paulada, estão bem. E fazem isto dum ponto de vista sério e não cómico como por exemplo nos Looney Toons. Não admira que as crianças fiquem baralhadas e essas terríveis situações aconteçam. É bom falar da morte quando se é pequeno, até porque as crianças não são nada burras e têm uma capacidade de aprender muito maior que a de um adulto. Falo de experiência quando digo, por exemplo, que é muito mais fácil aprender línguas em criança que em adulto. "De pequenino se torce o pepino!", diz o meu povo! Além disso, basta olharmos para os clássicos contos de criança, histórias de cautela e de terror, em que pessoas efectivamente morrem, como no Capuchinho Vermelho ou no Hansel e Gretel, ou mesmo o João Ratão. A minha mãe ainda hoje me goza porque eu lhe pedia para me contar estas histórias, com 3,4,5 anos, e sempre que as ouvia chorava baba e ranho. Lidar com a morte em criança não nos torna insensíveis em adultos, dá-nos é uma maior sensibilidade e respeito para com o tópico e até mais tempo para aprofundar o nosso conhecimento sobre ele. Só é preciso é ter adultos à volta das crianças que não tratem os assuntos como a Morte como tabus e estejam prontos a guiá-las nesses primeiros encontros. Não paternalizem as crianças. Falem com elas de igual para igual, dentro dos possíveis... mais cedo ou mais tarde, com ou sem o vosso conselho, elas saberão as verdades da vida. Mais vale que seja mais cedo e num ambiente familiar. Garanto-vos!



Sobre a Takarajima...





O John Long Silver era esplendoroso, tanto tinha medo dele como queria fazer parte da sua tripulação! Creio que era isso que o Jim desta série, desta versão da Ilha do Tesouro, sentia também. Curtam só o riso maníaco do gajo:


Depois havia o Gray, que era a minha personagem favorita, e de todos é o que tem a morte mais poética no último episódio. Ainda assim, não estou certo de que esta personagem existisse na história original. Ele era o bacano que atirava facas, que não era central mas era letal e safava as cenas no último momento, de tempos a tempos. As outras personagens dos "bons", como os putos dizem, (o médico magistrado, o ricaço, o capitão, o cozinheiro, entre outros) também eram porreiras e o Jim era uma personagem que nenhum miúdo se importaria de ter como avatar naquele mundo de aventuras. Como podem ver (spoiler alert) no video seguinte, alguns deles morrem durante a série:


Os piratas conseguiam, aos olhos duma criança, meter medo. Especialmente o velho e cego Pew e o próprio Long John. Contudo o próximo video é um musical que encontrei no youtube e que mostra um lado mais "boa onda" dos piratas!


Esta série correu do início da história até ao fim, algo raro nas séries de TV, que são canceladas antes de chegarem a uma conclusão. Gostava de a rever na sua totalidade como ela deu na RTP1, há incontáveis anos atrás! Infelizmente o DVD saiu com dobragens em francês e em alemão, mas não em Português, o que considerando que é a 5ª língua mais falada mundialmente, não se percebe. Até porque, salvo erro, foi das poucas séries dobradas da época. Razão pela qual, quiçá, eu não falo japonês! ahahahah Deixo aqui o pedido que façam uma edição do DVD com versão portuguesa. Falem com a RTP, que eles têm lá os ficheiros de áudio de certeza! É uma série sempre actual originada por um clássico da literatura, e que qualquer criança vai gostar.
http://www.imdb.com/title/tt0296435/
Para mim, a minha infância é a minha ilha do tesouro, escondida já por um oceano cada vez mais vasto de memórias. Mas no baú desse tesouro, entre outras, esta série está bem guardada contra os efeitos do tempo!
Despeço-me então, deixando-vos com um video de homenagem ao Gray (BIG SPOILER ALERT).



Sayonara... 4 now!



Sem comentários:

Enviar um comentário