Pelo video acima, já devem ter
percebido o tópico da entrada de hoje. Hôshasen quer dizer "radiação" em japonês. Vem no seguimento de outros tópicos
anteriores, como os posts sobre hibakushas e o post sobre o terramoto de 11 de
Março de 2011, mas também porque estamos a meio do Verão e um dos objectivos
primordiais do NINJA Samurai é dar conhecimento, sempre que possível, prático
aos seus leitores!
Por isso, comecemos por um aviso
menos alarmante talvez, mas também mais presente e banal, que como tal corre o
risco de não ser levado a sério pela maioria dos humanos.
No Japão, há uma tribo social e
urbana que se intitula Ganguro (http://en.wikipedia.org/wiki/Ganguro), que significa “rostos negros”. Vestem-se de
forma exuberante, pintam e descoloram os cabelos e têm a pele excessivamente
bronzeada. Esse bronzeado conseguem-no através dos frequentes banhos de sol e/ou
idas frequentes a solários. Para as jovens japonesas que pertencem a esta tribo
urbana, não há nada mais fixe que uma pele excessivamente bronzeada. Em
Portugal, como país à beira mar plantado que é, também temos uma cultura do “trabalhar
do bronze”. Como vemos nas notícias, as pessoas desempregadas que vivem ao pé
de praias, depois de enviar currículos em resposta a ofertas de emprego, pegam
no telemóvel e vão para a praia. E quem não gosta de ver aquele bronze bonito e
saudável na pele? Cada vez mais vemos as nossas actrizes e apresentadoras de TV
bronzeadas durante todo o ano, graças à utilização de solários com
regularidade.
Mas tudo o que é em demasia faz
mal e, como se diz na minha família, “Por causa dos abusos é que o meu bisavô
matou o corvo”. Já existe, de facto, um nome técnico para as pessoas que não
conseguem viver sem uma pele bronzeada e que por mais bronzeadas que estejam
sentem-se sempre pálidos: são os tanoréxicos. Pessoas cuja obsessão pelo bronze
perfeito coloca em risco a sua saúde física e mental. O termo foi cunhado por
dermatologistas norte-americanos e é indicativo de uma doença do fórum
psicológico, embora possa ser acompanhada de lesões e queimaduras cutâneas. As
pessoas que sofrem desta patalogia, foram primeiro descobertas pelo
comportamento anormal de irem a um dermatologista com lesões cutâneas geradas
pelos raios UV e mesmo assim continuarem a expor-se à radiação UV. “A tanorexia
surge frequentemente associada a um distúrbio depressivo, à fobia social, ao
distúrbio obsessivo-compulsivo ou, nos casos mais graves, ao distúrbio
delirante do tipo somático. Neste último, o paciente manifesta a convicção
absoluta e inabalável de que possui um tom de pele muitíssimo mais claro do que
é na realidade.”, in Super Interessante. É semelhante à anorexia, no sentido de
que um anoréxico nunca se acha suficientemente magro, os tanoréxicos acham-se
sempre pálidos. E para suprir essa deficiência imaginária vão abusando dos
banhos de sol, na praia ou na piscina, conjugados com visitas ao solário.
Ora bem, claro que podemos (e
devemos, porque necessitamos de vitamina D) banhar-nos na luz solar. Contudo,
devemos fazê-lo, como em tudo na vida, de forma consciente e cautelosa. Sabendo
que temos hoje, não um mas, dois buracos do ozono na atmosfera terrestre
torna-se imperativo que nos protejamos. E a protecção é simples de se fazer. A
aplicação correcta de um protector solar factor 50 e sairmos do Sol nas horas
de maior intensidade (das 11h às 16h), é o suficiente. Sim, é uma grande parte
do dia, mas infelizmente a raça humana tem de pagar pelo que anda a fazer ao
globo desde a Revolução Industrial. Pá, durante essas horas, vão beber umas
cervejas para a sombra duma esplanada, vão comer um gelado, ou beber café. Vão
a um cinema, se houver essa oportunidade. Depois, voltem à praia. Até tornará o
dia de praia menos rotineiro.
Quanto aos solários, bem, isso é
logo outra história:
"Os utilizadores de solários têm 20% mais probabilidade de apanhar cancro de pele do que as pessoas que nunca os usaram e o risco duplica quando a utilização começa antes dos 35 anos, revela um estudo hoje divulgado.
Passando agora a outro tipo de
radiação que nada traz de positivo, a radiação nuclear. Recentemente vi um
documentário, julgo que na TVI 24, intitulado Crianças do Tsunami (título
original Children of the Tsunami, da BBC). É um documentário que todos devem
ver. Reparte-se entre relatar uma situação de uma escola durante o tsunami, e
de algumas mortes que ocorreram nessa escola devido a má decisões por parte dos
professores, que (sejamos justos) como todos os restantes nunca esperaram um
tsunami com as proporções deste e como tal não souberam reagir adequadamente
(ver o post http://150anosportugaljapao.blogspot.pt/2012/05/mega-sismo-quando-o-infinito-encontra-o.html para mais explicações). Vê-se também a revolta dos
pais que perderam os filhos e os vários processos de enfrentar essa dor pelos
quais eles passam ainda hoje. E finalmente, é mostrado como toda a experiência
afectou a vida e a mentalidade das crianças que sobreviveram à calamidade.
Ainda é cedo para se poder determinar quaisquer efeitos físicos. Nesta última
parte, não pude deixar de ficar mais uma vez espantado com a capacidade de
encaixe, de adaptação, e mesmo de estoicismo das crianças. E sobretudo de
aproveitarem o melhor duma situação muito má.
Por exemplo, há entre estas
crianças uma grande quantidade que quer vir a trabalhar na pesquisa científica
de várias áreas de forma a desenvolver formas de combater a radiação ou de a
tornar mais segura. Outras desejam vir a trabalhar em algo que as permita
salvar outras pessoas de futuras calamidades deste género, como elas próprias
têm consciência de ter sido salvas. E o mais estonteante, as crianças sabem que
não precisam de procurar respostas no sobrenatural para o que lhes acontecem,
não esperam mais de deuses que não conhecem nem se perguntam “Porquê eu?”,
chegando mesmo a dizer uma delas, e parafraseio: “A natureza umas vezes é boa
para nós, outras vezes é má. A vida é mesmo assim e não há nada a fazer quanto
a isso.” E dizem isto de uma forma realista e sem raiva. O conforto do ateu é
saber que o caos é parte da natureza e que às vezes, como se diz nos filmes do
Predator, “Shit happens.” Nunca é pessoal, é apenas aleatório.
Eu pensei em aqui descrever ou resumir em maior pormenor o que é relatado pelo documentário, mas prefiro que o vejam directamente, pois tem toda a qualidade da BBC e aquelas crianças são um prazer de conhecer :) (aqui entre
nós, que nunguém nos ouve, encontra-se na net…). Eis um gostinho:
E assim me despeço, mais uma vez.
Perdoem-me por ter estado tão ausente este mês e no anterior, mas o Sol faz-me
“preguicite aguda”, if you catch my drift! ;)
Sayonara… 4 now!
Alex
Fontes: Correio da Manhã, SIC Notícias, TVI 24, Wikipedia, Super Interessante.
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