Olá, amigo(a)s!
Eu procuro afastar-me das
polémicas no tempo e só falar das coisas quando já tive algum tempo para remoer
os diversos argumentos contra e a favor, afim de vos entregar uma visão minha
de determinado tópico. Especifiquei “no tempo”, porque também não quero que me
leiam devido a sensacionalismos. Ao contrário da Imprensa e restantes Media, eu
não tenho a prorrogativa da venda da informação, tal como também não tenho o
constrangimento económico (enquanto puder ter net baratinha :D) ou a auto-censura
do politicamente correcto. Mas desta volta decidi abordar um tópico que está na
baila: a homossexualidade. É que hoje em dia somos todos forçados a pensar
nesta questão, não por culpa de quem é gay, mas por culpa de quem é intolerante
e arrogantemente ofensivo para quem o é.
Sabem?, quando eu era puto, um
dos meus ídolos era o Alexandre o Grande. Mas na altura os gays eram muito mais
alvejados do que são hoje, ser-se gay era considerado um insulto. Termos como
paneleiro, panisgas, bicha, fufa, etc… eram mais utilizados que gay,
homossexual ou lésbica. E provavelmente, mais utilizados entre heteros como
ofensa pessoal que para ofender um gay. Ainda sou do tempo em que se falava em
escolha sexual, em que a tese que diz que a homossexualidade é uma doença ainda
não tinha sido desacreditada. E como tal, embora Alexandre da Macedónia tivesse
sido um dos grandes reis conquistadores do Mundo Antigo, tinha nessa altura a
fama de ser paneleiro. Não me bastava ser gordo e alto, levando os adultos sem
malícia (parece-me) a me chamarem precisamente Alexandre o Grande, ainda era
por vezes chamado de paneleiro por associação. Ainda por cima, devido aos meus
longos (na altura) cabelos cumpridos, olhos verdes brilhantes, bochechas
cheias, eu tinha um aspecto algo que andrógino. Havia quem ficasse na dúvida se
eu era rapaz ou rapariga. Houve quem afirmasse que eu era demasiado bonito para
homem. Bons velhos tempos! Ahahah Estranhamente quem fazia essa associação,
voltando ao Rei Alexandre, estava algo que mais bem informado que os outros
putos todos, do ponto de vista histórico. As crianças tendem a ser cruéis por
falta de experiência na hipocrisia social, não por falta de conhecimento. São
rápidos a ver o que não encaixa no padrão habitual. É assim que aprendemos. Mas
bem, eu não me posso queixar, pois eu sabia bem ripostar e entendíamo-nos.
Nunca fui alvo do bullying, termo que na altura da minha meninice ainda
não se usava por cá embora o comportamento já existisse, precisamente porque
prefiro ser aguerrido (física ou verbalmente, conforme necessário ou
apropriado) como o Magnus quando me tentam pisar os calos, que seguir a
mensagem do Cristo e dar a outra face. É o tanas, que é o parente do badanas!
Eu sou muito introspectivo, desde
pequeno. Da mesma forma como muito novo me interessei por religião (a story for
another day) e pela política, também muito novo me interessei por sexo. Como
tal, quando já mais velho tomei consciência de que haviam 3 (gays, heteros e
bi’s) possibilidades de orientação sexual, que na altura ainda havia na
sociedade (entre heteros, creio) a ideia que de era uma escolha, eu decidi-me a
investigar qual dos 3 melhor se me assentaria. O tratamento que dei ao problema
foi o mesmo que dei à questão de visão de mundo (religião e política):
investigar, saber mais, falar com as pessoas, debater a questão, chegar a uma
conclusão. Esta contudo foi a conclusão a que mais tarde cheguei. Aos meus 16
anos, já sabia que era ateu (que já agora também não é uma escolha, mas isso
também fica para outro dia), pelos 21 já sabia que era apartidário, pela mesma
idade percebi a minha identidade sexual. Foi desapontante saber que não era uma
escolha, pois sou apenas hetero e gostava de ser bi. Just think of the
possibbilities! :D
Mas, devido à investigação que
fiz à minha própria natureza, acabei por sentir uma enorme empatia para com os
gays e mesmo alguns bi’s, devido ao facto de durante séculos e milénios serem
reprimidos por uma ditadura social dos “bons valores”, baseada como é normal
dum profundas lavagens cerebrais religiosas e falta de cultura. E esta ditadura
é imposta sob ameaça de penas como o completo ostracismo ou mesmo a pena de
morte. Em muitas partes do mundo hoje, ainda acontece. E em mundinhos mais
pequenos como o de muitas famílias portuguesas, de certeza que ainda acontece.
Durante muito tempo, não tinha paciência para as manifestações dos gays ou para
as suas reivindicações. Achava eu, na minha ingénua ignorância, que se eles
queriam ser gays que fossem para quê me chatearem com isso? Mas prende-se com o
facto de não os deixarem, de um casal de homens não poder namorar na avenida ou
andar de mão dada, devido (na melhor das hipóteses) a olhares reprovadores
cravejados de repulsa ou mesmo ódio. Christopher Hitchens nas suas memórias
chegou a falar de experiências gays que teve quando era mais novo, num colégio
interno de rapazes. “What do they fucking expect?!” dizia ele meio a sério meio
a brincar. Ele acabou por descobrir ser heterossexual, mas achou que devia
partilhar tais experiências como um gesto solidário ao movimento gay. Dizia
também que mais que sexo, a homossexualidade também deve ser reconhecida nos
parâmetros do amor romântico e, como tal, respeitado desse prisma. Concordo com
ele uma vez mais. Ele dizia ainda que não confiava em nenhuma pessoa que nunca
se tenha questionado, no seu íntimo, sobre isso. Não irei tão longe… Mas mais
do que eliminar o olhar reprovador da sociedade, é uma questão legal: terem os
mesmos direitos que os heterossexuais perante a sociedade civil e não serem
descriminados socialmente devido à sua natureza.
Numa nota de antiteísmo, o Hitch dizia isto do Deus de Abraão em geral
relativamente ao pecado (pois todo o homem peca, até o Adão que supostamente
era perfeito… criado à imagem do seu criador), mas focando-nos na problemática
em questão, se Deus criou o Homem e nos criou doentes (seja os gays ou os
ateus), e depois sob pena de irmos arder eternamente nos infernos nos ordena
que fiquemos saudáveis (aos seus olhos), não é este um deus mesquinho que
condena algumas das suas criações ao fracasso? Não é este deus vil? Ainda assim há homossexuais católicos, entenda-se lá como (cliquem nesta frase para um video ilustrativo em inglês).
Em Portugal, o Sócrates foi ver o Leite e acabou
por colocar o país no bom caminho, legalizando o casamento homossexual. Até um
relógio avariado dá horas certas duas vezes por dia, né? Recentemente, a
esquerda portuguesa (esquerda esquerda e esquerda centro) em peso, com a
abstenção da maioria da direita, legalizou finalmente a co-adopção por casais
homossexuais na Assembleia da República (AR). Em breve, não duvido,
provavelmente já em governo chuchialista, a adopção plena será também
legalizada. O meu receio até agora, pelo que li, infundado sobre a adopção era
que uma criança não tendo contributo educacional de um macho e uma fêmea não
teria um desenvolvimento normal. Consideremos o seguinte: o gay (tal como o
ateu) pode e tem surgido de casais heterossexuais (religiosos), logo não haverá
porque esperar que heterossexuais (crentes) não surjam do seio de famílias não
convencionais (de “bons” valores religiosos). Nós somos produto da nossa educação
e experiência, mas não aparecemos como uma tábua rasa no mundo, já trazemos
bagagem (e não, não me refiro a vidas passadas). Depois, as pressões no recreio
dos bullys perante os putos que tenham dois pais ou duas mães poderá persistir
durante umas gerações, mas dentro em breve desaparecerá. Porquê? Porque o que
hoje é tabu, se não for prejudicial para a sociedade, amanhã é normal. E a
homossexualidade já cá anda desde que o Homem era Macaco, pois até os
macaquinhos a têm, e ainda cá estamos. Aliás, todos os animais que vivem em sociedade desenvolvem práticas homossexuais. Além do mais, a co-adopção e, suspeito
eu, a adopção por casais gays, em termos práticos já existem, só não são
reconhecidas legalmente. O que quer dizer que se morre o pai ou a mãe
(biológico ou adoptivo) que legalmente é o tutor da criança no casal gay, a
criança tendo um outro encarregado de educação nunca reconhecido pela lei, pode
ser atirada para (essa sim comprovadamente prejudicial) a guarda do estado.
Relembre-se da Casa Pia, como exemplo negativo ao extremo. Assim sendo, a
legalização é a única solução, além de se matar dois Coelho’s de uma cajadada
só: há muita criança para adoptar e poucos casais com possibilidades e/ou
vontade para tal. Os argumentos contra são, pelo menos o que eu ouvi, baseados
em medos. Medo de que os valores religiosos sejam eliminados da sociedade, medo
de que os pilares sociais ocidentais (as tradições) sejam substituídas, medo
que toda a população ou a maioria se torne gay por ou serem criados por gays ou
por whatever, e finalmente por medo da Esquerda política que tem sido a fomentadora
destas mudanças… Quanto à primeira, era bom era! Ahahah, mas visto que até há
homossexuais não só cristãos mas especificamente católicos, não vejo isso a
acontecer. Quanto à segunda, ninguém está a substituir nada, as famílias
convencionais (casal composto por um macho e uma fêmea) continuarão a existir e
aventurar-me-ia eu a dizer que continuarão em maior número. O terceiro medo é
simplesmente parvo. O quarto medo é mera politiquice.
É óbvio que para todas as
revoluções, antes duma evolução delas poder surgir, há sempre uma tentativa de reacção. Lamento em dizer que mais uma vez a reacção vem da Direita. E, tendo em conta, de onde originam os sentimentos anti-gay, não custa a vermos que é a Direita
Cristã. Sim, a mesma que nos deu o Mussulini, o Franco e o Salazar, entre
outros. A mesma que apoiou o Hitler até à queda do Terceiro Reich. A mesma que
na Rússia fez de Estaline um santo e apoia incondicionalmente o Putin e os seus
esbirros xenófobos e nacionalistas. Por cá, os representantes da
Direita Cristã moderados comprovaram agora que estão bem domados. Falo claro
do CDS. Não estou a chamar-lhes fascistas, mas tal como os comunistas têm uma
herança negra com que lidar. Só os sapos que o Passos e o Gaspar os fizeram
engolir desde que a eles se aliaram com ganas de poder, e agora esta esmagadora
permissividade, esta sim, contra-natura que tiveram perante um tópico com o
qual estão amplamente em desacordo, demonstraram bem a sua dupla-face, a que
têm na oposição e a que têm depois de chegados ao poleiro. Aliás, apercebi-me agora que na coligação o
CDS tem sido um exemplo perfeito do que é dar a outra face quando se é
ofendido. Um corolário que daqui se pode remover é que, embora o país possa ser
de maioria cristã, a sua (pseudo [um dias destes elaboro este pseudo]) democracia é comprovadamente secular, e os
seus cristãos melhores cristãos que os cristãos poderiam ser se seguissem à
letra a sua fé. Não deixa contudo de ser triste que os movimentos cristãos
zelotas recorram ao golpe baixo da chantagem psicológica para atingirem os seus
fins, como estes senhores que se predispõem a usar a peregrinação a Fátima para recolher assinaturas para um pedido de um referendo ao aborto, estranhamente à eutanásia (quem me dera, pois acho que lhes saía o tiro pela culatra), e provavelmente agora a esta questão dos direitos dos homossexuais, questionando os “fiéis” quão “bons cristãos” são! Dá-me asco, sinceramente. É que isto
é forçar uma reacção desejada sem oferecer qualquer argumento lógico ou racional, sem debate, só
pela chantagem propagandista. É também armarem-se em deuses eles próprios ou no mínimo
investirem-se de poder divino, pois não ouvi o Papa em Roma a pedir que assinassem essa petição... or else. Mas enfim, “olha, são coisas deles” (quem via o
Curto Circuito nos dias do Unas, percebe a piada)!
O problema é que os partidos de Deus na Europa não desistem, id est,
o CDS não está sozinho. Não se contentam em reinar dentro das igrejas e
catequeses, querem poder também no plano civil. Querem tornar a alegada
lei divina, lei civil.
Na França, a aprovação do casamento gay, gerou confrontos com manifestantes contra essa lei vindos da Direita:
Em Espanha, fizeram com que a Religião conte para a média escolar.
Mas mais ninguém vê o problema com isto?? Já
é mau o suficiente haver uma disciplina de Religião e Moral, como há em
Portugal (ou havia no meu tempo), que dá primazia a uma determinada
Religião (neste caso, a da Igreja Católica) perante todas as outras numa
cultura supostamente de estado laico e que defende a liberdade
religiosa num contexto de sociedade secular com pluralidade religiosa,
quanto mais fazê-la parte da avaliação duma criança!!! E se a criança
vier duma família cuja religião é outra? Agora temos cá cristãos
ortodoxos, evangelistas, muçulmanos, budistas, espíritas... ah sim, e
ateus! Como pode um estado secular proteger uma religião em detrimento
das outras? Não pode. Nem devia sequer de haver capelões no exército e
ainda bem que o Sócrates acabou com as isenções de impostos a padres. O
Estado não pode favorecer uma religião específica, porque senão teria
que dar o mesmo tratamento a todas as outras e torna-se incomportável. A
melhor maneira é não favorecer nenhuma. As ditas igrejas que se
amanhem. Os seus ensinamentos ficam para as igrejas e catequeses e
templos demais. Fora da escola pública.
E mais, chegam a estes extremos, a esta loucura, incapazes talvez de viverem num mundo de democracia e respeito pelos direitos humanos, ou incapazes de lidar com a inevitabilidade da mudança das vontades:
Dito isto, é bom ver que por todo
o mundo ultimamente se tem visto um ganhar de terreno em todas as frentes nos
direitos homossexuais e como tal, essa revolução, tal como a da emancipação das
mulheres, estará próxima de ficar concluída, no Ocidente. Deixo-vos alguns exemplos disso
mesmo:
Em Portugal:
Em França:
Inglaterra:
Mas é preciso reconhecer que há pessoas sensatas também na Direita (não especificamente cristã) e é minha convicção de que se houvesse mais liberdade de voto na AR, teríamos um país mais democrático e como tal mais justo.
Dito tudo isto, vou-vos só dar
uma perspectiva histórica e actual sobre o que se passou e passa com a
homossexualidade no Japão.
Na antiguidade japonesa, o termo
usado para designar gays era nanshoku (que também poderá ser lido, danshoku) e
que, etimologicamente, é gerado por dois caracteres: 男色. Literalmente falando o primeiro
caracter quer dizer “macho” e o segundo “cor”. Contudo, o caracter que designa
cor (色) ainda hoje é sinónimo de prazer sexual
tanto na China como no Japão. Um outro termo usado como sinónimo seria shudo (衆道, abreviado do termo
wakashudo, que se poderá traduzir para “a via dos rapazes adolescentes”).
Existe uma variedade de
referências literárias algo que obscuras que evidenciam actos homossexuais,
como por exemplo o romance Genji Monogatari (源氏物語, “O Conto de Genji”), oriundo do
Período Heian, sensivelmente séc. XI.
A sociedade medieval japonesa é
eximiamente estruturada em classes. Assim, na classe monástica, havia
relacionamentos homossexuais de género tipicamente pedófilo, ou seja entre um
adulto e alguém ainda não considerado adulto. Trata-se de relacionamentos,
dá-me a entender, muito parecidos com o que acontecia na Grécia Clássica, em
que o mestre mantinha uma relação homossexual com o aprendiz e isto estava
imiscuído no ensino. No caso japonês, a relação era dissolvida assim que o
aprendiz chegava à maioridade. Diz-se que, fora dos mosteiros, os monges
japoneses tinham preferência por prostitutos (kagema) e não prostitutas e que
isso era alvo de chacota social. Em termos religiosos, não havia oposição à
homossexualidade no Japão nas religiões não-budistas kami (quer dizer divindade
ou ídolo), mesmo na Era Tokugawa. De facto, um escritor dessa Era, chamado
Ihara Saikaku, especulou que uma vez que as primeiras gerações de deuses Shinto
eram todas masculinas, os próprios deuses tiveram de praticar o nanshoku por
falta de parceiros femininos, dando uma explicação religiosa para a existência
dessa prática (como diria o Hitchens, one never knows what the religious will
say next :). Algumas divindades Shinto eram protectoras dos gays. Na classe
guerreira (Samurai), havia a mesma relação professor-aluno que podia, caso
ambas as partes assim consentissem, ser homossexual, exactamente como na Grécia
de Alexandre o Grande. Essa relação tinha até uma formalização contratual
chamada contrato de irmandade e exigia exclusividade. Não podiam ter outros
parceiros masculinos. E enquanto o mentor ensinava o aprendiz nas variadas
artes marciais, etiqueta samurai e código de honra, o desejo do mais velho de
ser um bom exemplo a seguir para o seu pupilo levava-o a comportar-se de forma
mais honrosa. Assim sendo, a relação shudo era tida como uma relação de
engrandecimento mútuo. Depois, a relação ia para além disso, sendo que era
exigida uma lealdade até à morte de ambas as partes uma para com a outra, sendo
que quaisquer dividas de honra ou vinganças de um eram dos dois. Contudo, a
relação com mulheres não ficava restringida e assim que o aluno fosse maior de
idade poderiam ambos procurar outros parceiros homens se assim quisessem. O
nenja (tutor) era especificamente o activo nesta relação e o aluno o passivo,
numa respeitosa submissão. O papel passivo estava interditado aos homens
adultos nestas relações. Há um filme interessante sobre este tipo de relações
em contexto do Japão medieval e na classe guerreira que é o Gohatto (quer dizer
“tabu”). Quando o vi na RTP2, estranhei a leveza com que os mestres percebiam
que dois dos seus alunos estavam apaixonados. Se fosse na Europa era fogueiras
com eles, provavelmente. Na classe média, os actores e actrizes acabavam por
ter um segundo emprego na prostituição, sendo procurados por patronos ricos que
se tornavam nos seus mecenas a troco de favores sexuais. Contudo, durante muito
tempo, os prostitutos adultos não eram procurados por homens, enquanto as
prostitutas eram mesmo sendo adultas, devido a não ser bem visto pela sociedade
que um homem se deitasse com um outro sendo este maior de idade. Pelo século
XVII, eles terão resolvido este problema ocultando, até quando fisicamente
possível, a sua idade e, desde que as aparências (leia-se ilusão de juventude
por parte do prostituto) fossem mantidas, era na boa. Os mais procurados por
estes mecenas, tanto os femininos como os masculinos, eram os actores onnagata
(que faziam papel de mulher) e os wakashu-gata (que faziam papéis gay). Estes
actores eram muito retratados nas impressões nanshuko shunga (shunga quer dizer
“imagem de primavera”, 春画, e primavera é um eufemismo oriental para erotismo ou sexo),
cujo exemplo podem ver na imagem abaixo. Devo admitir que me ri da proximidade
da palavra shunga em termos sonoros da nossa palavra de calão chunga, significando (para os lusófonos não portugueses que possam não perceber) que é reles, que não presta, que é de mau gosto!
Para os dias de hoje, deixo-vos
com um testemunho dum imigrante brasileiro que vive no Japão que teve a bondade
de deixar este registo no youtube. A perspectiva que ele dá bate certo com o
que encontrei noutras fontes na Internet, pelo que dou-a por correcta e
objectiva. (ignorem o primeiro minuto e meio que é ele a desabafar a frustração
de pessoal que deixou comentários menos construtivos aos seus outros vídeos)
Relativamente a nomenclatura, ela
é hoje diferente e mais diversa. Existe a palavra doseiaisha (同性愛者, literalmente “pessoa
que ama o mesmo sexo”), que por razões óbvias dá título a este post. E depois a influências de culturas ocidentais, como gei
(ゲイ,
gay), homo(ホモ),
homosekusharu (ホモセクシャル,
homossexual), rezu (レズ,
les) e rezubian (レズビアン,
lésbica).
Como pode ser entendido no vídeo,
os gays japoneses não são legalmente reconhecidos, sendo que também não são
perseguidos pela lei. Fora algumas zonas mais metropolitanas como Tokyo ou
Osaka, onde já há gays fora do armário, a sua maioria ainda vive vidas dentro deste último. Há por exemplo um testemunho, dum casal de gays que até têm
alianças, mas que quando vão para os empregos a retiram e fingem ser heterossexuais
até voltarem a casa, por medo do que os colegas e patrões possam achar.
Só para terminar, nos dias de
hoje, segundo a Wikipédia, no Japão os homossexuais podem servir nas forças
armadas, pois embora ser gay não tenha estatuto legal, também não é activamente
contrariado ou proibido. Simplesmente é legalmente ignorado. Tive a curiosidade
de ir ver o que dizia sobre Portugal e fiquei orgulhoso de ler que em Portugal
os gays podem servir nas forças armadas como qualquer cidadão pois a nossa
Constituição proíbe descriminação sexual.
Mais uma vez me despeço com amizade e com renovada esperança na única coisa na qual tenho fé (não cega): a Humanidade.
Alex, signing off!
Adenda I: (16h49min TMG, 24/05/2013) Os escuteiros norte-americanos passam a aceitar jovens gay, mas não adultos
Adenda II: (1h32min TMG, 01/06/2013) Um ateu ironizando com a resistência religiosa à homossexualidade
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